A resposta à crise passa por apropriar ou inventar espaços públicos onde ganham forma outros modos de pensar a sociedade e de habitar o mundo, resgatando uma imensa riqueza de experiências que não podem ser desperdiçadas. Através de múltiplos encontros, diálogos e traduções, emerge o que Boaventura de Sousa Santos chamou uma ecologia de saberes. Esse processo encontra expressão nas assembleias dos movimentos de indignados ou de ocupas, nos assentamentos, escolas e iniciativas do Movimentos dos Sem Terra, no Brasil, nos movimentos indígenas, nos movimentos de mulheres e LGBT, nos espaços criados no âmbito do Fórum Social Mundial e dos seus fóruns temáticos, nos diferentes espaços de participação cidadã na definição e avaliação de políticas públicas ou no governo local, ou em iniciativas de Educação Popular.
Perante a imposição de uma explicação oficial da crise, sustentada pela autoridade da monocultura da ciência económica oficial e pela ideia de que não existe alternativa a esta nem às políticas que dela decorrem, a construção de um outro conhecimento e de outras formas de ação política ocorre através de processos de resgate e partilha de experiências diversas, do diálogo entre tradições intelectuais e culturais, entre correntes heterodoxas dentro dos saberes académicos e científicos, da capacidade de reflexão e de constituição de saberes orientados para a ação, sobre as forças e fraquezas das formas de resistência, de reinvenção dos espaços públicos, de intervenção política, da constituição de alianças, da criação de espaços de tradução entre experiências e saberes de sentido emancipatório, independentemente da sua origem. A dinâmica da ecologia de saberes é, assim, um processo continuado de aprendizagem.
Como todas as ecologias, nestas coexistem saberes diferentes que dialogam, que se confrontam, que se articulam, que discutem, criando novas formas de conhecer, de partilhar e de desenvolver as experiências que permitem vislumbrar um outro mundo para além da crise.
João Arriscado Nunes