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Públicos para a Cultura na Cidade do Porto

Augusto Santos Silva
Felícia Luvumba
Helena Santos
Paula Abreu

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  Introdução geral

O que é que sabemos acerca dos públicos culturais das nossas cidades? Sabemos pouco. Temos, porém, consciência de que um conhecimento minimamente aprofundado e actualizado destes públicos é uma condição indispensável para avaliarmos a sustentação do relacionamento entre oferta e procura, no campo da cultura. É-o, qualquer que seja o interesse fundamental que nos mova: intervir como criador, produtor ou intermediário cultural; conduzir políticas públicas ou acções privadas; ou, mais distanciadamente, considerar as potencialidades e os bloqueamentos da dinâmica urbana, incluindo a sua vertente de afirmação e projecção para o exterior.

Há já alguns anos que um certo número de sociólogos portugueses vem procurando realizar os estudos e pesquisas necessários para a elaboração desse conhecimento. Sem esquecer várias investigações de carácter mais pontual ou sectorial e a sistematização ensaiada por Idalina Conde (1997), cumpre lembrar o marco que foi a aplicação de um inquérito por questionário e amostragem aos residentes da Grande Lisboa, em 1994, no quadro da Lisboa Capital da Cultura e por encomenda da sociedade promotora. O inquérito foi acolhido no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e dirigido por José Machado Pais. O número de inquiridos ascendeu a 1002 residentes. Os resultados foram rapidamente publicados em livro (J. Machado Pais et al ., 1994).

Não há nada de comparável no que importa às nossas restantes cidades. Mas os membros da equipa que preparou o presente relatório foram procurando, à escala das suas possibilidades, trilhar os caminhos da pesquisa sobre três questões fundamentais. A primeira é saber como é que as cidades se projectam a si próprias, e usam, nessa projecção, os patrimónios histórico-monumentais de que dispõem. Carlos Fortuna estudou, nestes termos, os casos de Coimbra e Évora. A segunda é saber como se distribuem as práticas e as representações culturais das populações, de acordo com a sua caracterização por classe social, nível de instrução, género e geração. Com esse objectivo, Augusto Santos Silva e Helena Santos (1995) conduziram em 1988-89, para o Centro Regional de Artes Tradicionais, um inquérito por questionário a uma amostra de 889 residentes na Área Metropolitana do Porto. A terceira questão é determinar as estratégias e os efeitos das acções destinadas à renovação da oferta cultural e à formação e realização de públicos, sejam elas desencadeadas por operadores culturais ou por poderes públicos. Uma equipa constituída por Augusto Santos Silva, Elisa Pérez Babo, Helena Santos e Paula Guerra (1998) pôde traçar uma visão panorâmica do que estava sucedendo, nos princípios da década de 1990, em seis cidades da Região Norte (Braga, Bragança, Chaves, Porto, Viana do Castelo e Vila Real); e Augusto Santos Silva (1994, 1995) procurou analisar políticas municipais em curso nessas mesmas cidades e em Guimarães.

Na sequência deste trabalho, e da colaboração entre as Faculdades de Economia de Coimbra e do Porto, reuniu-se uma equipa de investigação, coordenada por Augusto Santos Silva e Carlos Fortuna , e composta, para além deles, por Claudino Ferreira , Helena Santos, Paula Abreu , Paulo Peixoto e Felícia Luvumba, com a finalidade de aprofundar o conhecimento sociológico das dinâmicas culturais urbanas em cidades de média dimensão. E com esta equipa nasceu o projecto de investigação designado "Culturas Urbanas e Imagens das Cidades: recursos, práticas e acontecimentos culturais em algumas cidades portuguesas" , cujos principais objectivos consistiam no desenvolvimento de protocolos de observação que permitissem apreender e interpretar sociologicamente algumas das actuais dinâmicas culturais urbanas: a) reconfigurações na estrutura de equipamentos e na rede de oferta de bens e serviços culturais; b) recomposições de públicos e procuras culturais, nomeadamente daqueles que surgem associados à expansão das classes médias urbanas; c) emergência de novas formas de consumo, recepção, criação e produção cultural, protagonizados por membros dessas classes médias e caracterizadas por aproximações, cruzamentos e contaminações entre expressões da cultura erudita, cultura de massas e cultura popular; d) processos de patrimonialização e sua articulação, quer com práticas de afirmação identitária local, quer com estratégias de promoção turística e imagem das cidades; d) produção e promoção de acontecimentos e mega-acontecimento, orientados simultaneamente para a produção e promoção de actividades culturais e representações sobre as cidades.

As cidades seleccionadas para observação foram cinco: Aveiro, Braga, Coimbra, Guimarães e Porto. No entanto, por razões distintas, foram também associadas ao projecto as cidades de Lisboa e Évora. A primeira pelo facto de ter sido o local de realização da Expo'98, objecto de um dos estudos de caso sobre a dinâmica de produção de mega-acontecimentos culturais e urbanos. E a segunda por ter sido o objecto empírico privilegiado para um estudo sobre os usos do património e as imagens cidades.

A pesquisa empírica assentou em quatro grandes procedimentos metodológicos: o registo e a caracterização das instituições e agentes a operar na área da cultura, com recurso a observatórios documentais por cidade e a entrevistas estruturadas a um painel de promotores/produtores culturais locais; o registo sistemático dos eventos, dos bens patrimoniais e das acções de salvaguarda e promoção; a administração de um inquérito por questionário; a realização de 80 entrevistas em profundidade a consumidores culturais regulares. O estudo de caso sobre a produção da Expo'98 envolveu ainda o desenvolvimento de dois dispositivos empíricos complementares: um observatório de imprensa e um painel de entrevistas a responsáveis políticos e técnicos pela organização da Exposição.

O inquérito por questionário foi aplicado, entre 2 de Maio e 15 de Agosto de 1997, a uma amostra de 1500 residentes das cinco cidades, tendo sido realizados 500 questionários na cidade do Porto e 250 em cada uma das restantes cidades.

A informação recolhida por este projecto é particularmente abundante e não diz apenas respeito ao inquérito aplicado nas cinco cidades. Foram ainda completados em 1998 o painel de entrevistas a consumidores culturais regulares e o observatório relativo à oferta cultural das cidades de Aveiro, Braga, Coimbra, Guimarães e Porto.

 
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