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Participação e relações
de poder em contextos municipais
Irlys Alencar Firmo Barreira -Universidade Federal do Ceará - Brasil
O objetivo da apresentação é
refletir, com base em experiências de implementação
de políticas de participação em municípios
cearenses, situados no Nordeste do Brasil, diferentes sentidos e práticas
atribuídos à "participação". Interessa
verificar as ações que se efetivam em nome da participação
e seus efeitos sobre as formas variadas de exercício da política,
não isenta de conflitos nas formas de gestão cotidiana do
poder.
A participação como palavra de ordem, texto de programas
governamentais e práticas de interação entre governo
e população integra hoje um conjunto de discursos que apontam
o caráter inovador dessas experiências. Permanece, no entanto,
para o pesquisador o desafio da observação de registros
para além das avaliações. O texto parte do princípio
de que a participação evoca narrativas múltiplas
e ações feitas em seu nome, comportando experiências
que precisam ser pensadas do ponto de vista dos efeitos simbólicos
que produzem no campo da política. As "narrativas da participação"
explicitam a forma como as práticas de interação
entre instituições governamentais e organizações
populares são contadas e vividas por diferentes atores sociais.
Desigualdade e participação política: o caso
do Conselho Municipal de Saúde de Curitiba.
Mario Fuks (Universidade Federal de Minas Gerais)
mariofuks@uol.com.br
Esse trabalho investiga a participação política no
Conselho Municipal de Saúde de Curitiba (CMSC), no estado do Paraná.
Os conselhos de política social, no Brasil, são reconhecidos
como arenas de ampliação da participação política,
incorporando, na estrutura da política estatal, a presença
de setores da sociedade civil. Tendo isso em vista, o trabalho tenta avaliar
se, e em que medida, a participação no CMSC é distribuída
de forma equilibrada entre os indivíduos e grupos que participam
do Conselho Municipal de Saúde de Curitiba.
A partir das atas das reuniões do CMSC, examinamos a agenda do
conselho e a distribuição da participação
política no processo decisório. O nosso banco de dados permitiu
analisar os atores em termos de três categorias: como indivíduos,
como organizações ou pelos cargos que ocupam no conselho.
Os assunto foram classificados em dois grandes grupos: assuntos internos
(do conselho) e assuntos públicos, sendo estes últimos subdivididos
em termos das áreas da política de saúde. Isso nos
permitiu avaliar a participação política no conselho
em termos de "quem decide" e "sobre o que se decide".
Em relação à dinâmica do processo decisório,
o CMSC tem se constituído como uma arena onde atuam três
tipos de atores relevantes: os atores estatais, os usuários e os
trabalhadores do setor. Os dois primeiros não apenas se fazem presentes
na maior parte da atividade deliberativa do conselho como também
são os principais protagonistas das controvérsias geradas
no seu interior.
A distribuição desigual da participação política
entre indivíduos e grupos que integram o conselho indica que a
participação não pode ser considerada um resultado
espontâneo, direto e simétrico à existência
de condições institucionais favoráveis à ampliação
da participação política.
Apesar disso, o CMSC mostrou ser um espaço de participação
política mais amplo do que a sua composição formal.
Nesse sentido, o conselho revelou-se como um espaço permeável
à participação, em todos os momentos do processo
decisório, de "visitantes", de setores do corpo técnico
estatal e, com menor freqüência, de movimentos sociais.
Buscamos também obter informações a respeito da forma
pela qual se decide. Isso foi realizado a partir da análise da
existência ou não de debate e de contestação
no conselho, assim como dos tipos de deliberação. O debate
e da deliberação no CMSC assumem um caráter substantivo
no que se refere aos temas em pauta. O mesmo não pode ser dito
em relação à densidade do debate e aos tipos de deliberação.
Apesar de o debate e a deliberação ocorrerem com bastante
freqüência, os dados disponíveis não indicam
a existência de um constante confronto de posições
políticas, muito menos de modalidades "fortes" de deliberação.
A política habitacional da cidade de são paulo:
o papel da participação popular
Maria Ângela Noronha Serpa, Marisa Altomare Ariente, Rosa Elisa
M. Barone (Universidade Bandeirante de São Paulo) Sandra Rodrigues
Nunes (Perfeitura de São Paulo)
Este trabalho tem como objetivo registrar a experiência
da ação efetiva da participação popular que,
no âmbito da política de habitação proposta
pela Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento
Urbano (SEHAB) / Companhia Metropolitana de Habitação (COHAB),
foi contributivo para a instalação do Conselho Municipal
de Habitação. A experiência de participação
popular na política municipal de habitação, campo
este marcado por uma forte tradição de lutas e resistência
por parte dos movimentos de moradia, trouxe consigo o desafio de implementar
práticas e instrumentos democráticos de participação
nos diferentes espaços da SEHAB / COHAB.
