A construção de ideias e redes do nacionalismo galego a respeito de Portugal na época moderna.
Gonçalo Cordeiro Rua (Grupo GALABRA - Univ. Santiago de Compostela)
Faculdade de Filologia - Universidade de Santiago de Compostela

Para o galeguismo, de marcado cunho progressista desde o seu surgimento na segunda metade do século XIX , Portugal constituiu sempre um complexo referente, a respeito do qual se foram construindo e projectando diversas imagens e ideias. Essas ideias, que em parte outros grupos se viram obrigados a incorporar, conhecem um desenvolvimento forte na década de setenta, altura em que se fabricam ou reelaboram boa parte das ideias hoje vigorantes nas elites culturais e políticas galegas actuais. É também esta a época em que estabelecem contactos de índole política e cultural que vão constituir redes e canais pelos quais de desenvolvem esses contactos e relações. Ora, o nacionalismo galego não apresenta homogeneidade neste sentido, como também não quanto aos seus objectivos políticos e culturais o que conhece a sua homologia na esfera cultural. O presente trabalho caracteriza e analisa estes comportamenteos e estratégias.

 

Presença e referência portuguesas nas estratégias sócio-culturais dos grupos políticos na Galiza tardo-franquista.
Roberto Lôpez-Iglésias Samartim (Grupo GALABRA - Univ. Santiago de Compostela) samartim@usc.es

Na década de 70, no período que vai desde os últimos anos da ditadura franquista até aos primeiros anos da transição democrática, produz-se no Estado Espanhol um forte acúmulo de energia por parte dos grupos opositores que preparam as suas posições e programas de acção perante a eventualidade da queda do regime. O importante papel de construção e substituição do interdito espaço político institucional que a cultura joga em casos de oposição a regimes totalitários, acrescenta-se, no caso galego, com o próprio processo de construção autónoma, política e cultural que se pretende, com diferentes graus, por parte dos vários grupos opositores. Numa Galiza, aliás, em que diferentes tradições político-sociais construíram diversas imagens de Portugal, e para as quais o 25 de Abril será acontecimento de improtante magnitude. A presente comunicação tem como objecto apresentar a síntese das várias visões fabricadas nesta época no quadro das estratégias e objectivos dos grupos que, em boa medida, definem os modos de relacionamento que se praticam e postulam na Galiza actual a respeito de Portugal.

 

Republica Velha: anticlericalismo, liberalismo e imprensa pela luta da legalidade (Sobral, 1900-1924)
Chrislene Carvalho dos Santos (Universidade Estadual Vale do Acaraú)
chrislene@bol.com.br

