Editorial
Apetece-me dizer que uma revista é como a poesia. Como
ela transitória, constantemente renovada e em recorrente
encher e esvaziar de nomes e de versos, de poemas e de
poetas, e de leitores. A Oficina de Poesia pretende, mais
uma vez, invocar essa visão com este seu 11° número. E
orgulha-se de trazer multidões de
ideias-feitas-coisa/poema que não se acobardam perante as
vicissitudes dum agreste panorama poético, mas sim, e como
é doce e decoroso, fazem tudo o possível para serem
"patetas felizes" porque sabem que "há qualquer coisa de
libertador nisso". E talvez dessa maneira sejamos todos
capazes de retocar a poesia com uma outra luz,
libertadora, e que nos ilumine o caminho para "uma forma
alternativa de [não] pensar".
Para isso continuamos a contar tanto com as epifanias como
com as diatribes poéticas de escritores vindos de vários
picos de Portugal, e de outros ainda que, se não
portugueses|as, nos honraram por terem partilhado as suas
criações connosco, ou espontaneamente, ou devido à sua
participação no "Programa de Poetas em Residência" da
Universidade de Coimbra que possibilita a presença, em
Monsanto, de pessoas como a italiana Cristina Babino,
poeta largamente premiada, e John Taggart, reputadíssimo
poeta e crítico americano, numa descoberta e (com)partilha
deste nosso país. A eles juntam-se exemplos da obra
espelhada de Maria Granado, assim como obras de Darrel
Kastin e Rui Tinoco, entre outras|os. Mas a Oficina de
Poesia sempre se [in]definiu pelo caminho da expansão da
poesia a grupos que fujam aos que comummente se
identificam com a poesia mais apregoada; e sempre fez tal
através de apostas em jovens poetas rebentos, que cresçam
no seu ambiente, como Ricardo Agnes, ou que, como que ao
lado de árvores frondosas, floresçam no Curso Livre
"Oficina da Poesia" ou na opção "Poética e Escrita
Criativa" (ambos leccionados por Graça Capinha) e, dessa
forma, tornem manifestos os esforços rompentes duma
parcela da geração nova de poetas portuguesesIas.
Pertencente à decidida motivação da Oficina em tratar não
só a poesia mas também a poesia sobre poesia [sobre
poesia/sobre po...], presente está também um ensaio
poético resultante duma reflexão sobre Fedro de Platão
gerada numa daquelas aulas.
Revista da Palavra e da Imagem apregoamo-nos
porém, e não o descuramos. Com o advento já estabelecido
da poesia visual nos media poéticos nacionais,
esforçamo-nos sempre por trazer imagem a-verbalizada,
fotografia, desenho - neste número encabeçados pela obra
da fotógrafa brasileira Sandra Cruz, que esperamos que
possibilite um esvaecimento de quaisquer dicotomias de
palavra-imagem que possam surgir, matando o adágio
combativo de "uma imagem vale mil palavras". Como disse
Andityas Soares de Moura, poeta também brasileiro e também
por nós publicado anteriormente, a respeito da obra de
Sandra (num contexto bastante diferente mas de cujas
palavras me aproprio por deveras aplicáveis): "Há uma
certa integridade que as informa e nos incomoda. Nelas, os
opostos, ainda que existam, se fundem de modo a
impossibilitar uma aproximação objetiva e clara".
Esperamos tod@s que, como de costume, por meio da colecção
compilada, se consiga desvendar, pelo menos, algo de novo.
Eis agora que surgem em seguida e abertos a todas as
leituras
os poemas.
Miguel Monteiro de Sena
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