Representações Estudantis do Processo de Avaliação das Instituições de Ensino Superior
Sónia Cristina Miranda Cardoso ( Universidade de Aveiro)
scardoso@csjp.ua.pt

Inserida num Projecto de Investigação da Secção Autónoma das Ciências Sociais, Jurídicas e Políticas da Universidade de Aveiro - "Avaliação, Auto-análise Institucional e Gestão das Instituições de Ensino Superior" - onde se aborda a problemática do impacto da Avaliação Institucional no Governo e Gestão das Instituições de Ensino Superior (IES), a autora pretende apresentar as principais linhas orientadoras do seu Projecto de Doutoramento em Ciências Sociais, que tem como assunto predominante o modo como os estudantes do Ensino Superior constroem representações sobre o processo de Avaliação das IES e os contextos multivariados de factores que os condicionam nessa mesma construção.


Inovações pedagógicas e a reconfiguração de saberes no ensinar e no aprender na universidade
Maria Isabel da Cunha (UNSINOS)
mabel.sul@terra.com.br

A Universidade, na perspectiva de fazer rupturas com a racionalidade técnica, têm sido objeto de inovações que almejam uma nova configuração de saberes, ultrapassando a perspectiva dicotômica da modernidade. Ainda que as experiências nesse sentido nem sempre sejam majoritárias, o estudo da genealogia das mesmas tem sido um objeto recorrente de pesquisas que, nessa condição, procuram contribuir para a mudança paradigmática. Nesse contexto, a investigação "Pedagogia Universitária: possibilidade de ruptura em tempos neoliberais", através de estudo de casos, vem estudando, no âmbito de uma universidade brasileira, a reconfiguração de saberes relacionados com o ensinar e o aprender. Selecionamos, para análise nessa comunicação, experiências que, saindo do território formal da academia, encontram, no contato direto com a população, a possibilidade de articulação entre saberes científicos e saberes populares, lançando mão de novas racionalidades que atingem, especialmente, as relações entre teoria-prática. Essas experiências parecem fundamentais, especialmente no contexto das políticas públicas de avaliação institucional que, no Brasil, vêm estabelecendo ethos regulatórios que privilegiam a lógica da produtividade, sem valorizar a diferença e sua condição emancipatória.

A ampliação da participação democrática na Educação: uma reflexão acerca dos Conselhos Escolares
Celene Tonella e Simone Pereira da Costa - Universidade Estadual do Maringá
celene@wnet.com.br

A Constituição Brasileira de 1988 inaugura uma nova institucionalidade que objetiva romper com os padrão tecnocrático/centralizador que norteou as políticas públicas em períodos anteriores. Propostas da descentralização das políticas sociais e de ampliação da participação popular no processo decisório passaram a ser colocadas em prática através de legislação específica de cada área. A área de educação foi uma das que mais rapidamente viu a implementação das novas diretrizes: o nível de ensino fundamental passou a ser de responsabilidade quase que exclusiva do poder municipal

Além de problematizar as vantagens e desvantagens do novo modelo, o presente trabalho aborda principalmente o formato que adquiriu no nível municipal a ampliação da participação da sociedade através do surgimento dos conselhos escolares. Tais conselhos, ao lado de outros obrigatórios por lei Federal como é o caso do Conselho da Merenda Escolar e do FUNDEF, compõem o novo quadro. Esses conselhos têm inspiração, além da Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB/1996) mas são formatados por leis municipais e a composição é paritária respeitando sempre 50% da proporcionalidade ao segmento dos pais e mães de alunos.
Discutiremos neste trabalho uma pesquisa realizada em um universo de mil conselheiros da cidade de Maringá (288 mil habitantes ). Trata-se de uma localidade administrada pelo Partido dos Trabalhares que também assumiu recentemente o executivo federal. Um dos pontos fortes do programa do Partido é a ampliação do formato participativo, isto é, a criação de fóruns amplos que viabilizassem a intervenção da sociedade civil no processo decisório.A pesquisa buscou fundamentalmente aferir a qualidade da participação, isto é, se estaria ocorrendo um efetivo processo de inclusão de novos sujeitos no processo decisório ou se trata de apenas o cumprimento de uma agenda política pré-elaborada. Buscou-se, ainda, mensurar a capacidade (e interesse) do poder público (no caso, a Secretaria de Educação) em implementar as decisões tomadas nos novos fóruns. Para dar conta do proposto a pesquisa buscou aferir os seguintes itens: perfil sócio-democrático, interatividade entre os conselhos e a administração municipal e capital social/ trajetória política dos conselheiros.



O momento equilibrista: a universidade como espaço/tempo de (re)construção de memórias e identidades
Mônica Maria Teixeira de Souza Corbucci (Universidade Estácio de Sá)

