Patrimônio, Memória e Etnicidade: reinvenções da cultura açoriana
José Reginaldo Santos Gonçalves (Universidade Federal de Rio de Janeiro) reginald@ifcs.ufrj.br

Nosso propósito, nesta comunicação, é descrever e analisar os contornos semânticos ou os diversos significados que podem assumir as categorias "patrimônio" e "memória" tal como estas se configuram no discurso étnico açoriano e, mais precisamente, nas representações populares açorianas que se constroem em torno dessas categorias. O contexto social em que está situado esse estudo é composto pelas comunidades de imigrantes açorianos que vivem atualmente nos Estados Unidos (especialmente na região da Nova Inglaterra) e no Brasil (especificamente aqueles situados no Rio de Janeiro). Nosso foco etnográfico estará voltado para as festas do divino espírito santo, em função mesmo da importância (largamente reconhecida por diversos autores) que elas assumem nos processos sociais e simbólicos de construção da identidade e da memória dessas comunidades, seja no contexto do Arquipélago dos Açores, seja nos contextos da imigração. As categorias "patrimônio" e "memória" são representadas, no universo ritual das festas açorianas do divino espírito santo, através de funções simbólicas distintas mas igualmente relevantes. No universo social e político, essas categorias podem ser representadas através dos usos sociais e simbólicos de determinados traços culturais (entre os quais se destacam as festas religiosas, particularmente as festas do divino espírito santo, mas também língua, narrativas, arquitetura, culinária, músicas, etc.) que distinguem cultural e politicamente a comunidade de imigrantes açorianos em determinados contextos nacionais, situando-as em termos étnicos (a "açorianidade") e delimitando suas fronteiras sociais e culturais. No plano ritual, com base em representações mágicas e religiosas, as categorias "patrimônio" e "memória" vêm a ser concebidas a partir de suas respectivas capacidades de estabelecer mediações sensíveis entre os indivíduos, a comunidade açoriana e dimensões cósmicas. Se no primeiro contexto, ganha o primeiro plano a idéia de "representação" no espaço cultural e político, através da qual se expressaria a "identidade" dessas comunidades; no segundo, intervêm outras categorias importantes, tais como "promessa" e "graça", por meio das quais se estabelece uma conexão de natureza total entre indivíduos, sociedade e divindade (o "espírito santo"), sintetizada nas relações de reciprocidade entre os seres humanos e essa divindade. A hipótese que exploramos em nosso estudo é a de que a segunda função, em virtude mesmo sua natureza totalizadora, na verdade qualifica e distingue a etnicidade açoriana, quando esta é concebida a partir do ponto de vista nativo. Em outras palavras, a partir dessa perspectiva analítica, a segunda função assume uma posição hierarquicamente dominante em relação à primeira, desenhando a "memória" e o "patrimônio" como parte de uma totalidade definida em termos mágicos e religiosos, deslocando assim os significados laicos ou propriamente políticos dessas categorias. O estudo etnográfico em que está baseada nossa análise é resultado de trabalho de campo e observação participante realizados junto a comunidades de imigrantes açorianos, nos Estados Unidos e no Brasil, ao longo dos anos de 2000, 2001, 2002 e 2003, quando tive oportunidade de acompanhar os processos de preparação, organização e realização das festas do divino espírito santo em cada um desses contextos.


Patrimônio, Memória e Etnicidade: reinvenções da cultura açoriana
José Reginaldo Santos Gonçalves (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
reginald@ifcs.ufrj.br

