Considerações acerca do Complexo Científico -Tecnológico nas Sociedades Industriais
Brena Paula Magno Fernandez (Universidade Federal de Santa Catarina)
brena@porttal.com.br

Foi nas modernas sociedades industriais que o crescimento econômico, associado à idéia de progresso, tornaram-se as bases para qualquer projeto social futuro. A ciência e a tecnologia, num processo ascendente que se inicia no sec. XVII, com a Revolução Científica, atravessa o Iluminismo (sec. XVIII), e culmina na Revolução Industrial (sec XIX), são identificadas, com nitidez da mesma forma crescente, como os fatores críticos no processo de realização desse ideário de crescimento e desenvolvimento econômicos de longo prazo.
Como o historiador da ciência William Leiss (1972) já assinalara, a afinidade entre o ethos do capitalismo e o espírito da ciência moderna é impressionante. Tanto a ciência moderna quanto o capitalismo deixam-se reger por imperativos abstratos (a subordinação às regras do método e às leis da oferta e demanda, respectivamente). Em ambos os casos uma finalidade universalista é almejada, o que conduz à supressão de circunstâncias particulares de suas práticas. Por fim, ambos, ao conduzirem-se por uma lógica interna autônoma, promovem a anulação dos interesses humanos imediatos, abdicados em prol da satisfação humana em um nível qualitativo mais elevado e de longo prazo.
Dadas essas semelhanças em suas características estruturais, Leiss nos adverte que a combinação entre ambos resultou extrema e particularmente fértil para os dois lados: enquanto a ciência moderna aliada à tecnologia pôde promover um grau de controle sobre os processos naturais impensável nos sistemas de filosofia natural que a precederam, uma economia orientada para o mercado conseguiu, alicerçada pelo desenvolvimento científico-tecnológico, um nível de abundância material também incomparável a qualquer outro sistema econômico anterior.
Assim, a sociedade capitalista é modelada pelas modificações científicas e tecnológicas. Ciência e tecnologia, por sua vez, são modeladas pelas práticas, valores e objetivos de um sistema econômico fundamentado na máxima e mais eficiente produção de mercadorias.
Como propôs Weber (1905), o mesmo processo de racionalização que norteou o desenvolvimento das sociedades modernas teria possibilitado, num primeiro momento, a disseminação e consolidação da ciência e de toda uma cosmovisão científica, e depois, sob a influência do ascetismo protestante, impulsionado um ethos empreendedor essencialmente capitalista. Como foi nos países onde a ciência atingira seu máximo desenvolvimento que se iniciou o processo de industrialização, não deveria restar dúvidas acerca dos profundos impactos que a estrutura de organização de um empreendimento veio a causar sobre o outro, e vice-versa.
Um aspecto particularmente notável nas modernas economias industriais é que elas parecem requerer uma expansão perpétua. Por uma parte, isso pode ser explicado como reflexo da lógica interna ao próprio capitalismo. Por outra, essa tendência pode também ser entendida como um reflexo do método científico, que, extrapolando seus limites originários, passaria a exercer influência sobre a lógica da produção industrial (LADRIÈRE, 1977) - aquilo que denominamos o processo de "cientifização da indústria".
Por outro lado, um dos grandes marcos no processo de "industrialização da ciência" (RAVETZ, 1971; SALOMON, 1994), foi que os sistemas de avaliação, controle e gerenciamento das atividades, típicos da indústria, passam a ser paulatinamente incorporados às atividades científicas, incluindo aqui as universidades.
Provavelmente em decorrência da eficácia das aplicações da ciência e do próprio método científico, estabeleceu-se uma interação profunda de influências recíprocas entre a ciência e o sistema econômico capitalista, que é própria das sociedades industriais avançadas. A ciência natural moderna e a ordem social capitalista têm uma origem histórica comum, além disso, foi a ciência que forneceu ao capitalismo moderno o paradigma de uma "objetividade" sem sujeito. O duplo processo de "cientifização da indústria" e "industrialização da ciência" -- essa relação poderosa, todavia delicada, de reforços, estímulos e influências recíprocas entre a prática científica e o modo de produção econômica, em paralelo ao qual essa prática nasce e se consolida, é, portanto, o eixo da discussão que esse texto pretende desenvolver.

Inovação e Sociedade Civil: um debate em construção
Thales de Andrade (PUC-Campinas, São Paulo)
thales@sigmanet.com.br

