Teses Defendidas

Culturas de Investigação em Arquitectura: Linhas de pensamento nos centros de investigação, 1945-1974

Bruno Gil

Data de Defesa
27 de Abril de 2017
Programa de Doutoramento
Doutoramento em Arquitetura
Orientação
Mário Krüger
Resumo
A presente Tese visa problematizar a adopção da investigação na arquitectura, questionando os reflexos na profissão e no ensino. Para este efeito, debruça-se sobre o período que se seguiu à II Guerra Mundial, pautado pela relevância dada à investigação, nomeadamente entre a Inglaterra e os Estados Unidos da América, decorrente do aceleramento da pesquisa provocada pela guerra e pela urgência da reconstrução. Reflecte-se como este contexto potenciou uma cultura de investigação em arquitectura de suporte à prática profissional e teve a sua contraparte na criação de estruturas dedicadas à investigação, ligadas ou não a escolas de arquitectura, e cujas actividades se traduziram em diferentes estudos visando contribuir para um corpo de conhecimento. Considera-se este processo à luz da hipótese de que se verificaram diversas linhas de pensamento em formulação naquelas estruturas, permitindo identificar várias culturas de investigação em arquitectura, a demarcarem-se como sinal de uma pós-modernidade que se anunciava na prática arquitectónica e, desde logo, também na investigação. Na Primeira Parte, "Conjunturas da Investigação em Arquitectura", estabelece-se um encadeamento de uma linha de pensamento transversal a contextos diversos, orientada segundo a conjuntura de uma construção objectiva do conhecimento. Num primeiro capítulo, recua-se ao intervalo entre guerras para referir estudos embrionários numa situação de inflexão para uma nova objectividade no período de Dessau na Bauhaus bem como para uma via pragmática da Vkhutemas, junto da Associação de Arquitectos Contemporâneos (OSA). Na passagem para o segundo capítulo, pondera-se como a introdução de uma cultura moderna em Inglaterra ao longo dos anos de 1930 despertou uma particular atenção para a investigação, desde logo no grupo Modern Architectural Research (MARS), com reflexos no Royal Institute of British Architects (RIBA) durante a II Guerra Mundial, ao ser visada uma ciência da arquitectura. Decorrente deste período, frisa-se a promoção da investigação durante a década de 1950, perante a conjuntura política e económica favorável à transferência da investigação em guerra para o contexto de paz. Esta transição seria acalentada na profissão pelo desenvolvimento da indústria da construção, para posteriormente ser transmitida para o ensino, manifestando-se em investigações, colectivas e individuais, aqui veiculadas por exemplos que abordam distintamente a investigação em torno da forma arquitectónica e urbana. Consequentemente, na Segunda Parte, "Estruturas da Investigação em Arquitectura", foca-se o auge de diversas estruturas dedicadas à investigação, motivadas por arquitectos ou por outros profissionais. Com o intuito de identificar distintas culturas de investigação em formação, os dois primeiros capítulos aprofundam diferentes abordagens protagonizadas pelo Centre for Land Use and Built Form Studies (LUBFS) em Cambridge e pelo Institute for Architecture and Urban Studies (IAUS) em Nova Iorque, fundados ambos em 1967, respectivamente por Leslie Martin e por Peter Eisenman. Estes casos são alvo de um estudo no que diz respeito aos seus projectos e problemáticas, contribuindo para uma leitura das suas especificidades como demonstração de linhas de pensamento diversas. Conclui-se sobre uma divergência numa cultura de investigação de matriz analítica, inicialmente partilhada por Eisenman em Cambridge, e que no LUBFS avança pela via quantitativa e dedutiva numa aproximação à matemática, enquanto o IAUS inflectirá pela via indutiva, com aproximações tanto à sociologia como à semiologia. No último capítulo, reflecte-se sobre o grau de participação do contexto português em diversas culturas de investigação, a partir dos estudos desenvolvidos tanto no Centro de Estudos de Urbanismo e Habitação Engº Duarte Pacheco por José Pedro Martins Barata e Duarte Castel-Branco, como no Laboratório Nacional de Engenharia Civil com a coordenação de Nuno Portas, onde se procuravam efectivar pontos de intersecção com as linhas de pensamento no contexto internacional, enfrentando problemáticas na arquitectura, na cidade e no território. Nas considerações finais "Conjecturas da Investigação em Arquitectura", confirma-se a relevância da complementaridade do triângulo "profissão, ensino e investigação". Recorrendo às experiências anteriormente abordadas, quando se resvalou para qualquer um dos vértices, a cultura arquitectónica saiu fragilizada, fosse pela perpetuação dos ditames modernistas na profissão sem uma correspondente actualização teórica, ou pelo extremar da multiplicidade dos conhecimentos curriculares nalgumas escolas, ou ainda pela investigação desligada da prática profissional. Pelo que se conclui sobre a pertinência deste triângulo para a contemporaneidade, assumindo as topografias fluidas de actuação dos arquitectos, e onde se perspectiva a criação de estruturas dedicadas à investigação como contributo para uma acção crítica, tanto a nível profissional como pedagógico.

Palavras-chave:
Investigação em arquitectura; Culturas de investigação; Centros de investigação em arquitectura; Metodologias e práticas de investigação