Desde meados do século XIX, os movimentos de livre pensamento e anticlericalismo marcaram profundamente a sociedade contemporânea. A crise das religiões cristãs tradicionais, os avanços do pensamento materialista, racionalista e científico, liberalismo e a questão da democracia, o surgimento de novas formas políticas de pensar o poder, fizeram parte da difusão das idéias anticlericais e de livre pensamento.
A imprensa era o espaço de luta dos valores contemporâneos no Ceará, especificamente em Sobral. E representava a antinomia entre a sociedade moderna e o clericalismo. A modernidade deveria combater as pretensões clericais de ascendência através da irreligião, do poder político laico forte, de uma legislação concisa, através da liberdade de cultos, do ensino científico não religioso. O papel do poder político e constitucional seria o de garantir a liberdade de consciência. Dentre os jornais analisados estão A Lucta, Correio da Semana(da Igreja Católica), O Rebate, cearenses; a Revista Liberal, de circulação nacional.
Na propaganda anticlerical o projeto de laicização da sociedade passava pelo necessário desmantelamento da Igreja Católica vista como uma instituição incoerente, imoral e propagadoras de formas de dominação que mantinham os homens no conformismo, na ignorância e na miséria, calando anseios de rebeldia, liberação e progresso. Contra a Igreja, devia-se investir forte na educação laica, valorizando a racionalidade, a cultura, o trabalho, a igualdade, a moralidade pública, a ética pessoal e social, as artes, a sensibilidade, e uma espiritualidade desvinculadas dos cabrestos de dogmas e instituições, etc. Era fundamental a completa separação de Igreja e estado, da política e religião.
Cabe destacar o caráter maniqueísta da propaganda anticlerical: de um lado, livre pensadores e anticlericais, representando a razão, o progresso, a civilização, a ciência, a liberdade, a sociedade, a aspiração justa; de outro, a Igreja e seus membros, representando a hipocrisia, a ignorância, o atraso e a miséria, tudo que era nocivo. Algo assim como um verdadeiro cancro que deveria ser extirpado o quanto antes, ainda que por métodos enérgicos, conforme defendiam algumas alas. A decadência de alguns países, como Portugal e Espanha, era intimamente associada a influência da Igreja Católica. Se o Brasil quisesse progredir devia livrar-se do clericalismo, do jesuitismo, do domínio católico, sob pena de se condenar ao imobilismo, ao atraso, ao definhamento e a asfixia. A ciência, essencial para este progresso, seria sempre perseguida pelas forças clericais lançando mão, para isso, de todos os meios ao seu dispor.
Em Sobral, essa disputa política, social e moral culminou, após 9 anos de oposição intensa, com o assassinato do diretor do Jornal A Lucta, em pleno pleito eleitoral, com 24 tiros por ter criticado a falta de vigilância legal para o momento. Crime que o grupo democrata explorou e que a oligarquia e a diocese abafou. Esse tipo de cena sangrenta, não foi isolado, alguns trabalhos como Afrânio Carvalho, em Raul Soares: um líder da Republica Velha, Rodolpho Telarolli, em Poder Local na Republica Velha. Era uma das formas de disputa para fazer valer direitos representativos e democráticos.
O que surge até agora, é um tecido cultural riquíssimo para a elucidação e melhor compreensão de diversos aspectos não muito claros porém repleto de espaços para jogos políticos os mais sedutores, curiosos e interessantes, embates de vontades, poderes e influências, de dissimulação, de interesses escusos em posturas, atos e discursos, de ideários febris, sonhadores, utópicos e delirantes, de utopias transformadoras em nome de interesses comunitários locais, nacionais ou, até mesmo, mundiais, através das quais determinada concepção de sociedade deveria ser colocada em prática. Porém, o elemento de união foi a crença, por vezes contraditória, na existência de verdades e ideais que apontavam o "verdadeiro Destino Natural do Gênero Humano", definindo e justificando todas as suas ações e argumentações, expressando-se não somente através da imprensa, mas também em manifestações e ações políticas - nem sempre bem sucedidas.


Àfrica no imaginário social brasileiro
Artemisa Monteiro (Universidade Federal Piaúi)
artemisasociologa.bissau@bol.com.br

"A diversidade das culturas humanas está atrás de nós à nossa volta e à frente. A única exigência que podemos fazer a seu respeito é que cada cultura contribua para a generosidade das outras."
Claude Lévi-Strauss

Antes de tratar de pluralidade cultural como forma de desvendar o mito africano no Brasil, é importante refletir sobre a concepção da cultura. A cultura não é um simples conceito que se limita no sentido original da palavra(que significa cultivar, criar, etc.), mas sim, no cuidado do homem coma natureza , com a alma humana, com o corpo das crianças com a sua educação e formação. A cultura é os costumes, as tradições língua, a raça, a religião, enfim, os valores da diversidade humana. A identidade africana construída e defendida no Brasil pelos movimentos negros, através de um elo escravocrata é insuficientes para representar a rica diversidade da cultura africana.

