Oficina

Black Bloc Brasil e formação de redes de jovens de resistência

Giuseppa Spenillo (CES)

26 de janeiro de 2015, 15h00

Sala 2, CES-Coimbra

Apresentação

As lutas sociais recentes apresentam duas singularidades: 1) surgem de mobilizações entre jovens estabelecidos dentro do sistema-mundo que ocupam cenários urbanos para expressar insatisfações e revoltas; 2) são criminalizadas por seus iguais – outros jovens ou integrantes das mesmas classes sociais. Tais lutas vêm se colocando nos espaços públicos e desenvolvendo uma presença coletiva que visa problematizar as novas dinâmicas trazidas pelos usos dos medias digitais, pelas globalizações econômicas e pela consolidação de regimes democráticos representativos. Exigem mudanças nos formatos políticos, econômicos e sociais vigentes, a partir de cenários confusos e em disputas que se fazem tanto pela via da regulação como da violência [Santos, 2010]. E são criminalizadas em discursos institucionalizados em grandes veículos de comunicação, em portais de internet, em blogs e artigos assinados; mas também em comentários de leitores e seguidores dos referidos medias, de modo desorganizado, descuidado e inconseqüente.

Recentemente, lutas pautadas sob táticas de choque, como as acionadas pelos Black Blocs, buscam reequilibrar relações de poder, questionando normas que facultam ou não acesso aos indivíduos, criam formas de diferenciação e estruturam desigualdades. No entanto, a via da violência acirra os ânimos nas inter-relações sociais e abre espaço para apropriações sutis como as praticadas pelas empresas de multimídia com onipresença em instâncias públicas e privadas no mundo atual. Os Black Blocs são estratégias de ação em redes fluídas e de laços pouco estreitos que surgiram nos cenários mundiais na década de 1980, primeiro, como táticas de proteção nos movimentos ambientalistas na Alemanha e, depois, em movimentos de ataque nos Estados Unidos da América [Dupuis-Déri, 2010]. Em ambas as vertentes, a ação direta para enfrentamento dos poderes legítimos de repressão (polícia) e opressão (mercado) é a marca de atuação.

O Black Bloc Brasil, como rede de mobilização e lutas sociais, aparece no cenário nacional e ganha visibilidade, a partir dos eventos que marcam a pré-Copa do Mundo em 2014. Nomeadamente, na Copa das Confederações, em junho de 2013, os black blocs tomaram as ruas de várias cidades brasileiras a partir de mobilizações iniciadas através de redes virtuais como o facebook e o twitter, recompondo as estratégias de mobilização e organização da luta social – em crises constantes desde a grande estratégia das greves de massas inaugurada pelos anarquistas nos movimentos sindicais do século XIX.

Pretendemos, neste Seminário, colocar em debate as questões pautadas pelo fenômeno black-bloc-brasil, tanto no sentido da ação direta e da mobilização a partir de suportes virtuais, como no sentido da aceitação/rejeição de tais lutas e das bandeiras levantadas pelos jovens brasileiros pela opinião pública expressa nos media. Buscamos revolver a temática dos black bloc para esgarçar questões estruturais da desigualdade social no Brasil manifesta em categorias como classe, faixa etária, escolaridade e etnia/moradia. Trazemos, por fim, para discussão as condições e possibilidades de produção de conhecimentos sobre jovens, com jovens e de jovens.
 

Nota biográfica
Giuseppa Maria Daniel Spenillo
, doutora em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Agricultura (CPDA/UFRRJ). Professora do Departamento de Ciências Sociais da UFRPE. Coordenadora (2008-2013) do Bacharelado em Ciências Sociais/UFRPE. Docente do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (POSMEX/UFRPE). Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Comunicação, direitos, cidadania e mudanças sociais (COMUDI), certificado no CNPq. Investigadora em Pós-Doutoramento no CES/UC com a temática Juventudes, tecnologias digitais e emancipação.


Atividade de no âmbito do Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito (DECIDe)