Este movimento, com certeza, decorre de uma nova dinâmica iniciada
pela Prefeitura do Município de São Paulo na implantação
de políticas públicas na área da habitação
e desenvolvimento urbano, com a efetiva participação da
sociedade, construindo um processo de permanente diálogo com diferentes
órgãos públicos, organizações sociais,
universidades, iniciativa privada e outras entidades. O registro de sua
prática é mais um canal voltado para a busca de solução
para os problemas urbanos.
A construção da memória da participação
popular no âmbito da SEHAB / COHAB e a necessidade de fortalecer
e municiar o movimento de habitação são elementos
que estruturam este estudo. Ressalta-se que após pouco mais de
dois anos da criação do setor de participação
popular, é essencial o registro de sua prática enquanto
canal capaz de potencializar as discussões com os diferentes movimentos
de moradia. A discussão política está permeada por
forte componente pedagógico e formativo e visa, também,
ao fornecer subsídios para outras práticas de participação,
estreitar as relações entre a sociedade civil e o Estado.
Este documento está estruturado de modo a contemplar o resgate
do tema da participação popular na SEHAB / COHAB, bem como
as ações desenvolvidas. O texto tem como eixo a recuperação
da trajetória vivenciada na Secretaria entre a I Conferência
Municipal de Habitação e a eleição do Conselho
Municipal de Habitação.
Primeiramente são apresentas algumas das diretrizes do governo
da reconstrução, onde se inserem aquelas definidas no âmbito
da SEHAB / COHAB, a inserção do tema da participação
popular e os debates sobre o Conselho Municipal de Habitação.
A seguir, na seção intitulada "Participação
popular: da concepção à prática", apresenta-se
e comentam-se as concepções de participação
popular presentes no discurso de diferentes atores da SEHAB / COHAB, captadas
a partir de inúmeras entrevistas. Apresentam-se ainda os diferentes
instrumentos de participação popular no âmbito da
Secretaria e, dentre eles, destaca a criação do setor de
participação popular.
Outro aspecto apresentado refere-se à constituição
da 1ª Conferência Municipal de Habitação e a
formação da Comissão de Representantes. Para tanto,
resgata-se o percurso feito até a 1ª Conferência Municipal
de Habitação e a constituição da Comissão
de Representantes da Habitação. As peculiaridades do Conselho,
no âmbito do Fundo Municipal de Habitação (FMH), a
instalação do Conselho Municipal de Habitação,
bem como a constituição da Secretaria Executiva, são
outros aspectos destacados e analisados.
Por fim, nas considerações finais, estão dispostas
perspectivas e limites identificados quanto à efetiva atuação
do Conselho. Há destaque também para proposições
face às concepções de participação
popular identificadas.
Observatório dos Direitos do Cidadão: uma experiência
de monitoramento de políticas públicas e de fortalecimento
dos movimentos sociais da cidade de São Paulo.
Profª Dra. Rosangela Dias Oliveira da Paz - IEE,da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo -PUC-SP
O Observatório dos Direitos do Cidadão
da cidade de São Paulo tem por objetivo subsidiar a intervenção
dos atores organizados da sociedade civil na implementação
e controle das políticas públicas voltadas à ampliação
da cidadania, por meio do acompanhamento e da análise da gestão
municipal e da disseminação sistemática de avaliações
e informações.
O trabalho é coordenado pelo Instituto Pólis e pelo Instituto
de Estudos Especiais - IEE , da PUC/SP e conta com a parceria dos núcleos
de estudo e pesquisa do Programa de Pós-Graduação
da PUC-SP das áreas de Serviço Social e Educação.
O Observatório tem como propósito o monitoramento e análise
das políticas públicas municipais de saúde, habitação,
educação, assistência social, direitos da criança
e do adolescente, além do orçamento público. Em todas
essas áreas o Observatório já produziu uma avaliação
inicial dos últimos dez anos de cada política, uma análise
dos conselhos de gestão atuantes em cada política, uma avaliação
dos fundos púbicos existentes e um balanço dos primeiros
dois anos de atuação da atual gestão em cada política.
Os estudos constituem-se em rico material de formação para
lideranças dos movimentos sociais que atuam nos espaços
públicos.
A compreensão de que a democratização da gestão
é muito mais um fruto da pressão da sociedade civil organizada
do que uma iniciativa de governo fez com que o Observatório buscasse
se articular com os principais movimentos sociais de São Paulo
na perspectiva do seu fortalecimento e qualificação para
a disputa sobre sentido e a amplitude dessas políticas públicas.
Nesse sentido, o desenho de gestão é peculiar e inovador,
constituiu-se um Colegiado de Gestão do Observatório, formado
pela equipe do projeto (Pólis e IEE) e por representantes de movimentos
sociais atuantes na cidade, no campo das políticas públicas
monitoradas: União dos Movimentos de Moradia - UMM, União
dos Movimentos Populares de Saúde - UMPS, Central de Movimentos
Populares (CMP-estadual), Fórum Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente e Fórum Municipal de Assistência Social.