Ao abordar o tema sobre a África, é necessário que busquemos mostrar aspectos positivos de sua realidade, pois o que sempre foi mais tratado corresponde exatamente á idéia expressa nos grupos (escola, mídia, etc.), as distorções geradas no imaginário social pela hegemonia do pensamento social das elites, uma África de sofrimentos, miséria, de guerras de escravos, endêmicas de leão, onças, lobos, assim por diante, etc., etc. "No Brasil, com raras exceções, não se estuda história da África". A população, majoritariamnete descendente de africanos, é incapaz de reconhecer uma de sua matrizes formadoras da sua identidade a não ser através de estereótipos, um continente exótico, primitivo, miserável, ignorante, violento, os famosos três Ts(tarzan, tribo, e tambor), como ensina o professor José Maria Pereira, do CEAA- Centros de Estudos Afro-Asiáticos".
Na África continental pode-se encontrar varias etnias com diferentes culturas e costumes até dentro do mesmo país se verifica pessoas da mesma nacionalidade, mas com culturas deferentes, pois falam línguas diferentes (existem varias etnias, cada uma com suas linguagens).
A generalização da África no Brasil, pode-se esclarecer através de novos estudos sobre aquele continente, que está em constantes transformações sócio-culturais, que todos convivem em diferentes graus, compartilhando um legado heterogêneo de valores, pluralismo, comportamentos e atitudes que formam a sua diversidade cultural. A diversidade cultural do continente refere-se, portanto, a uma ampla variedade de experiências que está na base da criatividade e da singularidade de seus povos.
A riqueza e a diversidade culturais dos africanos são exemplos de que o fenômeno da cultura não existe fora e isolada dos contextos em que se produzem as identidades, que essas são o seu substrato mais profundo, portanto a África estática e todo homogêneo que ainda permeia no imaginário social brasileiro, só existem no Brasil, e na cabeça de certos grupos sociais.
Dessa forma, tendo em vista o fato de que a formação de identidade de um povo passa, necessariamente, pelo processo de reconhecimento de suas peculiaridades especificas, ou seja, daquelas caraterísticas que os diferenciam dos demais, a aceitação dos modos de ser dos outros opera como um elemento central do próprio processo de auto-identificaçaõ.

Falar do imaginário africano no Brasil, é também falar da escravidão que foi submetido ao povo africano nas terras brasileiras, os homens, em grande maioria, mas também mulheres, de todas as regiões foram trazidas para Brasil, de onde hoje são Angola e as duas Repúblicas Congolezas, a Democrática e a Popular, do inicio ao fim do trafico, para todos Os grandes portos brasileiros, Recife, Salvador, São Luiz Rio de Janeiro; Golfo da Guiné e das áreas interioranas que ali convergem, para as "minas gerais", por sua experiência em mineração, mas também para Maranhão e Bahia, negros Moçambique designação dadas àqueles que eram trazidos da costa oriental africana principalmente após a pressão inglesa contra o tráfico ao norte do equador, já nas décadas iniciais do século XIX. Nas décadas de século XIX, Nina Rodrigues (1964), fazia coro com o racismo cientifico e deplorava o futuro do Brasil. ele acreditava que o Brasil tinha jeito, desde que, através da mestiçagem, se 'levasse" com a genes branca, superior, o sangue do povo brasileiro daí "febre" e a intensidade da política imigratória patrocinada pelos sucessivos governos brasileiros, até Gertulio Vargas.

No seu livro Brasil e África - outro Horizonte (1964), José Honório Rodrigues apresenta valiosa pesquisa a respeito da campanha legislativa para impedir a entra de imigrantes não brancos, no Brasil. Segundo ele, do inicio da republica até o fim do Estado novo "continua dominante o pensamento de embranquecer o povo brasileiro e evita a entrada de grupos não europeus, os dominantes, os superiores". "O decreto -lei numero 7667, de 18.1945, dispõe no seu artigo II: atender-se-à, na admissão dos imigrantes, a necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as caraterísticas mais convenientes da sua ascendência européia (1964.p...). A partir da criativa obra do antropólogo Gilberto Freire, nas décadas de 30, em seu livro Casa Grande Senzala, que teve enorme impacto na reformulação do pensamento social das elites brasileiras, é de 1933- as elites brasileiras puderam escolher entre racismo explicito e uma nova concepção mais conveniente da questão racial".

