Seminário

Preenchendo vazios: perda, guerra e trauma no testemunho do retorno

Elsa Peralta (CEC-FLUL)

24 de maio de 2017, 14h30

Sala 1, CES | Alta

Resumo

Como resultado da descolonização, estima-se que entre 500.000 e 800.000 colonos portugueses tenham abandonado a sua residência em África. Na sua maior parte, estas populações vêm para Portugal, embora outras possibilidades se tenham delineado, como a África do Sul ou o Brasil. Em Portugal foram nomeados ‘retornados’, um nome que adquire uma conotação pejorativa usado para identificar, e acusar, uma população colona, na sua maioria branca, subitamente deslocada devido ao colapso do sistema colonial de que era beneficiária.

Nesta apresentação a aoradora irá centrar-se nas narrativas de memória do retorno de África, detidas e transmitidas por aqueles que foram participantes neste evento histórico. Relatos testemunhais, juntamente com textos ficcionais, compõem um campo memorial no seio do qual a guerra, a violência, a perda e o trauma são expressos e internalizados na esfera social. Feitos de fragmentos frequentemente justapostos e não raras vezes contraditórios, estes testemunhos, longe de corresponderem à univocidade representada pela categoria ‘retornado’, comportam no seu seio muitas heterogeneidades, tal como heterogéneas são as pessoas integradas neste universo populacional.

Nota biográfica

Elsa Peralta é doutorada em Antropologia (ISCSP-UTL, 2006) e investigadora do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Portugal. O seu trabalho baseia-se em perspetivas cruzadas da antropologia, estudos de memória e estudos pós-coloniais e centra-se na intersecção entre os modos privados e públicos de recordação de eventos passados, nomeadamente dos passados coloniais. Foi investigadora de pós-doutoramento no Instituto de Ciências Sociais (ICS-UL), com um projeto de pesquisa sobre a memória e o esquecimento do império colonial português em Portugal pós-colonial. No CEC coordena o projeto Legados do Império e do Colonialismo em Perspetiva Comparada e trabalha no projeto Narrativas de perda, guerra e trauma: memória cultural e o fim do império Português. As suas obras incluem os volumes Heritage and Identity: Engagement and Demission in Contemporary Society, Routledge, 2009 (ed. com Marta Anico) e Cidade e Império: Dinâmicas coloniais e reconfigurações pós-coloniais, Edições 70, 2013 (org. com Nuno Domingos). Foi Curadora e Coordenadora Científica da Exposição Retornar – Traços de Memória, produzida pela EGEAC.

Organização: CROME - Memórias cruzadas, políticas do silêncio: as guerras coloniais e de libertação em tempos pós-coloniais e MEMOIRS - Filhos de Império e Pós-memórias Europeias (projetos ERC)