Gender workshop

Amores políticos e políticas situadas

Daniel Cardoso (FCSH-UNL / U. Lusófona)

30 de março de 2017, 17h00

Sala 2, CES-Coimbra

Resumo

Este workshop tem como objectivo pensar as não-monogamias consensuais (NMCs) enquanto práticas sociais e políticas associadas à cidadania íntima (Plummer, 1994), e portanto com implicações para o activismo e participação cívica em movimentos sociais (Della Porta & Diani, 2006, p. 20) e também para o subactivismo (Bakardjieva, 2009). No entanto, e particularmente nos últimos dez anos, estas questões têm lentamente penetrado a esfera da política formal, como é possível ver pela recente decisão do Supremo Tribunal do Canadá (Rambukkana, 2015), pelo surgimento de “uniões poliafetivas” no Brasil (Sá & Viecili, 2014) e respectivo trabalho académico dentro da área do Direito (Santiago, 2015), bem como por análises que procuram estrategicamente equiparar a ideia de orientação sexual de forma a abranger elementos como o poliamor, de maneira a utilizar a legislação já em vigor (Tweedy, 2011). De resto, tanto na literatura académica (Ashbee, 2007; Aviram, 2008; Black, 2006; Emens, 2004; Ertman, 2005; Myers, 2009), como nas práticas e atitudes registadas junto de activistas (Aviram, 2005; Aviram & Leachman, 2015), se notam paralelismos entre o movimento a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, e a criação da figura de um ‘casamento poliamoroso’.

Esta abordagem pretende problematizar a monogamia enquanto parte do Círculo Encantado (Rubin, 2007) patriarcal e parte da constituição do Estado capitalista contemporâneo (Engels, 1986), como uma estrutura histórica, económica e política que tem sido repetidamente sujeita a críticas feministas (e.g.: Rosa, 1994), da teoria anarquista queer (e.g.: Heckert, 2010) e pós-colonial. O objectivo será fazer uma leitura crítica à forma como o argumento da igualdade de género é usado para combater a diversidade relacional (Cardoso, 2014), sem porém assumir que as NMCs são intrinsecamente emancipatórias (Wilkinson, 2010), e procurar especular sobre possíveis estratégias políticas futuras.
 

Leituras Recomendadas:
Rosa, Becky (1994). “Anti-Monogamy: A Radical Challenge to Compulsory Heterosexuality?” in G. Griffin, M. Hester, S. Rai, & S. Roseneil (Eds.), Stirring it: Challenges for feminism. London: Taylor & Francis, 107-120.

[Para ter acesso ao artigo em discussão deverá enviar um e-mail para gw@ces.uc.pt]

 

Nota biográfica

Daniel Cardoso 
é Doutorado pela FCSH-UNL, com bolsa da FCT, em Ciências da Comunicação. A sua tese de doutoramento é sobre os usos dos novos media no contexto íntimo e sexual das vidas de jovens em Portugal. Integra a equipa do EU Kids Online Portugal desde 2007. É professor assistente na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias desde 2010, e leccionou ou lecciona nos cursos de Engenharia Informática, Informática de Gestão, Comunicação e Jornalismo e Ciências da Comunicação e da Cultura. É professor auxiliar convidado na FCSH-UNL, onde lecciona Comunicação e Ciências

Sociais. É frequentemente convidado a dinamizar aulas em seminários de Mestrado na FCSHUNL e no ISCTE, bem como outras masterclasses, e já dinamizou vários workshops sobre literacia digital e jovens junto da Rede de Bibliotecas Escolares e da FDTI, e sobre métodos de pesquisa e investigação.

Foi bolseiro de investigação num projecto sobre a Censura durante o Estado Novo, e num projecto sobre a representação discursiva da mulher em revistas femininas e masculinas portuguesas. Foi co-investigador num estudo de caso sobre implementação de novas tecnologias em espaço escolar sob encomenda da Portugal Telecom; e num projecto de investigação-acção dinamizado pela Associação para o Planeamento da Família, com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, sobre o uso de novas tecnologias para a capacitação de jovens em situação de vulnerabilidade social na área dos direitos sexuais.

É consultor do projecto de investigação INTIMATE, do Centro de Estudos Sociais – Coimbra, financiado pelo European Research Council.

O seu trabalho académico, artístico e de activismo pode ser consultado em www.danielscardoso.net