Nos países avançados, a problemática da inovação adentrou na agenda de diferentes setores como governos, corporações, universidades, centros de pesquisa e movimentos sociais. Desde os anos 80, os países da OCDE vêm alterando o padrão de apoio à indústria, pois ao invés de subvencionarem empresas através de contratos de P&D específicos e pontuais, os governos desses países passaram a criar condições para que a atividade produtiva se organize de forma sistêmica e integrativa. A justificativa para esse investimento social na inovação se baseia na tendência à integração entre pesquisa, desenvolvimento tecnológico e atividade produtiva, articulados dentro de uma nova perspectiva de gestão do conhecimento. A nova economia, baseada na aquisição contínua de conhecimento e informação, investe em rearranjos intersetoriais e multidisciplinares para a manutenção das condições de competitividade da produção industrial. Novos arranjos organizacionais são criados com vistas à otimização da prática tecnológica e aprimoramento das sinergias entre instituições de pesquisa e a esfera produtiva. O conceito de sistemas nacionais de inovação adquire grande primazia durante os anos 90, advogando que as interações entre agentes econômicos, as instituições de pesquisa e organismos governamentais estipulam ações recíprocas que geram a capacidade de desenvolvimento. Nesse sentido, políticas locais e setorizadas passam a ser imprescindíveis para a compreensão do potencial inovativo de uma nação e região, independentemente da atividade específica de cada setor e das oscilações da demanda.
Percebe-se que o tema da inovação tem se mantido estreitamente ligado a preocupações de ordem econômica, como competitividade, pressões da demanda e investimento, com a ênfase na construção de modelos e abordagens quantitativas. A perspectiva schumpeteriana de ligação entre a capacidade tecnológica e o desempenho econômico teve grande influência nessa agenda de pesquisa.
Mais recentemente, algumas correntes das Ciências Sociais têm chamado atenção para o desafio preemente de se incluir variáveis socioculturais nas avaliações e estudos sobre a implementação da inovação em contextos locais e nacionais. No debate atual sobre a dinâmica da inovação, os cientistas sociais têm detectado uma grande ausência: a participação da sociedade civil e a problemática da cidadania. Como ampliar os componentes da tradicional tripla hélice (universidade, Estado e empresa) e compreender o envolvimento de setores não produtivos, leigos e não governamentais no processo inovativo? Faz-se necessário estabelecer novos conceitos e categorias para a inserção de movimentos sociais, consumidores e trabalhadores na compreensão das formas de inovação tecnológica e social. A sociologia construtivista trouxe para esse debate questões essenciais, como o caráter social das práticas laboratoriais e o conceito de redes de atores (actors networks), que alargam a compreensão da atividade tecnológica para as relações complementares e controversas envolvendo agentes técnicos e leigos.
O conceito de ambientes de inovação representa um enfoque diferenciado acerca das possibilidades de construção da prática da inovação, visando articular tecnologia, economia e vida social de uma maneira diferenciada e aberta, distante do padrão exclusivamente produtivo. As novas arenas informacionais e o uso múltiplo e desregulamentado das redes tecnológicas têm possibilitado o florescimento de organizações e entidades sociais inusitadas e cada vez mais atuantes. A banalização do acesso às redes de computadores permite a comunidades pobres criarem e recriarem suas formas de inserção social em formatos e circunstâncias antes inusitadas, modificando assim a compreensão do processo inovativo.
O presente trabalho trata, portanto, da problemática da inovação tecnológica, retomando o surgimento do conceito e a importância da Economia em sua consolidação. E aborda ainda a importância das Ciências Sociais na incorporação da sociedade civil na discussão das práticas inovativas.
Palavras-chave: Inovação, Ciências Sociais, Tecnologia, Sociedade civil.

Gestão do conhecimento no contexto empresarial: competência e tecnologia.
Maria Hilca Cunha Mendes (Universidade Potiguar-UnP)
hilcamendes@oal.com

A gestão do conhecimento organizacional passa, por um conjunto de processos que governa a criação, a disseminação e a utilização de conhecimentos no âmbito das organizações.É aquela em que o repertorio de saberes individuais e dos socialmente compartilhado pelo grupo é tratado como um ativo valioso, capaz de entender e vencer as contingências ambientais, sociais e tecnológicas que viabilizam a geração, a disponibilidade e a internalização de conhecimento com o propósito de subsidiar a tomada de decisão. O estágio de desenvolvimento econômico de um pais ou região pode ser avaliado, em função das suas atividades na área da inovação e criação de empresas de base tecnológica, predominantes na iniciativa privada, atuam como uma verdadeira alavanca que impulsiona a transformação de conhecimentos em riquezas e acumulação de capital físico e intelectual.A revolução tecnológica no século XX gerou grandes mudanças econômicas e industriais, no mundo inteiro. Vira o seu efeito atuarem como se não existissem fronteiras nacionais. A transferência de novas tecnologias para lugares distantes e a interligação das empresas, no mundo inteiro criaram um novo ambiente competitivo. O investimento permanente nos recursos humanos pode representar a diferença entre acompanhar a mudança ou ficar paralisado perante a competitividade dos mercados. Em economias abertas e competitivas, são os investimentos nas pessoas e no desenvolvimento de novos produtos/serviços e tecnologias que melhor enfrentam o choque das mudanças.A importância da aplicação da tecnologia e do empreendedorismo no desempenho e na competitividade das empresas é indiscutível. Atualmente, novos produtos e processos dão às empresas a possibilidade de compensar seus recursos escassos ou debilitados. Eles são superados pela utilização da tecnologia e da inovação.A estratégia é aprender. A organização que privilegia aprendizagem ainda é muito novo no universo administrativo-empresarial. As empresas Learning Organization, começaram se estruturar e a se multiplicar nos últimos anos. Aprender significa vantagem competitiva douradura. Portanto, partindo de revisão da literatura, pesquisa documental e de campo em empresas brasileiras, nossa intenção foi desenvolver um modelo integrado e constatou-se que a Gestão do Conhecimento implica, necessariamente, o desenvolvimento de competências inter-relacionadas nos planos estratégicos, organizacionais e individuais. É difícil imaginar uma sólida estratégia corporativa que não coloque a aquisição, desenvolvimento e manutenção de habilidades e competências individuais e coletivas como ponto central para o sucesso competitivo.Por competência entende-se: um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao individuo. As empresas de serviços globais focam o desenvolvimento de competências estratégicas por meio do crescente compartilhamento do conhecimento na rede corporativa. De fato, as competências essenciais fornecem a base para o realinhamento continuo do modelo social da empresa, das rotinas dinâmicas e da base de conhecimento mediante a metaaprendizagem para construir e sustentar vantagens competitivas.Empreendedores melhores preparados terão excelentes condições de saber quando, como e onde iniciar seus empreendimentos, quais as alternativas para traçarem suas carreiras, de que forma maximizar seus objetivos, não só para satisfação pessoal, porém, também para a melhoria da sociedade.


