Oficina de Poesia
 
 


Oficina de Poesia nºs 11

Data de Publicação: Dezembro 2008

 
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Editorial

Apetece-me dizer que uma revista é como a poesia. Como ela transitória, constantemente renovada e em recorrente encher e esvaziar de nomes e de versos, de poemas e de poetas, e de leitores. A Oficina de Poesia pretende, mais uma vez, invocar essa visão com este seu 11° número. E orgulha-se de trazer multidões de ideias-feitas-coisa/poema que não se acobardam perante as vicissitudes dum agreste panorama poético, mas sim, e como é doce e decoroso, fazem tudo o possível para serem "patetas felizes" porque sabem que "há qualquer coisa de libertador nisso". E talvez dessa maneira sejamos todos capazes de retocar a poesia com uma outra luz, libertadora, e que nos ilumine o caminho para "uma forma alternativa de [não] pensar".
Para isso continuamos a contar tanto com as epifanias como com as diatribes poéticas de escritores vindos de vários picos de Portugal, e de outros ainda que, se não portugueses|as, nos honraram por terem partilhado as suas criações connosco, ou espontaneamente, ou devido à sua participação no "Programa de Poetas em Residência" da Universidade de Coimbra que possibilita a presença, em Monsanto, de pessoas como a italiana Cristina Babino, poeta largamente premiada, e John Taggart, reputadíssimo poeta e crítico americano, numa descoberta e (com)partilha deste nosso país. A eles juntam-se exemplos da obra espelhada de Maria Granado, assim como obras de Darrel Kastin e Rui Tinoco, entre outras|os. Mas a Oficina de Poesia sempre se [in]definiu pelo caminho da expansão da poesia a grupos que fujam aos que comummente se identificam com a poesia mais apregoada; e sempre fez tal através de apostas em jovens poetas rebentos, que cresçam no seu ambiente, como Ricardo Agnes, ou que, como que ao lado de árvores frondosas, floresçam no Curso Livre "Oficina da Poesia" ou na opção "Poética e Escrita Criativa" (ambos leccionados por Graça Capinha) e, dessa forma, tornem manifestos os esforços rompentes duma parcela da geração nova de poetas portuguesesIas. Pertencente à decidida motivação da Oficina em tratar não só a poesia mas também a poesia sobre poesia [sobre poesia/sobre po...], presente está também um ensaio poético resultante duma reflexão sobre Fedro de Platão gerada numa daquelas aulas.
Revista da Palavra e da Imagem apregoamo-nos porém, e não o descuramos. Com o advento já estabelecido da poesia visual nos media poéticos nacionais, esforçamo-nos sempre por trazer imagem a-verbalizada, fotografia, desenho - neste número encabeçados pela obra da fotógrafa brasileira Sandra Cruz, que esperamos que possibilite um esvaecimento de quaisquer dicotomias de palavra-imagem que possam surgir, matando o adágio combativo de "uma imagem vale mil palavras". Como disse Andityas Soares de Moura, poeta também brasileiro e também por nós publicado anteriormente, a respeito da obra de Sandra (num contexto bastante diferente mas de cujas palavras me aproprio por deveras aplicáveis): "Há uma certa integridade que as informa e nos incomoda. Nelas, os opostos, ainda que existam, se fundem de modo a impossibilitar uma aproximação objetiva e clara".
Esperamos tod@s que, como de costume, por meio da colecção compilada, se consiga desvendar, pelo menos, algo de novo. Eis agora que surgem em seguida e abertos a todas as leituras
os poemas.

Miguel Monteiro de Sena