"Veja só o que eu fui capaz de fazer! Não está lindo!?" - a emancipação através de um curso de formação de adultos.
Teresa Sarmento (IEC - Universidade do Minho)

A exclamação que serve de título à proposta de comunicação foi dita por Lília, mulher de 28 anos, casada, mãe de dois filhos, (auto)excluída da escola aos 12 anos de idade, desempregada de uma fábrica onde trabalhava oito horas diárias em que mecanicamente dobrava turcos para serem enviados para exportação.
A Lília integra um grupo de vinte formandas que têm em comum o facto de serem mulheres, com abandono precoce da escola, desempregadas, discriminadas socialmente (nesta localidade não há desemprego masculino, enquanto que o desemprego feminino tem vindo a aumentar), num processo de reconstrução das representações sobre a escola entendendo-a como possibilitadora da aquisição de novo estatuto sócio-económico.
O pasmo que Lília manifesta pela descoberta de capacidades que julgava não possuir é reveladora dos 'efeitos' promovidos pela frequência do curso de educação e formação de adultos, coordenado por uma associação de desenvolvimento local. A aposta conjunta desta associação e da EFA - Educação e Formação de Adultos - na promoção da emancipação de públicos excluídos, levou-nos a reflectir nas expectativas, nos processos e nos compromissos sociais que se assumem ao pôr-se em movimento uma acção desta natureza.
No presente trabalho pretende-se apresentar a síntese de uma avaliação externa sobre um curso de auxiliar de acção educativa, para mulheres desempregadas, centrando-nos no segundo dos dois objectivos que delineamos:
1 - Analisar a adequação e a pertinência da formação para o seu objecto central, ou seja, a de preparação como auxiliares de acção educativa;
2- Analisar de que forma a realização deste curso é percepcionado pelas formandas como significativo no seu desenvolvimento pessoal enquanto pessoas adultas;
A investigação é feita na base de uma metodologia compreensiva, com recurso à observação participante e a entrevistas de teor biográfico, de forma a podermos aceder a informações sobre as possibilidades de participação das formandas na realização do curso e da integração da formação oferecida com as necessidades e expectativas das formandas, partindo do princípio da imprescindibilidade da acção própria para a construção da autonomia reflexiva.
Ao longo do processo tornou-se evidente que as principais aprendizagens destas mulheres se centram em si próprias, numa descoberta quase diária de competências que não sabiam possuir. A sua participação na construção do seu empowerment, ou seja, na consciencialização de que possuem poder para inverter o seu trajecto de vida, cria-lhes novas expectativas que têm que ser jogadas no todo social a que pertencem, e aí coloca-se de novo o problema: expectativas que não se cumprem não serão geradoras de novas formas de (auto)exclusão?

Arte-educação para jovens de periferias urbanas como estratégia de enfrentamento da criminalidade.
Carmem Silvia Sanches Justo (Universidade Estadual Paulista) Luciana Ramim (Universidade Estadual Paulista) Joana Sanches Justo (Universidade Estadual de Londrina/PR)