Foi às colônias portuguesas na África, e voltou com o Luso -Tropicalismo, um conceito que tentava explicar a habilidade toda especial do português para levar aos trópicos os valores da civilização ocidental. De inicio, alguns cientistas sociais perceberam a necessidade de valorizar as iniciativas dos movimentos sociais do meio negro, observando que cabia à população negra um papel importante na superação da discriminação e das desigualdades raciais. Mas adiante, reconhecendo que a perpetuação do racismo não era algo meramente residual, um resquício do passado. social. É parte da ampla e irreprimível vontade da maioria do povo brasileiro se conhecer melhor, para ser melhor e construir uma sociedade melhor.

Portanto, interessa compreender , analiticamente, quais os traços dessa mitificação da África no Brasil presentes nos movimentos negros teresinenses, especificamente, o movimento "Coisa de Négo".

poderíamos, então, falar do "mito da africanidade brasileira"? será que este mito não estaria estimulando a discriminação e o preconceito, ao invés de paziguar seus efeitos da discriminação, como acredita o movimento negro organizado?

Quanto ao mito da africanidade nos grupos sociais, posso afirmar, que ainda permanece no pensamento social brasileiro o mito sobre a África em relação a sua cultura, história, e sua formação identitária, devido a ausência da história africana nos currículos escolares, e o descaso com que este vem sendo transmitido, levando sempre em conta o elo escravocrata. Para movimento negro organizado a cultura africana se constrói através da cosncientização do que venha a ser negro, sem despir dos seus valores étnicos, ou seja preservar as raízes da sua formação identitária através dos adressos, cabelos, roupas com cores da unidade africana (integrante do movimento negro).

Alguns ativistas acham que a demostração cultural dos movimentos negros teresinenses não é diferente da África, como por exemplo os significados das cores nos vestuários, trancinhas, enfim os trajes, e etc... (integrante do movimento negro).

Mas convém lembrar que na África estes cores das roupas não têm os mesmos significados com os do movimento negro, existem sim esses cores na Bandeira do país apontando para outros sentidos simbolizando e contextualizando a época dos acontecimentos.

"A África não pode ser reduzida a uma entidade simples, fácil de entender. Nosso continente é feito de profunda diversidade e de complexas mestiçagens. Longas e irreversíveis misturas de culturas moldaram um mosaico de diferenças que são um dos mais valiosos patrimônios do nosso continente".

No total dos estudantes entrevistados 75% acham que a África é um continente sofredor, que ao longo da sua historia foi escravizado, de AIDS, e guerras étnicas por isso que a miséria impera, o correto teria sido separar os povos por etnias. Diferentemente dos ativistas do movimento negros, que acham que tudo que hoje abala a África é conseqüência do eurocentrismo excessiva por parte das potências econômicas.

A idéia que se tem da África , quase na maioria da sociedade brasileira, é referentes aos africanos escravos, Zumbi dos Palmares, entre outros, assim como das relações estabelecidas pelo sistema de negro preguiçoso, burro e etc. ,

As definições baseadas numa base exótica, "como se os africanos fossem particularmente diferentes dos outros, ou como se as suas diferenças fossem o resultado de um dado de essência".

Segundo os ativistas do movimento negro, um dos objetivos de cultuar a cultura africana é romper com o etnocentrismo, coma imposição do único padrão cultural que ainda permeia na sociedade brasileira. "No Brasil continuamos escravos desse conceito, até porque o conceito da beleza ainda hoje é europeu, desabafa a Artenildes de grupo afoxa. Por isso a nossa luta continua através da representação cultural africana em formas de dos nossos ancestrais para mostrar as pessoas oportunidades de verem uma outra forma de cultura".

Resumindo , nota-se a grande vontade dos movimentos sociais ditos negros na preservação da cultura matriz africana, seja com representações africanas seja com as de mistificação ou imaginária.

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