Opinião | |||
Elísio Estanque |
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PS - a mudança necessária Se é certo que uma parte dos motivos geradores dessa indiferença se deve às tendências sociais mais vastas – numa sociedade cada vez mais sujeita às pressões do consumo e do mercado, e em que os indivíduos se sentem cada vez mais desmotivados e desinteressados da actividade política, refugiando-se na esfera privada e familiar –, também é verdade que a chamada "classe política", os dirigentes partidários têm responsabilidades maiores nesta matéria. Criou-se a ideia entre a população de que os cargos públicos se destinam sobretudo a satisfazer os interesses pessoais de quem os ocupa. Ao contrário de outras eras, em que ser político significava dedicação à causa pública, capacidade de pensar e promover a mudança e o bem-estar colectivo, hoje, ser político passou a significar ser "medíocre", querer "tacho" e desejo de protagonismo. As razões disso são muito diversas e complexas. As mais profundas radicam, em última instância na sociedade, na cultura e na mentalidade. Mas é inegável que os próprios políticos e dirigentes têm aí responsabilidades particulares, desde logo, porque só eles próprios podem contribuir para mudar as mentalidades (sobretudo enquanto ocupam o poder). Vem isto a propósito das eleições distritais do PS. É, desde logo, curioso e sintomático que apenas em quatro federações distritais existam mais do que uma lista candidata à liderança da federação. Isto diz muito do défice de debate e até de democraticidade interna do PS. Quanto ao debate de ideias, não há muito a dizer. Todos sabemos o marasmo que reina no partido, em particular nas suas estruturas concelhias e distritais. As reuniões são em boa parte dos casos ocupadas com os próprios dirigentes a fazerem o seu permanente auto-elogio e a diabolizar os potenciais adversários internos. E quanto à democraticidade, num partido que tanto exalta (e bem) o pluralismo, a liberdade e a diversidade de opiniões, não se pode deixar de considerar estranho tão flagrante escassez de candidaturas de "oposição" interna. Porque é que isso acontece? Em primeiro lugar porque, infelizmente, se instalou a ideia de uma falsa união em torno do "líder" (com aspas), a qual espelha a confusão existente entre aceitação e consenso, entre diversidade e divisão, entre lealdade e seguidismo. Já escrevi antes sobre isto, mas vale a pena insistir: só há verdadeira unidade se ela for forjada a partir da diferença; só há democracia efectiva se houver debate aberto; só há consenso se a divergência conduzir à convergência (através do debate, claro). Em segundo lugar porque, em vez do confronto de ideias e de propostas exige-se a todo o custo um pseudo unanimismo construído na base da bajulação do poder. Estando o partido no poder, os dirigentes em exercício retiram dai vantagens para se perpetuarem nos seus lugares, através da distribuição de benesses diversas, ou movendo formas de pressão, directas e indirectas, para descredibilizar qualquer opositor. O apoio ao líder no poder seria normal se ele resultasse da sintonia de convicções políticas ou do reconhecimento da obra feita, mas em muitos casos (e Coimbra é um deles) resulta, sim, das dependências criadas, recorrendo às mais torpes chantagens e ameaças dos dirigentes sobre os seus pretensos apoiantes, de quem se julgam donos (dos votos e até das consciências). Só se compreende tão escassa disputa interna porque muitos quadros e militantes capazes receiam sujar o seu nome ao verem-se objecto deste tipo manobras e de intriguismo de baixo nível. Ainda bem que em Coimbra foi possível resistir a isso e haver uma candidatura de mudança. É, pois, chegado o momento de dizer basta de caciquismo! Basta de manobras baixas! É tempo dos militantes do PS mostrarem que ninguém manda na sua consciência! É tempo de devolver o partido às bases! É tempo de mudança na distrital de Coimbra! |