Potencialidades na indústria de ideias na Galiza actual para o relacionamento galego-luso-afro-brasileiro
Elias J. Torres Feijó (Grupo GALABRA - Univ. Santiago de Compostela)

A dimensão internacional da comunicação e dos sistemas culturais é cada vez mais pertinente para a sobrevivência e o modo de existência das comunidades culturais quanto tais. Em casos de sistemas culturais em construção, como no caso galego, evidenciam-se com maior força os elementos que nucleiam as diferentes ideias programáticas para o mesmo e as disputas que tenhem lugar por impor umas ou outras. A língua e a sua codificação, alcança um valor central nessa construção, porque define, por um lado, a identidade e identificação da comunidade, ad intra, e, por outro, a sua relação com outros sistemas em virtude do seu maior ou menor afastamento ou do seu grau de identificação, ad extra. Mas não é a língua o único elemento considerar. A presente comunicação visa anotar as potencialidades culturais de relacionamento e os modos em que podem processar-se, tomando em conta particularmente a perspectiva galega.

 

Uso das Redes Multimédia de Interação em busca da inclusão técnico-científica da comunidade agrindustrial brasileira
Bartira Brandão Bastos (Universidade de Aveiro)
bartira@ca.ua.pt

O objectivo central da presente comunicação é apresentar os resultados obtidos num estudo que se centrou na análise do uso das redes multimédia de interacção e respectivo serviços associados como mediador comunicacional no processo de construção cooperativa do Documento de Agricultura Sustentável da Agenda 21 Brasileira.
Durante o ano de 1992, foi realizado no Brasil, na Cidade do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento com o objetivo de fixar um compromisso com relação à mudança do padrão de desenvolvimento para o século XXI. Neste evento foi aprovado o documento Agenda 21 Global, no qual firmou-se o programa internacional para o desenvolvimento sustentável, ficando transparente o objetivo de mudança das diversas nações para um modelo de civilização que busque o equilíbrio ambiental e a justiça social. A Agenda 21 registrou formalmente a proposta do desenvolvimento de um processo de planejamento participativo que se realize a partir da análise da situação de uma região, município, estado ou país planejando o futuro de forma sustentável. Esta proposta previa a participação dos diversos segmentos sociais, tanto na discussão dos principais problemas, quanto na busca pela formação de parcerias e compromissos para a solução desses mesmos problemas em curto, médio e longo prazos, devendo produzir
produtos concretos, exeqüíveis e mensuráveis, acertando um compromisso com os diversos segmentos, garantindo desta forma a sustentabilidade dos resultados. O Brasil, juntamente com outros países signatários, responsabilizou-se pela elaboração da versão nacional da Agenda 21 Global, que foi denominada de Agenda 21 Brasileira, que previa o desenvolvimento do Documento de Agricultura Sustentável, cujo objetivo central foi o desenvolvimento de uma estratégia que viabilizasse simultaneamente o uso sustentável dos recursos naturais e as novas relações econômicas compatíveis com esta sustentabilidade, contando com parcerias entre a sociedade civil e o Estado, tendo ainda como conditio sine qua non a participação não só de cientistas como também representatividades dos órgãos patronais, sindicais e Ongs que estivessem envolvidas com a agroindústria.
O presente trabalho focou-se no estudo da construção deste documento - Documento de Agricultura Sustentável, onde se procurou analisar o uso das redes multimédia de interação como forma de viabilizar a participação dos diversos actores da comunidade agroindustrial brasileira, buscando-se uma maior representatividade frente a aspectos setoriais e regionais, minimizando problemas relacionados ao espaço geográfico e de tempo. Procurou-se analisar aspectos relacionados à utilização das novas tecnologias de comunicação e informação e os diversos atores do processo de intervenção, tornando-se claro, no decorrer da investigação, a existência de duas tipologias de intervenientes: atores agentes, onde o perfeito domínio das novas tecnologias otimizou seus processos cognitivos vindo a potencializar de forma decisiva as contribuições oferecidas, propicializando a inclusão técnico científica proposta; e outro segmento de atores que não conseguiram atingir tal inclusão devido à sua falta de literacia tecnológica, o que gerou constrangimentos ao nível da capacidade de participação nas discussão usando as tecnologias infocomunicacionais como mediadores do processo.
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa ex-pos-facto onde se utilizou como instrumentos um questionário misto aplicado aos pesquisadores colaboradores, e duas entrevistas: uma livre e discursiva, aplicada ao Coordenador Temático e uma semi-estruturada, aplicada à Coordenadora Logística da construção. A análise dos dados obtidos através da aplicação dos instrumentos de pesquisa aqui destacados serviram de subsídio para contextualizar o uso das redes multimédia de interação, levando ao desenvolvimento de reflexões, por um lado, acerca da exclusão digital como dificultador da inclusão técnico científica proposta pelo governo brasileiro, por outro lado, mostrando as implicações positivas nas rotinas cognitivas e sociais dos atores agentes.

