O Dicionário das Crises e Alternativas foi a primeira intervenção do Observatório sobre Crises e Alternativas criado pelo CES com coordenação de Manuel Carvalho da Silva. Tal como ao dicionário, anima-o a vontade de lutar contra o pensamento único, ciente de que a pluralidade de análises e de opiniões é hoje tão necessária quanto difícil. Tal como os outros observatórios do CES (sete ao todo), este observatório é uma ponte entre a comunidade e o saber científicos, por um lado, e as cidadãs e os cidadãos e suas organizações e movimentos, por outro. O Observatório tem um triplo objectivo: tornar mais precisos o diagnóstico e a caracterização das crises que a sociedade portuguesa vive; acompanhar as políticas públicas, seus objectivos e meios mobilizados, seus resultados expectáveis e observáveis; identificar soluções e respostas que alarguem o leque de alternativas a considerar no debate público. Através de intervenções regulares, de relatórios anuais e da interacção activa com a sociedade através da sua página web, o Observatório centrar-se-á em quatro domínios: as relações entre finança e economia à escala nacional, europeia e global; as dinâmicas no mundo do trabalho e as vicissitudes do respeito pelo trabalho digno; o Estado social e os custos sociais das políticas de austeridade; a qualidade democrática (democraticidade, transparência e participação) das tomadas de decisão pública.
Este Observatório tem duas particularidades que, para além da sua eficácia instrumental, adquirem um valor simbólico na actual conjuntura que o país vive. A primeira é que este Observatório é o resultado de uma colaboração entre um centro de investigação nacional e uma organização internacional tão prestigiada quanto a Organização Internacional do Trabalho através do seu Instituto para os Estudos Laborais. Este tipo de colaboração, que é inédito para as duas entidades, simboliza a necessidade de enquadrar a crise portuguesa no contexto mais amplo, regional e global,onde se estruturam os quadros sistémicos que explicam, em última instância, a crise, e em cujo seio devem também ser encontradas as soluções que garantam a coesão social e o respeito pelo trabalho digno. A segunda particularidade é que, em plena crise da concertação social no nosso país, este Observatório é financiado por um consórcio em que se incluem empresários e sindicatos. Este facto revela que, pese embora as divergências e até contradições de interesses, sectores importantes da sociedade portuguesa estão preocupados com o desenvolvimento da crise e com a falta de alternativas que permitam, a prazo, a reversão do declínio e do empobrecimento da sociedade portuguesa, os quais, a verificarem-se, atingirão, ainda que de modo desigual, os diferentes grupos e classes sociais. É ainda significativo que a OIT e os financiadores do Observatório colaborem neste projecto com pleno reconhecimento da autonomia científica dos investigadores que terão a seu cargo os trabalhos do Observatório.
Boaventura de Sousa Santos