(Re) Significar o audiovisual na Educação Popular
Autora: Maria Madalena Torres (Universidade de Brasília)
cursopie@fe.unb.br

No Brasil, Coutinho (2002) traz à memória a década de 30, marco da primeira tentativa oficial do trabalho com cinema na escola. Quando da criação do Instituto Nacional de Cinema Educativo - INCE, sob a direção de Edgar Roquette Pinto, cujo desejo maior era educar o povo brasileiro a partir do melhor que o cinema pudesse oferecer. Para tanto, convidou Humberto Mauro (diretor do Museu Nacional), a fim de que, juntos, organizassem uma vasta filmografia a serviço da educação, pois o cinema tornara-se um evento social, capaz de conquistar crianças, jovens e adultos, por meio de sua linguagem sedutora, faltando apenas sua utilização na escola.
Esse projeto foi tão audacioso que só Humberto Mauro produziu mais de quinhentos filmes voltados à educação. Contudo, a maior dificuldade era criar estratégias para promover a interação, nos espaços educacionais, entre os alunos e as linguagens cinematográficas.
Na década de 60, o educador brasileiro Paulo Freire, pôde vivenciar, com intensidade, a experiência do "cineminha" de slides nos morros e nas favelas, para alfabetizar jovens e adultos, utilizando-se de imagens projetadas em slides. Contam as obras desse autor que os educandos ficavam maravilhados com essa tecnologia que muito contribuiu para a metodologia de trabalho didático na educação popular.
Mesmo com essas iniciativas, em se tratando da linguagem audiovisual na educação, a escola dá um tratamento pouco reflexivo a essas linguagens, visto que, em múltiplos sentidos, ainda não conseguiu sair da linguagens oral e escrita, deixando, portanto, de perceber a riqueza de outras linguagens que se apresentam no contexto da construção do conhecimento.
Nesse sentido, a pesquisa que está sendo desenvolvida no Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia - CEPAFRE, no Distrito Federal. Sobre o uso do audiovisual na alfabetização de jovens e adultos, é uma experiência de educação popular muito interessante e visa perceber se há relevância das linguagens fílmicas para o trabalho dos educadores deste centro, além da recepção dos alfabetizandos a essas linguagens.
Os interlocutores dessa pesquisa são dois grupos da mesma entidade, sendo uma turma de vinte e cinco (25) alfabetizandos e a outra com vinte (20)alfabetizadores.
As categorias até agora percebidas nessa pesquisa, são: o cinema de realidade, a memória, a imagem, o tempo escolar e o tempo midiático, além das narrativas.
Essas são algumas linguagens que o cinema suscita em seus espectadores, e de modo mais específico, provoca muitos debates no interior da escola.
Nesse propósito, o educador no seu processo de formação necessita muito mais que saber lidar com o audiovisual, precisa de formação continuada que lhe possibilite condições para encaminhar com segurança os diversos conhecimentos, as diversas linguagens, que vão muito além da oral e da escrita.
Nesta proposta de pesquisa, os filmes tem sido exibidos com a preocupação de propor conhecimentos, aprofundar as linguagens já citadas, evitando empobrecer o filme somente como recurso didático de ilustração de conteúdos, uma vez que, o filme como obra aberta desperta nas pessoas, a oportunidade de repensar a vida, sentimentos de nostalgia, memórias, lembranças, narrativas, num processo estético de fruição.

ALMEIDA, Milton José de. Imagens e Sons - A nova Cultura Oral. São Paulo: Cortez, 2001.
ARAÚJO, Inácio. Cinema: o mundo em movimento. São Paulo: Scipione, 1995.
CARRIÈRE, Jean - Claude. A linguagem secreta do cinema. Tradução Fernanda Albagli/ Editora, 2003.
FREIRE, Paulo e GUIMARÂES, Sérgio. Sobre Educação (diálogos), V.2, Rio de Janeiro,1984. Coleção educação e comunicação.
COUTINHO, Laura Maria. Aprendizagens, Tecnologias e Educação a Distância. In.: Módulo 1, Pedagogia para Professores em Exercício no Início de escolarização - PIE, Brasília: UnB, 2002.

