Racismo e Pós-racismo

 

Data: 10 e 11 de Novembro de 2006

Coordenadores: Maria Paula Meneses, Marta Araújo e Nilma Gomes

Duração: 12 horas

Objectivos:
A partir de uma reflexão sobre as práticas que, diariamente, reproduzem concepções estereotipadas sobre os outros, este curso procura reflectir sobre as implicações da permanência do discurso racista nas sociedades contemporâneas. Partindo de alguns casos de estudo, este curso procura interrogar, a partir da construção social da noção de ‘raça’, as lógicas de dominação que este discurso continua a legitimar. Neste sentido, o objectivo principal deste curso é o de problematizar a não-discussão deste tema, ao mesmo tempo que procura identificar possibilidade de produção de práticas e de glossários alternativos que permitam ultrapassar o recurso persistente à discriminação como prática de poder. É igualmente objectivo do curso alargar o debate à análise crítica de outras categorias classificatórias, centrais à estruturação de processos identitários contemporâneos, como sendo as noções de ‘etnia’, ‘grupo cultural’, ‘grupo religioso’, etc.

Destinatários:
Dirigentes de associações estudantis; membros de ONGs e de movimentos sociais envolvidos com a temática da migração, da discriminação e da exclusão; estudantes, jovens e demais cidadãos que queiram desenvolverem conhecimentos sobre os problemas sociais e políticos do tempo presente.

Conteúdos:

Dia 10: das 10h às 13h – O artifício da ciência: as construções sociais da alteridade
Formadora: Maria Paula Meneses

A partir da análise crítica dos processos que resultaram na emergência de uma concepção de África como os antípodas da idade moderna no séc. XIX, procuraremos situar os principais momentos da construção de um sistema político – a modernidade - assente numa articulação coesa dos princípios da desigualdade e da exclusão. A política colonial produziu saberes locais, quer em termos territoriais, quer raciais. Procurar entender a construção política da desigualdade significa pois questionar o conhecimento enquanto forma de poder. Para tal, num primeiro momento procurar-se-á analisar como a imagem de África é (re)produzida, examinando criticamente a persistência de perspectivas que insistem na (re)produção de noções generalistas, estereotipadas, abrangentes e sistemáticas que perduram e são actualizadas a partir de referentes já constituídos do pensamento racionalista ocidental.
Na situação colonial africana, a dominação foi imposta por uma minoria forânea, em nome duma superioridade étnica e cultural dogmaticamente afirmada, a uma maioria autóctone. Num segundo momento pretende-se estudar as implicações geo-políticas geradas pelo encontro colonial. A partir de uma análise da realidade da costa oriental africana, pretendemos discutir criticamente, e numa perspectiva pós-colonial, as construções sociais de raça e etnia, pretendendo ver como estas foram e continuam a ser utilizadas ‘por cima’ (pelas elites políticas) e por baixo (pelos diferentes movimentos de resistências).

Dia 10: das 15h às 18h - O racismo e a discriminação nas relações sociais na escola
Formadora: Marta Araújo

Este seminário incide sobre o contexto português, particularmente sobre as relações sociais entre alunos e entre alunos e professores e como estas são mediadas pelo racismo e outras formas de exclusão. Procuraremos ilustrar a persistência de discursos sobre ‘raça’ e racismo no quotidiano, apesar da prevalência de discursos oficiais que desracializam ilegitimamente as relações sociais, e explorar a forma como estes se articulam com práticas geradoras de desigualdades raciais e culturais. Para tal, será proposta uma abordagem crítica que desloca o racismo para o ‘centro’ das relações sociais, questiona conceitos como neutralidade e mérito, e advoga a centralidade da experiência. O debate será promovido a partir de dados empíricos de um caso de estudo.

Dia 11: das 10h às 13h – O racismo e o anti-racismo na formação de professoras/es. Uma experiência a partir do Brasil
Formadora: Nilma Gomes

O Brasil costuma ser conhecido (e gosta de se dar a conhecer)  como o país da democracia racial. No entanto, no cotidiano brasileiro, o racismo e a desigualdade racial incidem de maneira contundente na vida, na trajetória social e escolar da população negra. Essa situação é denunciada pelo Movimento Negro brasileiro que, na sua luta anti-racista, realiza várias intervenções com o objetivo de desvelar, denunciar e superar o racismo. A educação escolar é um dos campos em que o imaginário racista tem se propagado. Por isso, ela tem sido, historicamente, um foco central da ação do Movimento Negro, o qual tem construído projetos e práticas educativas emancipatórios voltados para um trabalho que valorize a diversidade étnico-racial. A partir dos anos 2000, tais iniciativas têm conseguido ganhar espaço nas políticas educacionais em nível federal, estadual e municipal. Trata-se de um processo complexo, com várias possibilidades e limites. Por isso, o início do terceiro milênio pode ser considerado como um momento de avanços no campo da educação para a diversidade étnico-racial no Brasil como, por exemplo, a revisão de manuais didáticos, a produção de material paradidático e a lei 10.639/03 que torna obrigatório o ensino de história da África e da Cultura Afro-brasileira nos currículos das escolas públicas e particulares da educação básica. É nesse contexto que a formação de professoras/es assume um lugar central e, por isso, torna-se um importante campo de atuação profissional e de produção teórica.

Dia 11: das 15h às 18h – Mesa redonda de debate com todos os participantes

Inscrições (máx. 30 pessoas): Tel. 239 855 570; e-mail: ces@ces.uc.pt

Local de funcionamento: CES – Colégio de S. Jerónimo, Largo D. Dinis – Coimbra (2º Piso)
(Entrada junto ao Posto de Turismo ao cimo das escadas Monumentais – o CES fica ao lado da agência da CGD)

Prazo de inscrição: 05 de Novembro

Preço: Estudantes e desempregados: 25 Euros; Outros: 50 Euros

Serão distribuidos materiais de apoio. Igualmente, a partir de 01 de Novembro grande parte dos materiais de apoio estará disponível on-line, em endereço a anunciar após a inscrição. No final do curso será entregue um certificado de frequência.