UrbAspire
Aspirações Urbanas em Moçambique Colonial/Pós-Colonial: O Governo da Divisão Desigual de Cidades, 1945-2010

Período
1 de julho de 2013 a 31 de dezembro de 2014
Duração
18 meses
Resumo

Este projeto de investigação exploratória contribui para o campo da história e teoria urbana, em particular do urbanismo colonial e pós-colonial no sul de África. O projeto examina a história do governo da divisão desigual de cidades em Moçambique, do fim da Segunda Guerra Mundial ao presente. Iremos privilegiar uma genealogia das práticas de planeamento para o governo das periferias urbanas criadas informalmente, na capital Maputo e na cidade de Angoche. Esta proposta explora uma conceção ampla de governo urbano, abrangendo tanto práticas de planeamento estatal como as formas de os habitantes urbanos se governarem a si próprios.
Conhecer as histórias situadas do governo das periferias informais é crucial para o planeamento do futuro das cidades no sul de África e noutras regiões do Sul global. Aliás, tais histórias são necessárias para uma crítica do papel do urbanismo colonial na formação dos aparatos estatais do planeamento na Europa, nomeadamente em antigos estados imperiais como Portugal.
O objetivo deste projeto de investigação é compreender o modo como o governo das periferias é imbuído de aspirações urbanas, não só de altos funcionários e profissionais trabalhando no planeamento estatal, mas também de cidadãos desiguais das periferias.
Pretendemos investigar os circuitos de conhecimento especialistas e ordinários através dos quais imaginações prospetivas do urbano foram formadas em Maputo e Angoche. Tais circuitos ligavam a cidade primacial do sul de África, Joanesburgo, com cidades moçambicanas como Maputo, criada para servir como porto da região mineira do interior, e como portal para trabalhadores. Além disso, circuitos de conhecimento ligavam Maputo e Angoche com Lisboa, a então capital política do império português. O projeto é portanto particularmente atento ao modo como o urbanismo colonial integrou a formação do atual regime de planeamento em Portugal.
A investigação irá abordar três aspetos das práticas do governo urbano. Em primeiro lugar, investigaremos o conhecimento profissional colonial, privilegiando como os planeadores portugueses valorizaram a periferia "indígena" enquanto espaço que contrastava culturalmente com a cidade Europeia. Este primeiro aspeto irá incluir três dimensões: a relação do planeamento com uma razão imperial portuguesa; um relato do planeamento da periferia; e um exame da persistência da violência espacial do planeamento colonial. Em segundo lugar, iremos questionar as relações entre ordens políticas sucessivas e a nomeação de espaços urbanos. Este aspeto é crucial para uma compreensão das visões urbanas do estado em contraste com as práticas quotidianas de nomeação, e também para entender como a razão governamental colonial foi rearticulada após a independência política. Em terceiro lugar, o projeto abordará discursos do urbano profissionais e leigos criados entre Moçambique e a África do Sul, e especificamente como este imaginário se processou entre migrantes para Joanesburgo. A metodologia de investigação para uma genealogia do governo das periferias irá necessariamente combinar uma perspetiva etnográfica com métodos da história. O principal método de investigação será a pesquisa de arquivos em Maputo, Lisboa, e Joanesburgo, complementado com observação e entrevistas em profundidade em Maputo e Angoche.
A equipa do projeto combina experiência de investigação urbana em Moçambique, África do Sul e Portugal com um interesse em formas inovadoras de estudar a vida urbana que possam informar exercícios prospetivos para cidadanias menos desiguais. O coordenador Tiago Castela é historiador urbano. Adquiriu experiência de coordenação científica na Universidade da Califórnia, Berkeley, como cocoordenador do Grupo de Trabalho sobre Histórias Globais de Espaços do Centro Townsend. A experiência da antropóloga Paula Meneses quanto aos significados da história e das memórias no refluxo gerado pelo "encontro" colonial em Moçambique e noutros países do sul de África é essencial para uma perspetiva etnográfica sobre uma história do presente. A experiência de Mpho Matsipa como uma investigadora das aspirações urbanas pós-"apartheid" em Joanesburgo é crucial para uma discussão crítica do passado urbano situado.
Num mundo contemporâneo de cidades em grande parte criadas informalmente, este projeto de investigação pretende fornecer instrumentos a quem está empenhado em imaginar modos futuros de governo urbano que reconheçam as potencialidades das práticas espaciais atuais, e que desafiem as persistências da razão colonial no planeamento espacial. Os resultados do projeto serão discutidos através de uma conferência na Universidade de Coimbra, e reportados através de duas comunicações em encontros científicos e da publicação de cinco artigos científicos, organizados de acordo com os aspetos e dimensões acima mencionados. Um documentário será preparado pela realizadora Joana Ascensão, de modo a assegurar a difusão pública dos resultados.

Investigadoras/es
Palavras-Chave
discurso imperial europeu, história do urbanismo colonial, informalidade urbana, urbanidade africana contemporânea
Financiamento
Fundação para a Ciência e Tecnologia