Oficina de Poesia
 
 


n.5 - 2ª série
Especial: Robert Creeley

Data de Publicação: Dezembro 2005

 
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Editorial

.regressa a palavra que se cria da sede o poema impossível sonhado na pedra o movimento que incorpora o incêndio na folha o sopro de um corpo sem rosto os sonhos de uma revista em lenta rotação como pássaros que ainda resistem como pedras vivas numa OFICINA de POESIA abrindo o espaço branco a boca incompleta do soluço sem pessimismo nem exageros no optimismo do tronco números e mais números em veios maduros num ciclo que se renova nem plenitude nem vazio entre o fogo e a água metáforas que reflectem sonhos outros outras vozes nas feridas da carne palavras golfos permanentes terra perfurada no dorso por noites e noites entre vozes número (5) intenso de leituras sob as margens workshops em escolas de raízes alguns livros ao vento lembrando o linho vermelho sobre o granito das palavras sob a língua o puro prazer de respirar no anexo das vozes:
(neste número da revista Oficina de Poesia, mais uma vez a diversidade é o objectivo do material publicado. Revelam-se, mais uma vez, novos poetas do curso livre "Oficina de Poesia" e do curso de "Poética e Escrita Criativa", dirigidos pela Doutora Graça Capinha, directora da revista. Novas vozes, novas escritas, novas reflexões, novos sentidos e sonhos, "vozes outras", fomentando a poesia como uma experiência na criação da humanidade e da comunidade. Nessas "vozes outras", alguns convidados, como o norte-americano Robert Creeley (recentemente desaparecido). No dizer da ensaísta norte-americana Marjorie Perloff, a par de John Ashbery, Creeley foi o maior poeta da sua geração, um poeta que esteve em Coimbra logo no Primeiro Encontro Interna­cional de Poetas, organizado pelo Grupo de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras, em 1992.
Emiliana Cruz, uma das poetas saídas do curso livre "Oficina de Poesia" prepara a sua tese de mestrado sobre este grande nome da poesia mundial, tendo também como projecto em curso a tradução dos Se/ected Poems, publicados ainda em vida do autor. Neste número contamos com um curto texto ensaístico e algumas destas traduções inéditas que Emiliana Cruz teve oportunidade de discutir e trabalhar em conjunto com Creeley, r:laquele que foi o último Verão na famosa casa do lago no estado do Maine.
Em tradução minha, trago também o colombiano Harold Alvarado Tenório, hoje uma das vozes mais singulares e refinadas da poesia contemporânea Colombiana e, actualmente, director da revista de poesia Arquitrave. Temos ainda, como nossos convidados, os portugueses Nuno Miguel Proença e PorfírioAI Brandão, os brasileiros Álvaro Alves de Faria e Júlia Machado, e, na imagem, Maria. João Baginha e Filipe Cravo. De regresso, também os poemas de Emiliana Cruz e de Cristina Néry, que ousa uma re-escrita de Mariana Alcoforado, num monólogo encomendado para levar à cena.
O lapidar encantatório da pedra ainda o poema inteiro e nu/temperado em OFICINA de POESIA no aroma do silêncio na utopia seca da palavra na saliva dos olhos na respiração inicial a poesia tomando posição em função do acto de abrir fendas mesmo se em pequena escala (Bernstein) mastigando o enxofre dos buracos os frutos espargindo e sob o muro de bronze o desejo anfíbio "entre nós e as palavras, os emparedados e entre nós e as palavras, o nosso dever falar" (Cesariny) sobre o azul do azul afirmo inteiro no eco entre nós e a poesia, o nosso dever fazer porque como nos ensina Duncan "só existe o tempo único só existe a promessa única só existe a página única o resto fica em cinzas"

João Rasteiro