No âmbito da sociedade brasileira, tem sido cada vez mais preocupantes os índices crescentes de criminalidade envolvendo jovens, e isto vem acontecendo não apenas nos grandes centros urbanos, mas também em cidades de médio porte, como Marília-SP, cuja estimativa populacional aproxima-se de 200 mil. Estudiosos no assunto têm historicamente enfatizado que fatores como pobreza, má distribuição de renda, desemprego, aumento do narcotráfico, escola ineficiente, falta de políticas públicas preventivas direcionadas ao segmento infanto-juvenil da população são ingredientes importantes no aumento da violência, embora reconheçam que nenhum deles sozinho faça crescer a massa de participação do jovem na criminalidade.
Portanto, convém ter sempre presente a articulação entre as dimensões estrutural, cultural, e também política, implicadas na compreensão da violência. Trata-se, como sabemos, de uma problemática complexa, multicausal, cujo enfrentamento depende da percepção, tanto de fatores estruturais, ligados ao empobrecimento de parcelas cada vez maiores da sociedade, como de ingredientes subjetivos, fermentados em um caldo de uma cultura violenta, xenófoba, individualista e intolerável às diferenças étnicas, sexuais etc, que tem sido a marca das relações humanas na contemporaneidade.
O estudo por nós conduzido teve como propósito implementar estratégias educacionais alternativas que se mostrassem apropriadas ao trabalho de ressocialização de alunos com freqüência escolar irregular, na expectativa de contribuir para mitigar a participação do jovem na criminalidade.
Foram desenvolvidas 12 sessões de grupo e realizadas oficinas de música e fotografia, em uma escola de ensino médio, visando construir com os 20 participantes, um espaço aberto de interlocução sobre as causas da violência, criar letras críticas de rap e produzir ensaios fotográficos sobre o bairro e a cidade.Trabalhou-se o "olhar" dos jovens através da leitura de imagens fotográficas, pautadas em questões como: O que vejo? O que sinto? O que penso? O que posso fazer para mudar?
As atividades do projeto empolgaram os alunos pelo fato de terem uma dinâmica diferente, onde os alunos podiam se expressar nas letras de música e fotografias criadas por eles mesmos. Além disso, também responderam a uma enquête, através da qual se procurou conhecer o que pensavam sobre os problemas sociais, seus medos e anseios de realização pessoal e profissional. Em suas respostas, observou-se que os pais exercem fascínio nos filhos, sendo vistos com grande admiração, como amigos e a possibilidade de perdê-los é algo que causa muita insegurança na maioria; para se divertir, os jovens gostam de estar com os amigos em passeios, bares, assistir à TV, jogar vídeo game; ser cidadãos para eles é respeitar as coisas, os outros e ajudar quando preciso. Alguns querem ser jogadores de futebol ou seguir carreira artística,cantando rap (já que o rap funciona como forma de denunciar as injustiças sociais), ou trabalhando como atores de tv. Uma parcela significativa dos entrevistados quer estudar e conseguir bons empregos e embora tenham medo do futuro, acreditam no estudo como a única maneira de mudarem suas condições de vida.
Enfim, os resultados obtidos atestaram a eficácia da arte-educação e da discussão conjunta para os jovens re-significarem suas experiências escolares e de vida, contribuindo para ampliarem sua consciência perceptiva sobre os fatores estruturais e culturais associados à violência e ao aumento da criminalidade.


Reforma Agrária no Brasil: O Programa Nacional de Educação contribui para o Desenvolvimento Rural Sustentável?
Eloy Alves Filho (Universidade Federal de Viçosa - Minas Gerais)
Arlete Salcides (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

No contexto em que se discute e avalia a eficácia do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA na promoção do desenvolvimento rural sustentável e no fortalecimento dos assentamentos rurais brasileiros, apresentamos dados de um estudo realizado no estado do Rio Grande do Sul cujo principal objetivo foi avaliar os resultados educacionais e sociais de cursos de educação profissional de nível médio e superior financiados pelo PRONERA, em execução em escola mantida pelo Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária - ITERRA-RS, fundado em 1995 pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST com a finalidade de articular educação e formação de consciência política. Cabe destacar tal iniciativa se inscreve no esforço nacional do MST e Governo Federal em defesa da formulação de políticas públicas para uma educação do campo que, não só garanta a formação básica de trabalhadores rurais, mas, também, sua formação de nível superior. A investigação incluiu estudo de campo combinando procedimentos de pesquisa quantitativa e qualitativa. Foram utilizados instrumentos de pesquisa empírica, tais como questionários e entrevistas. A pesquisa empírica desenvolveu-se, durante o mês de fevereiro de 2004, a partir de estudo amostral que envolveu a participação de 30 educandos do Curso de Normal, nível médio; 30 educandos do Curso Técnico em Administração de Cooperativas - TAC; e, ainda, 30 educandos do Curso Superior de Pedagogia da Terra. Foram realizadas entrevistas com representante do Órgão financiador, Administrador do ITERRA, Coordenadora Pedagógica e Diretora do Instituto, um educador e um educando de cada Curso. Foi possível verificar que 100% dos educandos pretendem continuar seus estudos. No geral, evidencia-se um grau significativo de satisfação com os conhecimentos adquiridos nos cursos. Questionados sobre os benefícios individuais e coletivos advindos da formação os entrevistados afirmam que acreditam que todo indivíduo "deve ser trabalhado" e que isso se faz com a educação, com a formação. Destacam que há "ganhos" individuais quanto à ética, valores e princípios e quanto à percepção da própria cidadania. Referem que a contribuição coletiva se dá quanto à postura e a consciência de por em circulação e partilhar o que for apreendido para os que ficaram no assentamento, trocando e aprendendo junto com os assentados. Sobre sua percepção se houve mudança na participação da vida cotidiana no assentamento, após concluir o curso, os entrevistados afirmaram não haver dúvidas quanto a isso, pois essa mudança é decorrência natural de sua maior capacidade de compreender os processos que caracterizam o assentamento. Considera-se que a pesquisa contribuiu, sem dúvida, para que se afirme que os esforços do ITERRA são de fundamental importância na luta do movimento por uma educação do campo, na qual se inscreve o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, cuja finalidade maior é contribuir para que as comunidades rurais brasileiras sejam legitimamente reconhecidas na sua capacidade, não só de promover o desenvolvimento sustentável no campo, mas, principalmente, somar esforços indispensáveis ao desenvolvimento social, político, educacional, cultural e econômico do País. Os Cursos financiados pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária contribuem sobremaneira para o desenvolvimento rural sustentável e para o fortalecimento dos assentamentos rurais em âmbito nacional. Considera-se que essa contribuição se dá tanto no sentido de oferecer uma formação de excelente qualidade, no que tange aos objetivos, estrutura curricular e processos de ensino e avaliação, previstos nos Planos de cada Curso, quanto no sentido de propor projetos de educação profissional indispensáveis à formação de recursos humanos para atuar junto às comunidades rurais.

