Gender Workshop

Palavras de mulheres: árduas conquistas sobre estéticas de privação

Teresa Cunha (Escola Superior de Educação de Coimbra)

27 de outubro de 2011, 17h00

Sala 2, CES-Coimbra

Resumo

A pergunta de Gayatri Spivak continua a produzir ressonâncias e a requerer atenção epistemológica: pode a subalterna falar? Muitas feministas têm vindo a afirmar que sim: ela pode e fala. No entanto, atente-se a uma dificuldade primordial: por vezes, as gramáticas de quem ouve não entende o pronunciamento dela, mas decerto que fala. Em outros momentos a pesquisa feminista levanta outra questão: ela fala e alguém a ouve? Com certeza que há sempre um auditório para as falas e as vozes das mulheres. Contudo até que ponto essas subjectividades narradas, ditas, declaradas através das variações e particularidades dos seus alinhamentos de palavras e textos são agências estruturantes ou, por outras palavras, podem ser entendidas como desconstruções activas dos centros, ou ainda: criadoras de múltiplas centralidades.

Nesta oficina propõe-se analisar e discutir dois textos distintos mas que fornecem a este debate feminista a possibilidade de se questionar a si mesmo em diferentes momentos e alimentar epistemologias críticas. O primeiro texto, de Belinda Bozzoli, ‘Introduction: oral history, consciousness, and gender’, retirado do livro Women of Phokeng. Consciousness, life strategy, and migrancy in South-Africa, 1900-1983, coloca-nos perante o seguinte questionamento: o que acontece às subjectividades femininas quando oprimidas, silenciadas, marginalizadas em contextos de extremo desequilíbrio entre a estrutura que sobre determina e a agência que resiste? Será que a subjectividade da subalterna ainda consegue falar? Como e onde? Podem estas subjectividades e as suas palavras, tão escassamente conhecidas e reconhecidas, serem portadoras de energia e vigor  feminista?

O segundo texto que se propõe estudar e discutir emerge de outro olhar disciplinar e é da autoria de Laura Cavalcante Padilha, ‘Silêncios rompidos’, um capítulo do livro Novos pactos, outras ficções: ensaios sobre literaturas afro-luso-brasileiras. Com ele analisa-se a possibilidade de as palavras das mulheres pronunciadas e escritas, ainda que num contexto de profundo silenciamento porque duplamente colonial  - uma metrópole que ocupa a terra e o homem que ocupa a mulher -  serem, além de rompimentos do silêncio, energia, vigor e poder de descolonização do pensamento. Essas textualidades trazidas por mulheres são performances, são outras autorias, que ocupam e recriam epistemologicamente a história sobre si e sobre o mundo.


Nota biográfica

Teresa Cunha é professora na Escola Superior de Educação de Coimbra e doutorada em sociologia pela Universidade de Coimbra. Interessa-se pelo tema da  economia política feminista pós-colonial.


ARTIGOS EM DISCUSSÃO:
- Bozzoli, Belinda (1991), “Introduction: oral history, consciousness, and gender”, in  Belinda Bozzoli, Women of Phokeng. Consciousness, life strategy, and migrancy in South-Africa, 1900-1983". London: James Curry Ltd, 1 – 15.

- Padilha, Laura Cavalcanti (2002), "Silêncios rompidos" in Laura Cavalcanti Padilha, Novos pactos, outras ficções: ensaios sobre literaturas afro-luso-brasileiras. Novo Imbondeiro, 157-172.


Organização: Gisele Wolkoff, Júlia Garraio (NHUMEP) e Mihaela Mihai (DECIDe).
 

Nota: «Gender Workshop Series» é um espaço de discussão em torno de um ou dois textos sobre género que se realiza uma vez por mês.