O objetivo do Colegiado de Gestão é articular o desenvolvimento
do projeto com as demandas das lutas sociais e tem significado um espaço
de discussão sobre os desafios dos atores coletivos que intervém
nas políticas da cidade e de deliberação sobre os
temas de estudo das políticas monitoradas.
Um dos produtos do Observatório são suas publicações,
subsídios importantes para o fortalecimento dos movimentos sociais.
No entanto, é clara a necessidade de um investimento na formação
de lideranças e de membros das organizações. Desta
forma, o Observatório tem assumido a dimensão educativa,
atendendo às demandas dos movimentos sociais e assim organizando
cursos e seminários de capacitação.
Através do Observatório dos Direitos do Cidadão colocamos
à disposição da sociedade, informações
e análises que visam colaborar para uma atuação mais
efetiva e propositiva de suas representações coletivas,
na construção de políticas públicas e da democracia
participativa.
Pretende-se apresentar os principais resultados deste projeto, destacando-se
a relação entre ONG, Universidade e Movimentos Sociais,
na construção de agendas e pautas políticas conjuntas.
Juventude(s) enquanto sujeitos de direitos: as falas dos reponsáveis
pelos programas e projetos do poder local.
Donizeti de Lima; Dóris Regina Furini; Francisco Canella; Olga
Durand
Esta comunicação trata das concepções
de Juventude que permeiam as políticas públicas voltadas
para essa categoria social no Estado de Santa Catarina - Brasil. Este
estudo é resultado de conclusões parciais de uma pesquisa
de âmbito nacional intitulada "Juventude, escolarização
e poder local", a qual está sendo realizada em dez regiões
metropolitanas de diferentes unidades da federação.
Estudos e pesquisas, articulados com nossas práticas pedagógicas
junto à(s) Juventude(s), têm nos levado a constantes buscas
sobre a sua concepção e suas implicações práticas.
Entendemos que as Juventudes, com suas diversidades e diferenças,
exigem a sua compreensão a partir do direito a inclusão
e a participação social, aportados em Políticas Públicas
que garantam o seu reconhecimento como autores sociais.
Investigamos algumas ações do poder público na Região
Metropolitana de Florianópolis, com o intuito de compreender as
concepções de juventude dos seus gestores e coordenadores.
A pesquisa foi realizada em quatro municípios, nos quais foram
entrevistados gestores e coordenadores de projetos e programas sócio-educativos
e de proteção, destinados a jovens e adolescentes.
Partimos de uma concepção de juventude que a compreende
como sujeitos de direitos, na complexidade da sua pluralidade, diversidade
e diferenças, aportada nas discussões recentes de autores
como Pais, Abramo, Melucci, Margulis, Peralva e Spósito e outros.
A necessidade de compreensão das concepções apresentadas
pelos gestores e coordenadores justifica-se pelos seus desdobramentos
nas realidades onde estão inseridos tais programas e projetos,
o que nos leva a pontua-las sem a pretensão de conferir à
elas uma representatividade ou hierarquizá-las. Destacamos a heterogeneidade
apresentada pelas falas. Encontramos situações, que expressam
entendimentos antagônicos sobre juventude. Para essa fase da pesquisa,
que terá continuidade e aprofundamento da análise, nos concentramos
em detectar o que está sendo dito, e não o porquê
está sendo dito.
Nesse sentido destacou-se como fala mais recorrentes aquelas que os jovens
como sendo o "futuro adulto". Tal definição reconhece
nos jovens a condição de moratória social, e tem
como intenção destacar a necessidade de ações
que garantam a eles melhores possibilidades de futuro. No entanto, tal
definição vem acompanhada por outras, como "idade dos
conflitos" ou então como "fonte de problemas", sendo
percebido como uma fase a ser superada - ou melhor, uma fase, tão
somente. Os conflitos não denunciam uma situação
real, legítima, um problema da sociedade, mas é refletido
como um problema do jovem, que é apenas uma fase, uma faixa etária.
Assim, a associação das idéias "jovem como futuro
adulto", "como idade dos conflitos" e como "fonte
de problemas", conduzem a uma percepção na qual se
nega ao jovem o direito de vivenciar o presente. Não há
um futuro próprio ao jovem, a não ser o de se transformar
em adulto, com toda a carga presente e atual de obrigações
sociais que esse termo carrega.
Outrossim, qualquer ação ou desejo fora da ordem estabelecida,
ou fora do caminho que o conduza ao "futuro adulto" é
visto como desvio, ausência de limites ou, no mínimo, falta
de orientação. Em outras palavras, é negado a esses
sujeitos o direito de práticas ou percepções diferenciadas
das regras impostas pela sociedade.
A partir disso podemos destacar que esses modos de conceber a juventude
impõe limites, não só a implementação
das políticas existentes, bem como, impedem atitudes que exijam
do Estado outra políticas comprometidas com a legitimação
e reconhecimento das Juventude(s) como sujeitos de direitos sociais.
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