Sindicalismo e conflitualidade
Publicado no Jornal Sexta em 7 de Março de 2008
Perante as profundas mudanças que vêm ocorrendo no
mundo do trabalho (fragmentação, flexibilização, precariedade, etc),
num contexto geral de desfiliação e individualismo, o movimento
sindical vem enfrentando crescentes dificuldades.
Enquanto o
capital opera numa escala global, os sindicatos habituaram-se a agir
numa lógica nacional ou sectorial (por vezes corporativa) da qual
precisam de sair. Historicamente, o sindicalismo foi o grande movimento
da sociedade industrial, mas hoje continua amarrado a esse modelo e não
se adaptou às exigências da sociedade pós-industrial da era da
globalização. Precisa de alianças com novas formas de acção colectiva.
Os novos movimentos sociais, por exemplo – embora menos estruturados e
mais voláteis – são experiências de grande criatividade e impacto, em
especial no uso que fazem das novas tecnologias e meios
comunicacionais.
No pós-25 de Abril de 1974 a mobilização
dos trabalhadores foi excepcional mas idealista e romântica. A partir
de então a concertação social favoreceu a institucionalização dos
sindicatos e os seus dirigentes foram-se afastando das bases. Hoje,
porém, com a intensificação da precariedade e do individualismo, tende
a crescer a desconfiança em relação à classe política e aos sindicatos,
principalmente entre os sectores mais precários (e mais jovens), devido
também ao clima de pressão e autoritarismo empresarial que se instalou.
Em
relação à CGTP, a influência do PCP tem de facto servido de travão à
renovação, mas a sua posição dominante na central beneficia do escasso
envolvimento de outras forças partidárias. E é óbvio que a renovação
não está no BI mas sim no diagnóstico, no discurso e nas práticas.
Requer a reinvenção das formas de acção e de articulação com os
sectores do chamado sub-emprego ou empregos atípicos e com outros
movimentos sociais.
Na actual conjuntura é visível o
divórcio entre o Governo e o eleitorado (que lhe deu a maioria). A sua
fraca sensibilidade social, o défice de diálogo com os sindicatos, a
estagnação económica com a crescente perda de poder de compra, o
bloqueio das carreiras, o agravamento das desigualdades sociais, etc,
conduziram ao enquistamento social e despoletaram a onda de contestação
em curso. Importa, portanto, não confundir estas grandes manifestações
com manipulações político-partidárias. São protestos que traduzem um
real descontentamento das pessoas e uma incapacidade do Governo para
conquistar para as reformas os sectores sociais por elas atingidos (e
que deveriam ser os seus protagonistas). As mudanças impostas em
sectores como a Saúde e a Educação – desde logo, na forma – fazem tábua
rasa à prática de diálogo e negociação que é apanágio da esquerda e do
PS. Há uma postura anti-sindical por parte deste Governo, o que só
contribui para agudizar os conflitos laborais.
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