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Quais trabalhadores, quais mulheres, que interesses: raça, classe e género na África do Sul pós-apartheid
Shamim Meer - África do Sul

Sete anos após a eleição do primeiro governo democrático, a África do Sul não concretizou as promessas do manifesto eleitoral e carta do governo do ANC - o Programa de Reconstrução e Desenvolvimento. Isto sucedeu apesar da existência de fortes movimentos sociais que enfatizaram noções de democracia participativa e emancipação em lutas unidas contra a exploração económica e a opressão racial da vasta maioria dos sul-africanos negros. A política do governo pós-apartheid trouxe escassa mudança na situação da maioria dos sul-africanos: pobreza, carência habitacional, falta de emprego continuam sem diminuir e talvez até tenham mesmo piorado, dada a inclinação da política económica governamental para a competitividade nos mercados globais. As relações sociais inigualitárias herdadas dos dias do apartheid persistem no presente, com a pobreza e a desigualdade a assumirem uma forma racial, sexual e espacial.

A nova África do Sul é caracterizada por uma democracia formal legal que privilegia os mercados e o direito. O que está enviesado nesta abordagem é que o acesso aos mercados e ao direito é moldado pelas vantagens ou desvantagens em termos de raça, classe e género que os cidadãos carregam consigo desde o período do apartheid.

Este capítulo procura compreender o contexto presente. Aponta as limitações da transformação do apartheid para a democracia, dado que foi um resultado das negociações entre a velha ordem e os movimentos de libertação e dado o poderoso papel do capital nacional e internacional na modelagem dos resultados. Sublinha que os antes poderosos movimentos que pressionaram o Estado do apartheid foram marginalizados no decorrer das negociações e que na era pós-apartheid estes movimentos têm sido incapazes de pressionar o Estado de modo a fazê-lo agir no interesse da vasta maioria dos sul-africanos negros.

O capítulo defende que o relacionamento entre os movimentos e o novo Estado não foi problematizado, dado que se presumiu que, uma vez no governo, o movimento de libertação nacional do Congresso Nacional Africano (ANC) promoveria as políticas que o guiaram durante os anos da luta de libertação. A estratégia de fazer incluir na lista de parlamentares membros dos movimentos de libertação - sindicatos, Partido Comunista Sul Africano, organizações cívicas e movimentos de mulheres - não funcionou de molde a assegurar que os interesses dos pobres e das classes trabalhadoras seriam o centro da política governamental.

O capítulo procura perceber a relação dialéctica entre movimentos e Estado no período do apartheid, durante as negociações e na era pós-apartheid. Centra-se nos sindicatos e nas organizações de mulheres e aponta as fraquezas actuais dos movimentos. Defende que a esperança de emancipação social - a correcção dos contínuos desequilíbrios sociais, políticos e económicos na sociedade sul africana - reside na união de grupos da sociedade para a assunção das necessidades e interesses dos pobres, da classe trabalhadora e das mulheres e homens marginalizados.

 
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