Seminário

Estratégias de ativação e desativação da clivagem religiosa em Portugal - 1974-2008

João Condinho Vargas (Departamento de Ciências Sociais, Jurídicas e do Território, Universidade de Aveiro)

18 de janeiro de 2012, 17h00

Sala 2, CES_Coimbra

Resumo

Esta comunicação pretende explicar como e porquê as clivagens religiosas têm sido ativadas e desativadas pelos partidos políticos, desde a transição para a democracia até 2008. O caso português pode emergir como um indicador do impacto dos líderes e das estratégias partidárias nas preferências políticas mais vastas e na explicação da ausência de uma polarização religiosa numa sociedade onde as práticas religiosas permanecem elevadas e onde as instituições religiosas, em particular, a Igreja Católica, permaneceu influente. O processo de democratização português afetou a capacidade de os políticos portugueses influenciarem a estrutura do comportamento político (Gunther and Montero: 2001) e a primazia da "questão do regime" conduziu os líderes políticos a moderar a polarização religiosa.

Os líderes políticos desativaram questões quando o sistema partidário foi criado, mas quando os líderes partidários perceberam as vantagens eleitorais, os aspetos religiosos tenderam a ser politizados. Em 1997 e em 2007, a lei da liberalização do aborto desencadeou a clivagem religiosa, tendo impacto no voto religioso nas eleições e revertendo parcialmente o padrão de desativação que caracteriza o período de consolidação. Com base numa abordagem  voluntária em teoria das clivagens políticas (Sartori: 1968; Pzerworski and Sprague: 1986; Kalyvas: 1995; Enyedi: 2008), argumentamos que os partidos políticos são primeiramente responsáveis, através do controlo da agenda política, por colocar a religião e os assuntos morais no centro do debate público, dando-lhe ou não relevância política.

Esta comunicação recreará as estratégias políticas para as questões religiosas, como o aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e tentar perceber se os partidos políticos têm realmente motivos para politizar o aborto ou o casamento homossexual, percebendo os ganhos eleitorais dessa ativação; se reflete meramente as posições ideológicas; ou se estão a explorar novos terrenos, tentando alcançar um "demand side" não correspondido. Uma abordagem de um processo de rastreio será seguido e os dados dos partidos políticos analisados (manifestos, declarações oficiais, minutas dos encontros dos comités e propostas dos congressos dos partidos) bem como entrevistas a líderes políticos e eclesiásticos.


Nota biográfica

Bolseiro de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) na Universidade de Aveiro com a tese: “Estratégias de Activação e Desativação da Clivagem Religiosa em Portugal e em perspetiva comparada: 1974-2008” sob orientação do Professor Doutor Carlos Jalali. Licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa, Assistente de investigação do Projeto “Debates Parlamentares sobre Economia e Finanças: 1820-1910” no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG-UTL) sob coordenação do Professor Doutor José Luís Cardoso; Consultor da  Sociedade Portuguesa de Inovação.


Comentadoras: Teresa Toldy (CES) e Júlia Garraio (CES)

Área Científica: Ciência  Política, Política Comparada