As Tecnologias de Comunicação e Informação no processo pedagógico
Maria Herminia Benincá Schenkel (Universidade Federal de Santa Catarina) maria_herminia@hotmail.com

É de grande importância o estabelecimento de uma relação dialética entre a literacia para os média e a sua utilização reflexiva, que se revela imprescindível,, para o exercício efetivo de uma cidadania crítica. Na sociedade industrial, dominante até meados do século XX, as principais fontes de produtividade eram a Ciência e a Tecnologia. Hoje, estas forças foram substituídas pelas novas tecnologias de informação e a produtividade depende muito mais do conhecimento e da informação, a sociedade se tornou informacional. [1]
As desigualdades culturais são produzidas e reproduzidas pelas novas formas de vida. Os conhecimentos dos setores marginalizados são desqualificados criando-se um círculo fechado de desigualdade cultural. Nesses processos fechados, os setores privilegiados ditam seus hábitos em função da diferenciação em relação ao resto da população. Por outro lado, há também a magia do status que as opções culturais da elite exercem sobre amplos setores da população.
A escola fazendo parte desta sociedade tenta também impor uma ideologia dominante que se dá através de transmissão de idéias e comunicação de mensagens, seleção e organização de conteúdos explícitos do currículo, interiorizando as mensagens comunicacionais [2]
O objetivo da escola contemporânea deve ser o de atenuar em parte o efeito da desigualdade e preparar o indivíduo para lutar e defender-se no cenário social. A escola precisa dar subsídios para que os alunos sintam-se integrados em sala de aula e assim sintam-se motivados a uma participação mais ativa no processo de ensino e aprendizagem e na sociedade em que atuam.
Numa simbiose de fatores ligados às novas conquistas de alguns setores do conhecimento (comunicação, psicologia, ciências cognitivas, inteligência artificial, entre outros) e com o impacto de um mundo cada vez mais conectado e sujeito à força das imagens que são traduzidas em subjetividade, sensibilidade e imaginação, tende a educação a abrir-se para o contato com as artes, com o lúdico, com o afetivo. Mas muitas vezes, pela existência de um modelo a seguir muito apegado aos princípios da educação tradicional, essa abertura ainda se encontra restrita aos discursos e distante do processo de ensino-aprendizagem.
A integração dos mass media, como forma de renascer na escola a emoção que está dentro de cada um, supõe uma educação global, onde todos sejam sujeitos da prática pedagógica. As TIC podem desempenhar um importante papel nesse modelo educacional descrito, onde os alunos participam ativamente na construção do conhecimento.
A partir destas reflexões, durante o mestrado em Gestão Curricular realizado na Universidade de Aveiro - Portugal, fomos a campo observar como estão as escolas de uma região do Estado de Santa Catarina - Brasil em relação a integração das TIC no cotidiano escolar. Foram escolhidas escolas estaduais de dois municípios - Florianópolis e São José. A investigação focou o uso das tecnologias nas aulas de Língua Portuguesa; a formação dos professores (inicial e continua) nesta área e os projetos existentes na escola. A não inclusão das tecnologias em escolas públicas brasileiras, de forma crítica e reflexiva, fará mais uma vez que nós sejamos analfabetos, desta vez analfabetos icônicos.. Ainda não vencemos o analfabetismo no país e já temos mais este desafio para ser enfrentado.
Assim sendo, queremos colocar os resultados desta investigação, juntamente com a reflexão sobre as tecnologias em discussão no VII Congresso Luso-Afro-Brasileiro.

[1] CASTELLS, Manuel (1999). A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra.
[2] GOMEZ, S. e SACRISTAN, G. (2000). Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed.

Como incorporar a cultura científica e tecnológica via ensino médio?
Ingrid Carvalho (Universidade Estadual de Ponta Grossa)
idyni@yahoo.com.br
Rejane Aurora Mion (Universidade Estadual de Ponta Grossa)

