Os filhos da África em Portugal: antropologia, multiculturalidade e educação
Neusa Maria Mendes de Gusmão (Universidade Estadual de Campinas)

Um olhar atlântico sobre a realidade negra e africana em Portugal e seu contexto privilegia, aqui, a realidade de imigrantes africanos dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) - Angola; Cabo Verde; Guiné Bissau; Moçambique; São Tomé e Príncipe - e de seus filhos no espaço da sociedade portuguesa e, em particular, na cidade de Lisboa.
Analisar os caminhos de inserção social, econômica e cultural dos africanos-portugueses ou luso-africanos (categorias imprecisas de designação de um contingente marcado pelas multiplicidades das formas de ser à partir de uma condição de origem - o mundo africano, a África), em um contexto receptor, Portugal, supostamente uma realidade a que se pertence, constitui o nexo do que aqui se apresenta. Muitos africanos migrantes são portadores de nacionalidade portuguesa, enquanto outros, nascidos em Portugal, não são reconhecidos como portugueses ou como nacionais, resultando tais fatos em dificuldades para eles, imigrantes e seus filhos e, também, para a análise que aqui se faz.
O que se discute são as possibilidades de existência de mecanismos particulares de constituição da identidade social, individual e coletiva, que informam e orientam a explicação de realidades nas quais o segmento negro se faz presente. Como entender a presença negra em solo português ?

As comunidades sino-moçambicanas e suas diásporas: questões identitárias
Eduardo Medeiros (Universidade de Évora)
edcmedeiros@yahoo.com

Ao contrário do que ocorre com a comunidade indiana, cuja presença económica concorrente dos interesses portugueses, levou a uma extensa produção bibliográfica, a comunidade chinesa de Moçambique tem-se mantido praticamente invisível. A sua presença nos tempos modernos remonta a 1858 quando, por iniciativa do governo-geral de Moçambique, foram contratados 30 operários do sul da China para virem trabalhar nas Obras Públicas da cidade-capital. Uma outra contratação virá a ocorrer em 1882 por iniciativa da mesma autoridade que pretendia até 120 súbditos chineses, embora não se saiba exactamente quantos foram para Moçambique. De qualquer modo, a sua presença foi gradualmente aumentando e, no início do século XX existiam já cerca de quatro centenas de trabalhadores, a maioria dos quais exercendo actividades como pedreiros ou cabouqueiros, picadores de pedra e ferreiros. Novas vagas de imigrantes virão a ocorrer nas décadas de 20, mas foi a partir dos anos 40, e mais particularmente nas duas décadas seguintes, que a comunidade se fortaleceu. Em 1974, as estatisticas indicam uma cifra ligeiramente superior a 4.200 indivíduos para a cidade da Beira e um número um pouco inferior a 4.000 em Lourenço Marques.
Tal como ocorreu em outras partes, estes imigrantes tentavam manter a sua identidade através da fundação de escolas, sociedades de entreajuda, associações desportivas, sociedades secretas, etc., algumas das quais com objectivos de beneficência. Mas devido à escolarização, ao desporto e casamentos mistos, as novas gerações, nadas em Moçambique, começaram a integrar a sociedade colonial, tornando-se oficialmente cidadãos portugueses e sino-luso-moçambicanos culturalmente.
Após a Independência de Moçambique, grande parte dos elementos desta comunidade transferiu-se para outros países. Em Portugal, na zona da Grande Lisboa, no Algarve, e elementos espalhados pelo país. No Brasil, a fixação ocorreu nas cidades de S. Paulo e Curitiba; nos Estados Unidos da América, em Nova Iorque, São Francisco e Los Angels; no Canadá, em Toronto e Quebec; por último, alguns foram para Macau e Hong Kong, tendo já começado a regressar a Portugal, mantendo todos, no entanto, contactos entre os núcleos espalhados pelo Mundo, numa Rede Diaspórica.

Desigualdades brasileiras: estrangeiros em São Paulo como topografia da alteridade. Territórios luso afro brasileiros
Maura Pardini Bicudo Veras (PUC - São Paulo)
mmveras@pucsp.br

No contexto da transnacionalização da economia e da constituição da sociedade informacional, a sociedade urbana - a cidade - sofrem efeitos das inovações tecnológicas que revolucionam a comunicação, a sociabilidade, alterando as configurações espaciais, a dinâmica, o acesso à cultura e aos equipamentos. A cidade capitalista, entretanto, continua a apresentar questões recorrentes: desigualdades socioespaciais, exclusão, segregação e, enfim, pobreza e miséria crescentes.
No contexto do estágio de desenvolvimento brasileiro, as metrópoles representam o locus da produção, do fluxo dos capitais internacionais e também, espaços de conflito, múltiplas sociabilidades e territorializações. Procuramos apreender a configuração dos territórios de imigrantes portugueses na cidade de São Paulo, ao longo do século XX até a atualidade, bem como dos afrodescendentes e africanos, caracterizando-os em seus padrões culturais e representações da alteridade.

