Memória, Violência e Identidade: Novas Perspectivas Comparadas Sobre o Modernismo


Resumo:

Este projecto pretende contribuir para o estudo desse período do início do século XX, caracterizado por transformações radicais nas ciências, política, costumes sociais, literatura e arte, e em geral designado por "modernismo". Embora o objecto da pesquisa seja "a literatura", Já que o corpus de análise se reivindica sobretudo das belles lettres, o âmbito do projecto é concebido de forma mais ampla e os seus objectivos transcendem a crítica e apreciação literárias tradicionais. Os cinco investigadores aqui reunidos debruçam-se sobre diferentes formas e temáticas da literatura do modernismo na Europa e nas Américas. Une-os, porém, um conjunto de tópicos (memória, identidade, raça, nação, violência, o corpo, o sexo, a sexualidade, a fronteira e a liminaridade) que interrogam, cultural e sociologicamente, a investigação literária e as noções de modernismo convencionais. A originalidade da abordagem geral depende da perspectiva comparada e interdisciplinar que preside a cada um dos sub-projectos; da inclusão de modernismos canónicos e não canónicos; da adopção de conceitos operativos relacionados com a liminaridade ("além", "ponte", "passagem", "mediação", "fronteira", "janela", "limiar'); de uma articulação forte com o modernismo e a sociedade e a cultura portugueses. Os projectos Individuais ocupam-se 1. da construção poética do sexo e sexualidade do sujeito da nação no modernismo português e americano (Ramalho); 2. da violência e poética da memória no modernismo austríaco e português (Ribeiro); 3. do papel da raça; da etnicidade e da resistência linguística no modernismo afro-americano e na escrita africana contemporânea de expressão lusófona e anglófona (Caldeira); 4. da memória nacional e sua repressão no modernismo americano, português e brasileiro (Canela); 5. da metáfora da janela e da liminaridade no modernismo português, Irlandês e americano (Pinto-Basto).

Em todos os sub-projectos a questão central da mediação da identidade (individual ou colectiva) para uma nova compreensão da construção social e literária do modernismo relaciona o conceito de memória com outros conceitos (nação, raça, diferença sexual) que o projecto no seu todo se preocupa em redefinir. A mesma questão de mediação e identidade é de igual modo articulada com a relação subtil entre cultura e violência. Os cinco estudos de caso, de orientações interdisciplinares e comparativas específicos, estão concebidos de molde a abordar estes problemas e a explorar os locais de liminaridade e ambiguidade na escrita modernista que caracterizam o processo complexo de transformação e reposicionamento culturais identificadores do modernismo como um novo paradigma.

Embora o projecto no seu todo lance uma nova luz sobre os autores tratados nos cinco sub-projectos (e.g Pessoa, Almada, Sá-Carneiro, Lisboa; Eliot, Pound, Crane, H. D.; Kraus, Hofmannsthal; Du Bois, Locke; Pepetela, Mia Couto; Oswald de Andrade, Mário de Andrade; Joyce, Fitzgerald), o seu objectivo principal é o apuramento do enquadramento teórico e aparelho metodológico interdisciplinares e comparativos que presidem à sua concepção. Por fim, é de esperar que o projecto, uma vez completado e publicados os seus resultados, contribua significativamente para dar a visibilidade desejada a modernismos (como o português, o brasileiro ou o afro-americano) que têm estado em larga medida ausentes dos mapas do modernismo ocidental traçados pela corrente principal da hegemonia cultural anglófona.

 

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