Nosso propósito, nesta comunicação, é descrever e analisar os contornos semânticos ou os diversos significados que podem assumir as categorias "patrimônio" e "memória" tal como estas se configuram no discurso étnico açoriano e, mais precisamente, nas representações populares açorianas que se constroem em torno dessas categorias. O contexto social em que está situado esse estudo é composto pelas comunidades de imigrantes açorianos que vivem atualmente nos Estados Unidos (especialmente na região da Nova Inglaterra) e no Brasil (especificamente aqueles situados no Rio de Janeiro). Nosso foco etnográfico estará voltado para as festas do divino espírito santo, em função mesmo da importância (largamente reconhecida por diversos autores) que elas assumem nos processos sociais e simbólicos de construção da identidade e da memória dessas comunidades, seja no contexto do Arquipélago dos Açores, seja nos contextos da imigração. As categorias "patrimônio" e "memória" são representadas, no universo ritual das festas açorianas do divino espírito santo, através de funções simbólicas distintas mas igualmente relevantes. No universo social e político, essas categorias podem ser representadas através dos usos sociais e simbólicos de determinados traços culturais (entre os quais se destacam as festas religiosas, particularmente as festas do divino espírito santo, mas também língua, narrativas, arquitetura, culinária, músicas, etc.) que distinguem cultural e politicamente a comunidade de imigrantes açorianos em determinados contextos nacionais, situando-as em termos étnicos (a "açorianidade") e delimitando suas fronteiras sociais e culturais. No plano ritual, com base em representações mágicas e religiosas, as categorias "patrimônio" e "memória" vêm a ser concebidas a partir de suas respectivas capacidades de estabelecer mediações sensíveis entre os indivíduos, a comunidade açoriana e dimensões cósmicas. Se no primeiro contexto, ganha o primeiro plano a idéia de "representação" no espaço cultural e político, através da qual se expressaria a "identidade" dessas comunidades; no segundo, intervêm outras categorias importantes, tais como "promessa" e "graça", por meio das quais se estabelece uma conexão de natureza total entre indivíduos, sociedade e divindade (o "espírito santo"), sintetizada nas relações de reciprocidade entre os seres humanos e essa divindade. A hipótese que exploramos em nosso estudo é a de que a segunda função, em virtude mesmo sua natureza totalizadora, na verdade qualifica e distingue a etnicidade açoriana, quando esta é concebida a partir do ponto de vista nativo. Em outras palavras, a partir dessa perspectiva analítica, a segunda função assume uma posição hierarquicamente dominante em relação à primeira, desenhando a "memória" e o "patrimônio" como parte de uma totalidade definida em termos mágicos e religiosos, deslocando assim os significados laicos ou propriamente políticos dessas categorias. O estudo etnográfico em que está baseada nossa análise é resultado de trabalho de campo e observação participante realizados junto a comunidades de imigrantes açorianos, nos Estados Unidos e no Brasil, ao longo dos anos de 2000, 2001, 2002 e 2003, quando tive oportunidade de acompanhar os processos de preparação, organização e realização das festas do divino espírito santo em cada um desses contextos.



Migrações na Amazônia na concepção de Ferreira de Castro
Francisca Francinete dos Santos Perdigão -

Falar da migração na Amazônia é não esquecer o legado deixado por Ferreira de Castro em suas obras.Deve-se manter vivo o espírito investigativo sobre as migrações na Amazônia.Embora com enorme atraso, o mundo está se conscientizando: a Amazônia é um dos maiores tesouros do planeta. Assim sendo, é uma preocupação a constatação histórica sobre as populações miseráveis sobrevivendo em territórios ricos e que tiveram neste contraste sua desgraça.

Trabalho especializado voltado às mulheres migrantes: o caso das brasileiras descendentes de japoneses no Japão
Lúcia E. Yamamoto
Tohoku University , Sendai, Japan
gzf06213@nifty.ne.jp