Mídia e juventude: experiências do pública e do privado na "sociedade da informação"
Rosa Maria Bueno Fischer (Centro de Estudos Africano e Asiáticos do IICT Lisboa) rosamar@plug-in.com.br


Discuto resultados de pesquisa feita com grupos de jovens brasileiros, sobre sua experiência com a mídia, relativamente aos modos pelos quais nossa cultura vem construindo vida pública e vida privada. Apresento análise de produtos televisivos destinados a esse público, bem como dos debates com grupos de recepção, a respeito de como se caracterizaria para esses jovens o "agir humano", a vida em comum, as trocas e a convivência entre os "diferentes". A análise articula os conceitos de poder e subjetivação em Foucault, sociedade individualizada em Zygmunt Bauman, e as problematizações de Hannah Arendt sobre o agir humano e as esferas pública e privada. Mostro como nossos jovens experimentam conflitos entre o vazio de compromissos relativos ao agir humano, e a proliferação de práticas vinculadas à emoção, à exposição da intimidade e à competitividade narcísica.
Tenho como pressuposto, a partir de Arendt, que o público - e, portanto, o político - só pode ser pensado como ação agonística, acontecimento, irrupção, interrupção dos processos automatizados, totalizantes. As perguntas que nortearam a pesquisa foram: como pensar o político hoje, se nossas atuais concepções e práticas de democracia, de pluralidade, de vida em comum vêm junto com a associação da política à corrupção, em que a propaganda e o marketing político assumem um caráter de exposição contínua da privacidade dos governantes e dos candidatos a cargos públicos? Como pensar em práticas coletivas de existência, se a ordem é a competitividade generalizada, que coloca no centro a disputa pelo corpo mais belo, mais jovem e mais "trabalhado"? Como incentivar o olhar generoso sobre o outro, a escuta do outro, quando todo o investimento se faz no sentido de apresentar aquilo que é da ordem do público como um fardo indesejável? Como enfim estariam nossos jovens aprendendo o sentido da vida, através da mídia com que diariamente trocam algum tipo de experiência?
Fundamentada em Bauman e nos dados da pesquisa, observamos que uma das aprendizagens básicas de hoje é a de que esta é, sobretudo, uma "sociedade dos indivíduos". Nela, o bem ou o mal que produzimos ou que sofremos parece que se deve exclusivamente a cada um de nós. É esse axioma que parece conduzir as narrativas das vidas na TV, como vimos analisando em nossa pesquisa sobre programas de televisão para o público jovem (por exemplo, reality shows como o Big Brother, que no Brasil já está em sua quarta edição, entre tantos outros produtos). Não há ali relato de destinos individuais claramente ligados aos modos mais amplos de funcionamento da sociedade: o que sobressai são vidas individuais, um certo modo de ser, social, que seria a princípio "dado", inquestionável, impossibilitado de expor-se a negociações que envolvam as pessoas para além do próprio mundo individualizado.
Cada estudante que participou dos encontros mostrou-se diante de um tipo de produção imaginária de seu tempo, sobre a sexualidade jovem, sobre os conflitos geracionais, sobre os modos de conceber a atividade política, sobre os preconceitos de classe, de etnia, de gênero, e pôde pensar sobre essa produção, na condição de alguém que não se vê obrigado a resultados imediatos a partir de suas intervenções. O convite, aceito por cinco grupos de jovens de 15 a 25 anos, de escolas públicas e particulares, de Ensino Médio e de Universidade, foi o de pensar sobre o modo como estamos sendo imaginados, nomeados, interpelados. A proposta foi a de pensar sobre a complexidade desse mundo de imagens e de viver uma "desordem" criativa, referente ao agir humano de Arendt, que aposta na vida como acontecimento, como experimentação do político nos amplos espaços do social.


