Natureza, Sociedade e Tecnociência: esboços do futuro
Organizadores:
Maíra Baumgarten (Decc-FURG) e Adroaldo Gaya (PPGCMH-UFRGS)

Relatores: Marisa Matias e Jorge Bento

Moderador: João Arriscado Nunes

Resumo:

As relações entre natureza, sociedade, ciência e técnica são permanentemente construídas. As carências humanas, seu desenvolvimento e as trocas que elas originam entre o homem e o meio natural e social formam o eixo em torno do qual gira o processo de conhecimento humano.
O padrão de relações internacionais desse início de século – globalização da economia, exigência de maior competitividade e utilização intensiva de conhecimento na produção de bens e serviços – coloca novos desafios à análise dos vínculos entre produção e usos de ciência e tecnologia, por um lado e o processo de desenvolvimento econômico e social, por outro lado.
Em um período de crise econômica, social, ambiental e da própria ciência, coloca-se como crucial o debate em torno da ciência e das diferentes alternativas abertas para a humanidade nessa passagem de século/milênio. Quais os cenários prováveis? Ilhas de bem-estar - apoiadas na crescente concentração dos recursos socialmente produzidos e em avanços da chamada tecnociência - imersas em um hobbesiano estado de natureza resultante da exclusão econômica e social? A ordem mantida por algum Leviatã? Uma natureza acriticamente submetida que se esvai, incapaz de prover os recursos necessários à vida? Na sociedade mundializada, que surge em meio à crise geral da última década do século XX, o debate sobre a noção de desenvolvimento sustentado, suas dificuldades e possibilidades científicas e políticas, é condição necessária para embasar uma crítica à perspectiva de desenvolvimento científico e tecnológico, orientado pela racionalidade instrumental e pela lógica do mercado, bases da chamada globalização hegemônica de que fala Boaventura de Sousa Santos, e que se caracteriza pela exclusão econômica e social.
O objetivo desse painel é formar uma rede de pesquisadores que estudam o problema do conhecimento científico na sociedade contemporânea, notadamente, as interrelações entre natureza, sociedade e tecnociência e as novas questões que emergem das
atuais formas de produção do conhecimento e seus efeitos sobre natureza, sociedade e seres humanos.

Participantes:

“Tecnociência e produtivismo: limites da sustentabilidade”
Maíra Baumgarten (Fundação Universidade de Rio Grande - Brasil) mayrab@terra.com.br

"Construção heterogénea, complexidade e incerteza: formas emergentes de política ontológica nas ciências da vida e na biomedicina"
João Arriscado Nunes (Universidade de Coimbra - Portugal) jan@ces.uc.pt

“Novas concepções de saúde sustentável”
Marisa Matias (Universidade de Coimbra – Portugal) marisa@ces.uc.pt

“Tecnologias do Corpo”
Jorge Bento (Universidade do Porto – Portugal)
jbento@fcdef.up.pt

“Do corpo humano ao corpo biônico”
Adroaldo Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Brasil) acgaya@esef.ufrgs.br

Resumo das participações individuais

Partindo da constatação de que significativas transformações vêm remodelando a base material da sociedade a partir de estratégias de acumulação que contêm em seu cerne processos de geração e de difusão de novos conhecimentos, Maíra Baumgarten analisa a importância de pensamento e planejamento estratégicos como guias para construir formas de vida mais solidárias e harmônicas com o ambiente. Para Baumgarten, a análise dos vínculos entre produção e usos de ciência e tecnologia, por um lado e o processo de desenvolvimento econômico e social, por outro lado, coloca como estratégico o debate sobre a noção de sustentabilidade, condição necessária para embasar uma crítica à perspectiva de desenvolvimento científico e tecnológico, orientado pela racionalidade instrumental e pela lógica do mercado, bases da globalização hegemônica que se caracteriza pela exclusão econômica e social. João Arriscado Nunes analisa as formas emergentes de política ontológica nas ciências da vida e na biomedicina, debatendo questões ligadas à construção heterogénea, complexidade e incerteza e Marisa Matias efetua uma abordagem em torno das novas concepções de saúde sustentável, a partir do caso das novas tecnologias de tratamento de resíduos.
Jorge Bento trabalha com as tecnologias do corpo. Analisando o mito de Prometeu, o autor debate as questões do trabalho e do ócio. Para Jorge Bento, uma nova etapa da civilização está a caminho e, com ela, mudanças no próprio homem. Se foi Prometeu condenado à prisão e dor eternas por dar aos homens o fogo divino, a tarefa de desacorrentá-lo estará sempre inconclusa. Levar por diante essa tarefa, segundo o autor, remete às próteses das técnicas e máquinas por meio das quais o homem é, pouco a pouco, desamarrado e torna-se livre para se expressar. Hoje Prometeu estaria em vias de se beneficiar de uma segunda libertação: a da mente.
Adroaldo Gaya analisa a transformação do corpo humano natural em direção ao corpo biônico, pleno de artificialidades. O autor examina, por um lado, a dança de Isadora Duncan como expressão do corpo natural em que se explicita a filosofia de Rousseau. Linguagem gestual de adequação do movimento a um projeto artístico e político. A estética dos pés descalços, roupas soltas, movimentos ondulatórios. A liberação dos códigos convencionais que aprisionam o corpo numa sociedade datada da segunda metade do século XIX. Por outro lado, o projeto “Primus Posthuman” é trazido como protótipo de corpo do futuro. Corpo completamente manejável pela tecnociência. Desenhado para superar todos os defeitos do corpo biológico. Um corpo biônico.Uma máquina para a qual, em breve, serão transportados os conteúdos da mente. Sociedade do século XXI. A despedida do corpo biológico. Mundo virtual. Mundo das máquinas. A morte do corpo humano? No espaço desta dualidade entre um corpo humano e o corpo artificial dos neomecanicistas pós-humanistas Gaya desenvolve seus argumentos.

Clique no botão do lado direito do seu rato para imprimir