A educação como proteção integral para crianças e adolescentes hospitalizados
Ercília Maria Angeli Teixeira de Paula (Universidade Estadual de Ponta Grossa)

Durante muitos anos no Brasil, crianças e adolescentes que eram hospitalizados, apresentavam problemas em dar continuidade a seus processos de escolarização. A partir da década de 50, começaram a surgir as primeiras experiências educativas dentro dos hospitais para que os pacientes mirins pudessem continuar estudando. Todavia, a presença do Estado ainda ocorria de maneira insuficiente e os projetos ocorriam de forma voluntária. Em 1994, a Política de Educação Especial proposta pelo Ministério da Educação e Cultura, reconheceu as Classes Hospitalares como direito das crianças e adolescentes hospitalizados. Entretanto, ainda são poucas as instituições hospitalares que adotam este tipo de atendimento. Na sociedade brasileira, as escolas nos hospitais representam espaços de socialização, auxílio no tratamento, produção de conhecimentos, valorização da auto estima dos pacientes, bem como possibilitam o conhecimento da realidade desses alunos hospitalizados que, em sua maioria, vivem um quadro de miséria social, são excluídos do sistema de ensino por apresentarem patologias que as escolas de origem não sabem como trabalhar e muitos são vítimas de acidentes, por realizarem trabalho infantil. Os movimentos de humanização nos hospitais brasileiros têm se expandido lentamente e embora os paradigmas atuais sejam de proteção integral às crianças e adolescentes, o Estado pouco valoriza as escolas nos hospitais como espaço de cidadania e equidade social.


A formação do sociólogo no contexto luso-afro-brasileiro. O sociólogo do futuro
Maria Beatriz Balena Duarte

(PUC Rio Grande do Sul)

Discutir, dinamizar e divulgar propostas inovadoras de formação profissional no campo da Sociologia, levadas a cabo pelas diferentes Universidades luso-afro-brasileiras, como forma de conhecer as estratégias de formação profissional e o perfil profissional proposto por estas Instituições de ensino.
Procura-se igualmente conectar em rede os profissionais destas diferentes Universidades, para compartilhar futuros programas de intercâmbio docente e discente.
Serão discutidas as experiências de ensino em sala de aula, tanto em Universidades quanto em Escolas de ensino médio e profissionalizante.
O grupo pretende abordar ainda a possibilidade de articulação de disciplinas compartilhadas contemplando o revezamento de professores.
Dar conhecimento dos projetos de ensino levados a cabo, as reformas realizadas nos currículos, os dados de ingresso evasão e as perspectivas do mercado de trabalho para os egressos dos cursos de Sociologia/Ciências Sociais. Como por exemplo o painel número 2, de autoria da Professora Wanirley Guelfi, da universidade Federal do Paraná, que mais que debater se o ensino de sociologia é importante, indispensável ou outro adjetivo qualquer indicando o seu grau de destaque entre as disciplinas escolares, é necessário compreender sua trajetória, como uma disciplina caracterizada por oscilações. Oscilações de uma disciplina ora incluída, ora excluída, ou então sugerida nos currículos do ensino médio. De 1891, quando, pela primeira vez, a sociologia foi incluída como disciplina escolar obrigatória no secundário, a 1996, com base nas diretrizes da atual LDB (9394/96), momento no qual ela consta como uma entre as disciplinas do núcleo da área das ciências humanas, sua história é pouco conhecida. Esse desconhecimento se explica quando começamos a compreender sua trajetória. Por que as oscilações? Quais os momentos de destaque dessa disciplina, predominantemente, associada ao ensino médio? Portanto, trata-se de um campo de pesquisa ainda lacunar, de uma disciplina que, por enquanto, não possui uma identidade escolar. Mas, temos alguns indicativos de que essa situação tende a mudar. De 1982 - lei 7044/82 - a 1996 - LDB 9394/96, observamos, pela primeira vez, uma movimentação nacional em torno dessa disciplina e seu ensino. Dois momentos de um mesmo processo, porém, com características diferentes. No primeiro momento (1982), a discussão envolveu, em geral, apenas os profissionais interessados na possibilidade de ver a sociologia se tornar uma disciplina obrigatória. O segundo, iniciado em 1996 com a aprovação da atual LDB, provocou também, o envolvimento das Instituições de ensino superior, em especial aquelas que ofertam o curso de Ciências Sociais ou Sociologia.
Conhecer as propostas de formação profissional para os licenciados em Sociologia e suas atividades em ensino secundário com jovens.
Estimular pesquisas e publicações em conjunto com as diferentes Universidades no que diz respeito à formação dos sociólogos do futuro.