Media, Imigração e Minorias Étnicas
Clara Almeida Santos (Instituto de Estudos Jornalísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra)
clarasantos@interacesso.pt

De que forma os media portugueses, em particular a imprensa e a televisão, retratam as comunidades imigrantes que escolheram Portugal como país de destino? Esta é a pergunta fundamental a que esta comunicação pretende dar resposta.

A constatação de que as temáticas subjacentes ao fenómeno da imigração e minorias étnicas entraram nas rotinas dos media em Portugal está na base deste trabalho. Este fenómeno constitui um sinal claro de uma ordem socioeconómica globalizada, onde a par com as questões de justiça de trabalho e redistribuição económica, adquirem crescente visibilidade as questões culturais vinculadas à identidade, etnicidade e pluriculturalidade. O aumento dos fluxos de imigração, em quantidade e em diversidade, criou uma uma nova consciência reflexiva sobre o Outro e a Diferença nas sociedades de acolhimento, neste caso, em Portugal. Esta consciência, por um lado, tem eco nos órgãos de comunicação social, por outro, é motivada pelos próprios media. Dado o papel preponderante da comunicação social na construção do espaço público e da opinião pública, a análise das peças produzidas pelos media dá-nos um retrato da imagem por eles próprios traçada.

Durante o ano de 2003 foram exaustivamente recolhidas as peças jornalísticas referentes à temática da imigração em oito jornais, juntando títulos de periódicos ditos de referência e periódicos ditos populares (Público, Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Expresso, O Independente, Correio da Manhã, A Capital e 24 Horas) e no prime time alargado dos quatro canais de televisão de sinal aberto (RTP1, RTP2, SIC e TVI), num total de 1538 peças de jornal e 224 peças de televisão.

Através dos dados estatísticos obtidos em função de uma grelha de análise com 25 variáveis agrupadas em três grandes categorias (Forma, Conteúdo e Discurso) pretende-se traçar algumas linhas de força do comportamento dos media em relação aos imigrantes e minorias étnicas.
São fundamentalmente três os eixos de análise propostos:

1. Rotinas dos media - Existirá uma imprensa especializada na temática da imigração? Qual é o espaço consagrado às peças sobre a imigração? Como é que a natureza dos media analisados (imprensa e televisão) se manifesta na construção da imagem dos imigrantes? Existirão diferença entre televisão e imprensa, entre jornais ditos de referência e jornais ditos populares?
2. Agenda dos media - Como é que o processo de agenda-setting dos media se reflecte nas peças sobre imigração e minorias étnicas? Quais foram os acontecimentos que marcaram a agenda em 2003? De que natureza é essa agenda: política, social, económica? Existirão fontes consolidadas no fornecimento de material para a construção de notícias? Quais as fontes institucionais? Que actores sociais surgem nas peças sobre a temática da imigração? Que vozes são citadas nessas peças?
3. Construção da imagem dos imigrantes e das minorias étnicas - Quais as correspondências e as dissonâncias entre a imagem que os media veiculam e a "realidade estatística" da imigração e das minorias étnicas em Portugal? Quais são os temas fundamentais associados à imigração e como é que são tratados? Qual é a presença dos imigrantes e das minorias étnicas nas peças que os retratam?

