Seminário

A violência do encontro colonial: procurando alternativas para uma democratização profunda da história

Ana Paula Tavares

Camilo de Sousa

Maria Paula Meneses

Miguel Bandeira Jerónimo

18 de janeiro de 2018, 14h30

Sala 1, CES | Alta

Resumo

Esta oficina realiza-se no âmbito do ALICE, programa de investigação-ação que tem como um dos eixos principais provincializar o conhecimento e, em paralelo, reconhecer as complexas interconexões históricas forjadas através dos processos coloniais de dominação e subordinação. É nosso objetivo discutir em diálogo, a partir de contribuições dos intervenientes, as histórias mais amplas do colonialismo, como forma de se compreender melhor as suas múltiplas metamorfoses históricas do colonialismo e os seus usos políticos contemporâneos.

A colonização é sinónimo de violência. Esta brutalidade, escalpelizada de forma radical por Aimé Cesaire, assenta na redução do outro a uma coisa, a um não-ser, alguém com potencial para ser humano, se convertido e domesticado, pela educação e pelo trabalho, como lembram as leis e análises produzidas em Portugal, no início do século XX, que perduraram até ao fim do império colonial. Nesta sequência, um dos elementos que caracteriza a moderna colonização é a implantação de uma divisão abissal entre o “espaço metropolitano” – o espaço do poder, e o espaço colonial; a história do espaço colonial vai ser essencialmente escrita a partir de perspetivas imperiais, reflexo do conhecimento imperial metropolitano, com todas as suas limitações. A consequência desta violenta fractura epistemológica, que continua a precisar de ser mais rigorosamente estudada, é a constituição de uma “biblioteca colonial”, cujos saberes continuam ainda profundamente entrincheirados em muitas narrativas contemporâneas. Os contextos históricos, sociais e políticos da produção da “biblioteca colonial” são obscurecidos ou ignorados. Mais, vários autores tomam o projeto colonial e os saberes por este produzido como referentes ideais de governação.

Por isso, é difícil conhecer o colonialismo enquanto projeto político sem nos dedicarmos à análise dos contextos e instrumentos da sua aplicação, e sem identificarmos e questionarmos a permanência das suas latências para lá das independências políticas. Nos últimos anos, quer em discursos políticos – por exemplo, os discursos de Sarkozy em Dakar ou de Marcelo Rebello de Sousa em Gorée – quer em publicações académicas, vários são os episódios em que se tem procurado justificar as vantagens do colonialismo para os povos africanos, ou as putativas desvantagens do fim da relação colonial. Mais recentemente, um artigo de um académico norte americano, Bruce Gilley, suscitou um mal-estar profundo ao defender, num artigo publicado numa prestigiada revista académica, de cariz progressista, o reabilitar da “missão positiva” do empreendimento colonial, como solução para os chamados ditos “estados falhados” do nosso tempo.

Com contributos de Ana Paula Tavares, Camilo de SousaMiguel Bandeira Jerónimo e Maria Paula Meneses.


Esta atividade integra-se no Ciclo de Seminários «Oficinas das Epistemologias do Sul», que decorre entre outubro de 2017 e junho de 2018