Instituições Militares de ensino no Brasil
Julio César Gomes - Universidade Federal Fluminense

Este estudo foi desenvolvido no Centro de Estudos de Pessoal (CEP), um estabelecimento de ensino militar situada na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. As pesquisas educacionais já realizadas e em andamento no país, voltadas para o papel na sociedade, consideram, em sua quase totalidade, as instituições civis de ensino.A pouca permeabilidade das instituições militares de ensino não contribui para os estudos nesta área do conhecimento, fato que dificulta a compreensão da conduta dos funcionários fardados, haja vista os vários momentos em que os militares saíram dos quartéis para se envolverem em problemas de ordem política, conferindo às Forças Armadas um papel intervencionista por tradição. Neste sentido, o objetivo desse trabalho é analisar a formação pedagógica do militar que coordena o ensino nas escolas do Exército. Essa analise constitui um diálogo permanente entre a abordagem teórico-metodológica sobre a memória e a experiência de investigação, que tem como estudo o Curso de Técnica de Ensino (CTE), desenvolvido no CEP. As análises foram realizadas numa perspectiva crítico-social, utilizando-se referenciais de: FOUCAULT, FENTRESS, LE GOFF, HALBWACHS. A metodologia utilizada consta de uma pesquisa qualitativa, baseada em levantamento bibliográfico e documental, envolvendo o estudo do cotidiano das práticas educativa no CEP. A decisão de iniciar um trabalho em Memória Social nos limites de circunscrição do Exército Brasileiro decorre da impossibilidade de se discutir criticamente as Forças Armadas e o papel social da educação militar fora do marco de uma concepção, igualmente crítica, das relações que se estabelecem entre as instituições militares e a estrutura da sociedade na qual se insere a prática educativa militar A pesquisa realizada permite apontar algumas características da memória no processo educacional do Exército. As avaliações classificatórias e o distanciamento entre professor/instrutor e o aluno, características pertencentes à visão tecnicista, revelam na memória do ensino militar as limitações do seu processo ensino aprendizagem. A própria condição de chefe militar, personificada na figura do instrutor, é uma especificidade da educação militar que deve ser considerada, pois, a existência de alunos subordinados revelam professores com posição de chefes e não de educadores, conduzindo à subordinação emocional e intelectual que criam comunidades imobilistas que não criam ou reestruturam os fatos. Desta forma CTE desenvolveu-se em torno de alguns eixos tais como: o controle do processo educacional (grade curricular) em todas as suas dimensões; conservação do poder através de avaliações escolares rígidas e diretamente atreladas a carreira do militar e finalmente a concepção de pesquisa vinculada à acumulação de capital. Neste sentido, o presente estudo insere a complexa reflexão em torno da relação memória e educação, em especial na educação militar no Brasil, estabelecendo uma interlocução, tanto conceitual como conjuntural, com as diferentes nuances que configuram tal reflexão nos cenários brasileiro e internacional.
Palavras chaves: Memória, Ensino Militar, Formação Pedagógica e Técnica de Ensino.

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