Oficina de Poesia
 
 


n.1 - 2ª série

Data de Publicação: Junho 2002

 
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Editorial

No momento da edição do número 1 da revista Oficina de Poesia somos levados a olhar para o trabalho que temos vindo a desenvolver e a reconhecer que este teima, agora, em ganhar um pendor mais sério, como se nos fugisse para a frente. Já lá vai algum tempo desde as caras conhecidas que corriam para se juntar, à tardinha, para falar sobre poesia até ser já quase dia. Passaram os pretextos, é tarde, e os braços cresceram juntos e as conversas entrelaçaram mais vozes e trouxeram outros braços. As histórias fizeram-se palavras e silêncios e imagens embora poemas. Foi quase sempre muito assim. Noites e noites entre vozes. E redobrávamos os sentidos para esgravatar, ainda mais, com a nossa cobiça, linguagens, nas quais o acto criativo se revelava constantemente familiar. Encolhidos os medos, mais lúcidos, tudo se alargou em gestos um tanto à força, um tanto empurrados e arriscámos abrir intimidades de muito longe, porque já não se bastam em si, pela existência, pela poesia. É sabido que gostamos de mudar, abrir sentidos, às vezes, como se empolgados por um tal desassossego que sem ver contornos, nos intriga e envolve. E se, como alguém disse, a loucura é o que nos move, então, esta, nossa, é feita de caras muito sérias, e sopra-nos das mãos pela procura sempre da entrega às palavras que melhor digam.
Neste novo número continuamos, "(des)coordenados", a estender o mesmo ritual, cada vez mais forte, aspirando à divulgação do trabalho de todos os poetas que se encontram na "Oficina de Poesia", mas, também, daqueles outros que se quiseram juntar, para grande entusiasmo nosso, e que completam a imagem.
No meio de tudo isto, resguardamos, ainda, a continuidade da nossa participação nos ateliers do Centro de Estudos para as Artes de Belgais e celebramos a edição de mais um livro de uma das nossas poetas da Oficina, Emiliana Cruz, uma vez mais pelas mãos da editora Palimage que, apesar de tudo, continua a espalhar a produção desta, ainda pequena, comunidade de poetas. Assim, renovamos a palavra de apreço ao nosso editor, que muitas noites tem dobrado, sobre si próprio, alinhavando escritas e gerindo as aflições vividas inteiramente contra o tempo.
Em nota final, há que imaginar bem os vários momentos, somente iniciados, guardados devagar, que batem em cheio, altos, breves, como se todos fossem entrando com a sabedoria de quem quer vir a si. Ou porque ressaltam meramente e nos ligam a sentidos impenetráveis. E o resto, é uma vontade enorme de ressurgir. Começa o tempo onde o poema começa.

Cristina Néry