Paternidade e DNA: a certeza que pariu a dúvida
Claudia Fonseca (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
claudiaf2@uol.com.br

Atualmente, no Brasil, existe uma onda de testes de paternidade DNA (nos laboratórios públicos e em clínicas particulares) que levanta reflexões interessantes quanto à interseção das esferas médica e jurídica e sua influência sobre as relações de gênero e de parentesco na sociedade contemporânea. Para analisar esse fenômeno, acompanhamos nas diferentes instâncias jurídicas em Porto Alegre (na Defensoria da República, nas Audiências de Conciliação, na Vara de Família e no Serviço Médico do Tribunal) pessoas envolvidas em disputas jurídicas em torno da identidade paterna. Investigamos também como recentes mudanças nas leis de reconhecimento paterno são acionadas pelas diferentes personagens do cenário. A partir desses dados, levantamos a hipótese de que, longe de inspirar maior tranqüilidade, a simples existência do teste atiça as dúvidas. Tendo repercussões profundas sobre a nossa maneira de 'saber' quem é pai, a situação descrita nesse paper traz novos desafios para uma antropologia do conhecimento, voltada para a análise das crenças (inclusive científicas) ocidentais.
Palavras-chave: paternidade, reprodução, direito familiar, tecnologia do DNA, relações de gênero.


Cuerpo, Ciencia Y Tecnología
Dra: Ana Martínez Barreiro (Universidad de la Coruña España)
anamb@udc.es

Neste artigo, pretendemos analisar as principais mudanças sociais operadas sobre a imagem social do corpo na cultura contemporânea. Trata-se, igualmente, da controvérsia social sobre o futuro dos corpos, explorando o papel da ciência da tecnologia nas novas concepções acerca do corpo, da vida e da morte. O interesse deste trabalho radica em reconhecer o carácter profundo das interligações que existem entre a vida social e o corpo e "a socialização da natureza" .Expressão que refere o facto de que certos fenómenos que dantes eram naturais ou que vinham dados pela natureza agora têm um carácter social, isto é, dependem das nossas próprias decisões. A reprodução humana é um exemplo disso. As transfusões de sangue, os transplantes de órgãos, as procriações artificiais, as fecundações in vitro, os experimentos em seres humanos, as manipulações genéticas,


Rosemary Segurado
Escola de Sociologia e Política de São Paulo (PUC/SP)
roseseg@uol.com.br

As tecnologias de informação e de comunicação associadas à biotecnologia vêm ocupando um espaço cada vez mais significativo no que diz respeito às experiências corporais e subjetivo dos indivíduos na atualidade. Considerando a importância em se pensar as relações existentes entre a subjetividade e os cuidados com o corpo, abordaremos como essa relação passou a ser potencializada e mediada pelas novas tecnologias e pelas mudanças, ainda em curso, no sistema capitalista.
Na era contemporânea, os meio de comunicação se dedicam à mediação de um conjunto de diversas noções que perpassam pela relação dos indivíduos com seu próprio corpo. Através de programas TV, revistas especializadas, sites e programas de rádio se destinam parte considerável das programações na divulgação de informações sobre os cuidados com o corpo e a saúde de maneira geral, além dos cuidados com a beleza a partir dos padrões estabelecidos por estéticas dominantes do mercado da moda. Basta acessar qualquer um desses meios para que algum especialista responda as questões mais diversas e aponte as soluções eficazes para os problemas vividos com o próprio corpo. A proliferação de programas com esse tipo de enfoque já faz parte do repertório das mídias há algum tempo e rendem altos índices de audiência ou venda (no caso das publicações), apresentando bons resultados financeiros.

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