Da resposta a estas perguntas poderá sair, em linhas gerais, um retrato dos imigrantes e minorias étnicas em Portugal feito através das lentes dos media. Imagem nítida ou desfocada?

 

O negro no Brasil: passado, presente, humor e mídia
Kassandra da Silva Muniz (Universidade de Campinas)
kassy_sm@yahoo.com.br

Um importante lingüista nos colocou em um congresso o seguinte desafio: ao invés de analisarmos o texto pelo texto, ou o discurso pelo discurso, talvez seria a hora de prestarmos atenção às formas como nos relacionamos com os discursos produzidos na nossa sociedade. Dessa forma, o discurso, mais do que um lugar no qual podemos analisar a relação entre língua e ideologia, deve ser visto como uma prática, uma forma de agir socialmente, uma forma de ação no mundo. É a esse desafio que essa comunicação pretende responder ao falar sobre identidade e minorias. Para isso, teremos que falar sobre sujeito, discurso, construção de identidades/ alteridades, exclusão e discriminação e, essas questões, cada uma sozinha, dão margem a várias comunicações e, mesmo assim, não se esgotaria as possíveis respostas. Mas a quais perguntas essas respostas remetem?
Nessa comunicação, pretendemos analisar alguns elementos relativos à problemática da identidade na pós-modernidade, objetivando tecer algumas considerações ao fato de como o discurso humorístico e midiático podem nos ajudar a analisar a relação que a identidade tem com a questão hoje amplamente discutida das minorias, em nosso caso, da minoria negra. Além disso, constitui também nosso objetivo analisar como esses discursos/práticas discriminatórias e excludentes "apenas" são reflexos das discussões no século XIX e meados do século XX, a respeito da superioridade/inferioridade das raças e, obviamente, da unânime visão da raça negra como sendo inferior às outras. Algumas perguntas que nos fazemos e que tentaremos responder são as seguintes: Quais os discursos que ficam implícitos quando contamos piadas sobre negros? Quem é esse sujeito que conta a piada? Quem é o sujeito que é retratado? O "novo" espaço que o negro adquiriu na mídia brasileira, de papel de escravo ou serviçal em novelas a garoto propaganda de objetos de perfumaria, é um reconhecimento de seu valor ou uma perpetuação do discurso discriminatório presente no humor, uma vez que a necessidade de um desodorante para os negros se dá porque este "precisa de uma dupla proteção"? Em que medida há a reprodução das discussões sobre raça e etnia ocorridas nos séculos XIX e XX?
Na tentativa de responder a estas perguntas, analisamos piadas e propagandas que retratam esse "tipo social", que de tão estereotipado em nossa sociedade brasileira, possui uma imagem, negativa em sua maioria, cristalizada em nossas práticas. No discurso midiático, que tem por característica/objetivo seduzir o seu expectador, persuadi-lo para que obtenha o produto que se quer vender, esperávamos não ver, ao menos não na sua superfície, a perpetuação do discurso discriminatório em relação aos negros. Já no discurso humorístico, as freqüentes associações entre o negro e o macaco, entre o negro e a inferioridade intelectual, entre o negro e a "superioridade" sexual deformada e anormal expõem de forma mais crua, embora sob o julgo de ser "uma piada", este discurso que transforma a diferença do negro em discriminação, desigualdade e exclusão. Percebemos, através das análises, que se quisermos pensar na constituição de um sujeito que considere o Outro e não o veja através de simulacros, teremos que construir um "tempo de subjetividade", que só poderá se dar se pensarmos numa alteridade que seja construída/constituída por meio da ética.

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