Oficina de Poesia
 
 


n.0 - 2ª série

Data de Publicação: Março 2002

 
Versão PDF

Editorial

Cerca de seis anos já passados depois daquele primeiro pequeno grupo de alunos me desafiar, parece-me quase impossível que aquelas duas horas semanais de fim do dia, em que aceitei (des)coordenar uma reflexão conjunta sobre a poesia, tenham sido capazes de produzir um Curso Livre (que se divide já em dois, Oficina de Poesia I e Oficina de Poesia II), uma cadeira de Opção (Poética e Escrita Criativa), uma revista anual de poesia, tantas leituras públicas, ateliers em escolas secundárias, performances com actores como João Grosso (como no último Encontro Internacional de Poetas de Coimbra), colaboração em projectos como o de Belgais (o Centro para o Estudo das Artes dirigido pela pianista Maria João Pires, de que resultou a assinatura recente de um protocolo com a Faculdade de Letras), acções de rua (entregando poemas a quem nunca os procura), a presença de inúmeros convidados (poetas e outros artistas, bem como professores e especialistas de várias linguagens e saberes que connosco quiseram dialogar), alunos de doutoramento no Programa de Poética da State University of New York ou a fazer estágios de curta duração em Centros Literários como o JUSTBuflalo Literary Center (acompanhando poetas a escolas secundárias onde a escrita criativa existe, deste modo, há mais de 30 anos, como parte dos programas de língua inglesa), criação de homepages, alguns pequenos prémios literários (um em Itália), ligações a novas pequenas editoras, e muita, muita poesia publicada - em revistas de poesia (em Portugal, nos EUA e no Brasil), mas também em alguns livros recentes.
Havia que enumerar todo o trabalho realizado - porque nos sentimos orgulhosos, é claro - mas sobretudo para afirmar que sim, que é possível haver uma comunidade de poetas. Que a escrita da poesia não tem que ser apenas esse acto iluminado a exigir o isolamento e a marginalidade do social que, simultanea e paradoxalmente, nos olha de soslaio e nos coloca no pedestal idolatrado a que alguns tanto aspiram.
Criou-se uma pequena comunidade de poetas em Coimbra (alguns já fora da cidade, dos mais de cinquenta que já participaram, continuam a manter o contacto). Uma pequena comunidade que procura levar o seu trabalho à comunidade mais vasta - levar a poesia a quem nunca foi exposto à poesia: levá-la às ruas, aos bares, aos colegas da universidade ou do emprego, em brochuras, em fotocópias, no acto simples da voz e, naquele que me parece o trabalho mais importante de todos, levá-la até às escolas, às crianças.
Criou-se uma pequena comunidade de poetas em Coimbra que é capaz do acto generoso e gratuito na origem de tudo o que se foi produzindo ao longo destes anos. Uma comunidade capaz de partilhar ideias, de respeitar vozes diferentes, de estar aberta à diversidade, ouvindo os outros, experimentando outras técnicas, dialogando com outros instrumentos de trabalho, sem por isso deixar de ser capaz do acto iluminado da criação - agora, decerto, mais rico e menos narcísico.
Esta revista, tal como aconteceu com a primeira série, continuará a divulgar o trabalho dos poetas do curso livre Oficina de Poesia e, agora também, da cadeira de opção, Poética e Escrita Criativa, mas alargar-se-á a contributos de outros poetas e artistas plásticos, bem como a professores e/ou especialistas de Poética, no sentido mais vasto do termo. Passará a incluir imagem, bem como rubricas de ensaio, recensão, tradução e, pretendendo abrir-se a alguma internacionalização, poderá eventualmente incluir textos noutras línguas, o que decerto também irá contribuir para a divulgação de alguma da poesia mais inovadora (e menos canónica) que dificilmente tem repercussão em Portugal. O interesse de muitos autores que têm estado presentes nos Encontros Internacionais de Poetas (não só portugueses, mas também estrangeiros) e que querem colaborar connosco está bem patente neste número 0, com a presença de nomes como os de Fernando Lemos, António Ramos Rosa, valter hugo mãe, Leonard Schwartz ou Christopher W. Alexander, entre outros.
Deixaremos de ter uma publicação anual (e artesanal) e passaremos a publicar três números por ano, com distribuição nacional, mantendo o apoio do Conselho Directivo da Faculdade de Letras, do Centro de Estudos Sociais e, agora, recebendo também o apoio da Reitoria da Universidade de Coimbra, três instituições a quem queremos deixar aqui o nosso reconhecido agradecimento.
A editora Palimage terá agora que aturar a nossa insubmissão à ditadura da página, da pontuação, da grafia, do espaço. E ainda, os atrasos, o "à última da hora", as diskettes por formatar, os esquecimentos, os lançamentos atrasados, etc., etc. Tudo aquilo que o profissionalismo da Secção de Textos da FLUC nos aturou durante os cinco números da primeira série, pelo que lhes estamos também muitíssimo gratos.
Quero terminar, agradecendo a todos os poetas, especialistas e artistas que contribuiram com o seu trabalho para este número, especialmente aos meus colaboradores - aos poetas da Oficina de Poesia - pelo esforço e pelo empenho, por todo o entusiasmo com que têm levado este projecto para a frente e, sobretudo, pela forma generosa com que nos oferecem a sua criação.

Graça Capinha