Nipo-brasileiros e "brasileiros": identidades e alteridades
Marcelo Alario Ennes (Universidade Camilo Castelo Franco)
m.ennes@uol.com.br

Como pensar as relações entre nikkeis e brasileiros ao longo da história da cidade de Pereira Barreto? Como identidades foram (re)definidas a partir de relações sociais entre os vários grupos sociais presentes na cidade? Até que ponto, imigrantes japoneses e seus descendentes incorporaram elementos da cultura brasileira e, vice versa, até que ponto elementos da cultura japonesa, por meio das relações sociais, redefiniram costumes, hábitos, valores e práticas sociais de brasileiros na cidade? Esse é um estudo que partiu do pressuposto de que relações étnicas, estabelecidas a partir de processos migratórios, não podem ser pensados por meio dos conceitos de assimilação e homogeneização cultural. A pesquisa foi desenvolvida com base em coleta de depoimentos de moradores da cidade pertencentes tanto à colônia japonesa quanto à comunidade em geral. As informações coletadas foram analisadas, principalmente, a partir dos conceitos de habitus e de campo de autoria de Pierre Bourdieu. Pereira Barreto é um município localizado a 630 km à noroeste da capital do Estado de São Paulo. Foi fundado a partir de um empreendimento de colonização japonês no final dos anos de 1920. No entanto, entre 1930 e 1950, ocorreram um conjunto de transformações que levou ao esvaziamento da colônia. Em 1940, a colônia japonesa representava mais de 50% da população e em 1991, menos de 5%. Os imigrantes japoneses inseriram-se na estrutura produtiva da cidade, sobretudo, como pequenos e médios proprietários rurais. Já os brasileiros, que mudaram-se para a cidade logo após a sua fundação, empregaram-se como trabalhadores assalariados nas propriedades dos imigrantes. A partir da emancipação política do município, no final da década de 1930, observou-se a chegada de um novo contingente de brasileiros. Nesse caso, tratava-se de um grupo ligado a atividades administrativas.
A análise das relações étnicas, mais particularmente, do processo de re(definição) de identidades foi desenvolvida com base em campos sociais nos quais desenvolveram-se relações de amizade, relações familiares, eventos culturais entre outros.
A pesquisa revelou uma realidade multifacetada em que se observa múltiplas combinações e possibilidades de construção de identidades e de relações de alteridades. Imigrantes japoneses e seus descendentes incorporam elementos da cultura brasileira sem deixar de auto representar-se com "japoneses"; descendentes nipo-brasileiros, apesar de auto representarem-se como "brasileiros", sofrem o estigma que lhe é imposto pela comunidade local e vê-se preso a uma rede de relações, cujo pertencimento lhe é garantido por sua origem étnica; Brasileiros criados em famílias nipo-brasileiras, incorporam elementos da cultura japonesa e são incorporados pelos mecanismos de solidariedade e ajuda mútua da colônia; descendentes nipo-brasileiros constroem sua identidade a partir de relações de alteridade que vivencia com o país e a cultura de origem de seus pais. Com base na perspectiva metodológica adotada e nos dados coletados podemos observar um processo complexo, no qual a construção de identidades e as relações de alteridade aparecem como parte de um movimento pendular e contínuo. Identidades e relações de alteridade são (re)construídas por meio de relações concretas mas que não são definitivas e se mostram abertas para novas (re)definições.

 

Desigualdades Sócio-espaciais e Exclusão na Metrópole de São Paulo
Lucia Maria M. Bógus (PUC São Paulo)
Suzana Pasternak (Universidade de São Paulo)

Inúmeros são os trabalhos sobre a RMSP e as análises acerca das mudanças no padrão redistributivo da população e das atividades econômicas na metrópole. Este não pretende ser apenas mais um trabalho sobre o tema, mas objetiva agregar novas informações às já disponíveis, a partir do uso de uma metodologia específica, a qual possibilita analisar, entre outros processos, a redistribuição espacial da população ocupada, no período 1980-1991 e posteriormente 2000, utilizando-se de informações censitárias.
Nossa unidade de informação são os setores censitários. Trabalha-se com informações acerca da população ocupada, agregando-se os setores com população residente entre 9.000 e 20.000 ocupados, expressas nas CATS (Categorias Sócio-Ocupacionais). Com o uso de análises fatoriais, essa população (classificada de acordo com as CATS) é distribuída em áreas homogêneas que apresentam configuração interna e distribuição espacial distintas em cada um dos períodos estudados.

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