Este texto apresenta algumas reflexões suscitadas durante a execução de projeto de pesquisa desenvolvido no ano de 2002 na UNESA/Jacarepaguá, com apoio de bolsa PIBIC do CNPq, em projeto de pesquisa integrada sob a coordenação da Profª. Drª. Clarice Nunes. A pesquisa consistia em articular um grupo de estudos em torno da história da educação no bairro, para auxiliar no desenvolvimento de projetos de monografia. A universidade em questão, apesar de privada, tem como clientela do curso de Pedagogia alunos provenientes das camadas populares. Via de regra, os alunos apresentam grande dificuldade em acompanhar as exigências acadêmicas, principalmente da pesquisa e da monografia. Este projeto foi realizado com alunas da faixa etária de dezoito a cinqüenta e quatro anos; havia desde jovens recém saídas do nível médio até professoras aposentadas com riquíssima experiência de magistério. O corte sócio-econômico apresentava espectro também bastante hetrogêneo, visto que havia merendeira, atendente de telemarketing, dona-de-casa, religiosa, balconista, dona de loja, faxineira. No processo de discussão da pesquisa, o grupo acabou por refletir sobre sua própria memória e identidade, além de discutir a proposta da elaboração de uma história da educação para Jacarepaguá. O presente trabalho trata da discussão teórico-metodológica, a partir da articulação dos eixos memória, identidade e pesquisa, que concentrou as atenções do grupo na etapa de levantamento bibliográfico e elaboração do quadro teórico e conceitual. O diálogo travou-se principalmente com André (1995; 1997), Benjamin (1980; 1985), Burke (1992), Canclini (1995), Canen (1997), Gagnebin (1982), Habermas (1980), Hall (1998), Le Goff (1984), Mazzi (1992), Thompson (1992) e Young (1989). Iniciamos abordando as dificuldades encontradas pelos alunos de graduação em Pedagogia ao elaborarem e desenvolverem uma monografia como trabalho de conclusão de curso. Discutimos a importância da pesquisa na formação do professor. Entendemos que se trata da elaboração de uma nova proposta identitária para este profissional, visto que se visa forjar, no professor, o pesquisador. Acreditamos que trabalhar com os conceitos de memória e razão comunicativa contribuem decisivamente para este processo. Buscou-se compreender a modificação, no espaço escolar, da memória como memorização vazia de significado para a memória como geradora de uma história contra-hegemônica. O trabalho com memórias passa a constituir-se, do ponto de vista epistemológico, como um paradigma interativo. Procuramos recuperar a memória como dimensão de uma relação intersubjetiva que estabelecemos com as gerações passadas, não importa o quão distantes estejam do ponto de vista cronológico. O resgate da memória e da competência comunicativa passaria pela construção de uma capacidade cognitiva e afetiva intersubjetiva, reestruturadora, capaz de devolver ao ser humano uma noção de totalidade que vem sendo solapada pela colonização do mundo da vida pelos sistemas burocráticos geridos pela razão estratégica. Por fim, alertamos para a necessidade de se estabelecer uma perspectiva epistemológica para sustentar a discussão e evitar o novo modismo relacionado à memória que começa a penetrar no ambiente escolar, com iniciativas voltadas para a construção de árvores genealógicas, diários, histórias de vida, muitas vezes sem atentar para o fato de que muitas vezes as memórias dos alunos provenientes das camadas populares trazem atrás de si histórias de humilhações e desenraizamentos que preferem ocultar.
Palavras-chave: formação de professores, pesquisa, identidade, memória, história.


O papel da Universidade na construção de um novo humanismo no terceiro milénio
Kátia Mendonça (universidade Federal do Pará)

O processo de mundialização em curso, se propiciou a expansão das fronteiras do conhecimento, apresentou um lado perverso que foi a homogeneização do homem e aquilo que Hans Jonas chamou de vazio ético, expresso no predomínio do mercado que rompe com os laços de solidariedade e faz aumentar vertiginosamente a violência nas suas mais diversas facetas, simbólica, psíquica, física e nos mais diversos âmbitos que vão do privado ao público.
Além disso, o conceito de nação que sustentava os laços sociais até meados do século XX entra em crise e se vê substituído pela ausência de laços sociais. Infelizmente, uma das formas perversas de reação a isso tem sido a criação de laços sociais não-solidários e calcados na intolerância típica dos diversos tipos de fundamentalismo religioso espalhados pelo mundo.
A concepção de cidadania sofre, nesse quadro de desmoronamento das culturas nacionais, um forte golpe, especialmente em países ditos periféricos, nos quais ela sequer chegou e se instalar em seus moldes iluministas clássicos. Em um mundo de exclusão o cidadão passou a ser aquele que consome, e como tal, tem direito e acesso a certos serviços e conhecimentos. O mundo do cidadão-consumidor.
A democracia segue tendo nesses paises um caráter mais formal do que substantivo.
É aí que algumas matrizes do pensamento político do século XX se mostram importantes porque contêm os germes de uma visão integral do cidadão, de sua dimensão ética, de sua raiz comum - não obstante a singularidade de cada qual expressa em culturas, nacionalidades e religiões diferentes - enquanto um ser portador de uma humanidade comum.
Gandhi e Václav Havel, introduziram práticas e idéias políticas nas quais o predomínio da não-violência e da ética - a ética aqui não a ética formal e neutra, mas uma ética que possa servir de guia à ação - ensejam a criação de uma nova cidadania, de uma nova forma de inserção e de ação na esfera pública, na qual o homem se inscreve como portador de uma unicidade com o todo.
Especialmente Václav Havel, objeto deste trabalho, aponta pra concepções de cidadania e de democracia fortemente marcadas pela ética. Ser cidadão é ter uma responsabilidade moral, estar aberto a uma responsabilidade coletiva maior, admitir a co-responsabilidade pelo destino do conjunto, comprometer-se.
Ora essa perspectiva pressupõe a crença no que ele chama de Horizonte Absoluto, a crença no Ser, enfim, a crença no Transcendente. É a noção de transcendentalidade que irá abrigar a exigência ética de uma revolução individual precedendo a revolução política.
A caminhada em direção ao indivíduo concreto é para Havel um ato fundamentalmente mais profundo que deve preceder a construção da democracia e de suas instituições.
Tanto a reflexão como a trajetória política de Havel, apontam para a necessidade urgente de se fazer o debate sobre ética e política ser aprofundado pela sociologia política, que é a proposta deste ensaio.

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