O presente trabalho pretende abordar a questão da inserção das mulheres brasileiras descendentes de japoneses no mercado de trabalho especializado, no Japão. Quando uma grande maioria das brasileiras migrantes no Japão realizam o trabalho braçal, uma pequena parcela atua como tradutoras/orientadoras de língua japonesa e portuguesa, dentro das escolas públicas japonesas. Sob a orientação dos professores japoneses, elas fazem a ponte entre o aluno/ família brasileira e a escola japonesa, ao mesmo tempo em que dão aulas de reforços de japonês e português aos alunos brasileiros que freqüentam as escolas públicas japonesas. Muitas têm o grau universitário, mas não são especializadas na área educacional.
Para realizar o levantamento dos dados relacionadas a este mercado de trabalho e as brasileiras tradutoras/ orientadoras de língua, escolhi a província de Aichi, onde se concentra esse tipo de trabalho. Vale lembrar que essa concentração se deve ao grande número de famílias brasileiras migrantes que vivem nessa região, e a necessidade de tradutores nas escolas para auxiliar na comunicação entre as escolas públicas onde estudam as crianças brasileiras e suas famílias.
Os dados começaram a ser coletados em abril de 2003 e no momento ainda está em andamento. Nesse período de um ano, foram realizadas entrevistas com essas profissionais brasileiras, abordando as condições de trabalho, as exigências profissionais, o conteúdo de seu trabalho, a satisfação e as perspectivas profissionais. Ao mesmo tempo foi feito um levantamento através da secretaria de educação sobre o funcionamento desse sistema de trabalho nos municípios. Até o momento, pude analisar que cada município adota uma política própria em relação a contratação dessas profissionais, sendo diversificado as condições de trabalho e de salário.
Durante a coleta de dados, questionei se este trabalho de tradutora/ orientadora de línguas poderia ser considerado uma abertura no mercado de trabalho especializado, às mulheres estrangeiras. Questionei ainda se esse trabalho seria uma forma das mulheres estrangeiras ascenderem profissionalmente. Com algumas análises realizadas até o momento, pude perceber que, muito restrito às necessidades das famílias migrantes brasileiras, este trabalho só tem sentido enquanto houver a necessidade de orientar as crianças brasileiras e suas famílias. Sendo assim, apesar de especializado e rentável, é um mercado de trabalho instável, assim como é o mercado de trabalho braçal. Muito aquém de uma perspectiva profissional, algumas com muitos anos de atuação continuam a fazer o mesmo tipo de trabalho, com um pequeno aumento no salário. Com relação a uma possível abertura no mercado de trabalho, até o momento pude verificar que este trabalho está restrito aos latinos americanos de língua portuguesa e espanhola, e aos japoneses que entedem uma dessas linguas estrangeiras. A profissional tradutora/orientadora não faz parte do corpo docente das escolas, sendo uma profissional de contratação provisória.
A coleta de dados do presente trabalho será feita até final de maio, e uma vez encerrada, será feita a análise mais detalhada dos dados.


"Caboverdianas da diáspora". Transformações na imigração feminina em Itália
Iolanda Maria Alves Évora
ioevora@hotmail.com
Investigadora Associada, CESA, Centro de Estudos sobre África e para o Desenvolvimento, ISEG, Universidade Técnica de Lisboa

Com base num estudo sobre os significados que mulheres caboverdianas em Roma atribuem à sua migração discutiremos os aspectos da manutenção ou transformação das razões de uma estadia num contexto de imigração. Com referência a esta migração objectivamente orientada para o importante sector do trabalho doméstico em Itália, por um lado, apontamos as formas pelas quais, tradicionalmente, a mulher caboverdiana permanece na sua condição de imigrante/expulsável/mulher negra/trabalhadora pobre, em contraste com a importância social que adquire no seu lugar de origem ao partir. Ainda, identificamos os processos pelos quais as imigrantes não se encontram inscritas na memória e na história do lugar de destino, apesar das suas estadias prolongadas e de constituírem parte importante da história migratória caboverdiana.
Neste cenário, entretanto, acrescentam-se os processos pelos quais as mulheres resignificam a sua presença em Itália e a sua ausência de Cabo Verde, somando outros argumentos ao motivo do trabalho, a razão universalmente aceite para a emigração/imigração. A partir dos seus discursos, verificamos a importância das suas práticas e condutas como membros da comunidade de caboverdianos (formada pelos que se encontram no arquipélago e também os da diáspora) como suportes aos processos de resignificação da sua experiência migratória. Discutimos, por fim, as implicações desta nova constelação identitária de "caboverdiana da diáspora, como indicadora de uma pertença restritiva em Itália ou que favorece a adesão das mulheres a várias localizações sociais em simultâneo e a vivência de experiências de vida cambiantes e diversificantes na imigração. Neste último caso, a experiência migratória das mulheres caboverdianas em Itália deverá ser abordada como reafirmação da forma de vida das pessoas que atravessam e intersectam fronteiras, apontada pela literatura mais recente como uma das verdades inquestionáveis dos nossos tempo.

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