Debate

«É preciso defender a identidade»: religião e neonacionalismos   

António Araújo

José Neves

23 de maio de 2017, 18h00

Auditório 3, Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa)

Resumo

Na Europa, o Cristianismo é invocado, paradoxalmente, muitas vezes pelas próprias estruturas políticas (recorde-se os discursos do primeiro-ministro húngaro ou de instâncias governamentais na Polónia) como um instrumento para introduzir linhas de divisão abissais entre “nós” (Europa) e os outros (refugiados, migrantes). Por outro lado, o Cristianismo e o Islão são também invocados por aqueles que consideram ser parte integrante da Europa o acolhimento do outro: recorde-se como Donald Tusk reagiu às declarações de exclusão de refugiados não-cristãos, proferidas por Orbán, dizendo que é precisamente por ser cristão que considera ser dever da Europa abrir-se ao outro. E tenha-se em conta, por exemplo, as campanhas (pouco noticiadas nos media) de europeus islâmicos, sobretudo na Grã-Bretanha, cujo slogan, reagindo a atentados que invocam o Islão, se condensa na frase: “not in my name”.

Por outro lado, a evocação do “progresso das Luzes” e dos direitos humanos para legitimar ingerências militares com motivações geopolíticas e económicas é uma realidade conhecida. Neste caso, a novidade está na instrumentalização de valores emancipatórios pela lógica policial do “il faut défendre la société”, analisada pelo filósofo Michel Foucault. Nesta nova versão da defesa social, que se traduz agora num “il faut défendre l’identité”, o Estado  afirma que o ataque à nossa identidade deve mobilizar uma intervenção policial.
O fechamento de cada cultura no seu próprio espaço, real ou imaginário, um imaginário que se tornou realidade nos anos 20 e 30 do século passado, com efeitos devastadores e cuja memória não poderemos apagar, constitui um pesadelo irrepetível?

Intervenções de António Araújo (historiador e constitucionalista, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) e José Neves (historiador, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) 

Apresentação: Tiago Pires Marques (CES) | Moderação: Júlia Garraio (CES)

1.º debate do Ciclo de Debates «Religião, nacionalismo, neofascismos», organizado pelo Observatório da Religião no Espaço Público (POLICREDOS)


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