Objetivamos neste trabalho analisar o processo de incorporação da cultura científica e tecnológica por alunos do ensino médio. Neste processo, procuramos construir, desenvolver e avaliar a incorporação da cultura científica e tecnológica para a construção e vivência da cidadania ativa nos sujeitos. Esta proposta foi desenvolvida no Colégio Estadual Polivalente, em Ponta Grossa (PR). Para isto, problematizamos os meios de comunicação e informação, que visam uma estrutura de situações-problema apresentadas na realidade concreta dos envolvidos, transformando um objeto técnico conhecido - o rádio - em equipamento gerador de problematizações, mediante o conhecimento científico da Física. Propomos uma rede conceitual através da temática Eletromagnetismo, envolvendo aspectos da Física Contemporânea para o planejamento e desenvolvimento das atividades, organizada com base nos três momentos pedagógicos (DELIZOICOV & ANGOTTI, 1994), mediante atividades práticas, atividades teórico-experimentais e, quando necessárias, simulações computacionais (abertura de "caixas pretas"), para compreensão dos fenômenos e conhecimentos envolvidos. A reflexão da prática educativa incidiu sobre os registros das informações das aulas, que foram confeccionados seguindo o roteiro para "diário de campo"; conseqüentemente, apontamos mudanças nas futuras ações. Os resultados apontam que uma educação como pratica da liberdade contribuem para o desenvolvimento cultural científico-tecnológica com competências e habilidades previstos na lei para o ensino de física. Porém a resistência por parte das instituições, a concepção bancária dos sujeitos e a infraestrutura disponível, dificultam este processo de incorporação cultural, estagnando o ensino.

A inclusão digital de professores da rede pública de ensino através da Educação à distância
Profa. Dra. Raquel Villardi (Faculdade de Educação - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
rvillardi@yahoo.com

O texto retrata o trabalho de construção de um Curso de Pedagogia na modalidade à distância para professores da rede pública de ensino do Estado do Rio de Janeiro. Tal construção contou com o esforço coletivo de professores universitários de duas universidades públicas do Rio de Janeiro: UNIRIO e UERJ, a primeira, federal e a segunda, estadual.
Como professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro participei tanto da formulação inicial do curso como de sua edificação - projeto político-pedagógico, material didático, modelo educacional e criação dos pólos regionais para uso dos laboratórios de informática e das tutorias presenciais para os alunos.
Embora a formação do magistério ocupe grande parte de nossas preocupações como educadores de universidades públicas, engajados e comprometidos com a qualidade da educação pública e, portanto, com a formação de professores para as redes públicas de ensino, atualmente uma nova ameaça a tão almejada qualidade paira sobre nós: o analfabetismo tecnológico e a exclusão digital de uma parcela considerável da população brasileira. Nesse sentido, o Curso de Pedagogia à Distância nasce com dupla missão: alcançar os professores em exercício nas escolas do estado que não podem freqüentar aulas presenciais em universidades públicas e, através da Educação à Distância promover sua inclusão digital.
Cabe acrescentar que o projeto político-pedagógico tem suas bases teóricas assentadas no Construtivismo Sócio-Interacionista, portanto acreditamos que a aprendizagem humana é sempre um processo de construção no qual as múltiplas inserções do sujeito (histórica, social, cultural etc) exercem um papel significativo. Por outro lado, quem ocupa a função de educar também está em processo permanente de construção de conhecimentos, assim o encontro educacional é sempre mediado pela história, pela cultura e pelo caldo social dos participantes. Não existe construção de conhecimento possível sem essas mediações. E o Curso de Pedagogia à Distância conta com mais uma mediação social: o computador e a entrada do professor no mundo virtual.
No momento, estamos investigando os modos e as estratégias de aprendizagem utilizados pelos alunos-professores na modalidade de educação à distância. Em outras palavras, como o aluno sozinho diante do texto-aula compreende esse novo material e se apropria dele? Como registra as informações e as transforma em conhecimento? Precisa de sua prática pedagógica para dar significado as novas informações? Como são suas práticas de leitura e escrita dos textos-aula, já que o primeiro salto de qualidade que percebemos acontecer com os alunos de educação à distância é a grande transformação operada nos atos de ler e de escrever?
Contudo, ainda não sabemos com certeza como são construídos os conceitos teóricos e, por conseguinte, como eles são levados para a prática cotidiana da sala de aula. O que nos leva a pergunta: os alunos-professores tornam-se melhores educadores durante a formação à distância? Conseguem superar as limitações profissionais do ofício do magistério através da formação? Em suas salas de aula começam a praticar a inclusão social, já que estão vivendo essa experiência como alunos? E ainda mais: o Curso de Pedagogia à Distância propiciou a esses alunos-professores uma ampliação de suas habilidades cognitivas e sócio-culturais, levando-os a compartilhar com seus colegas de ofício esses novos conhecimentos? Se assim for, o sonho de democratizar a educação pública de qualidade e para todos está em processo de construção. E a pesquisa continua.


Novas tecnologias cognitivas e o currículo escolar na contemporaneidade
Monique Franco (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)

O ponto de partida desse estudo centra-se na utilização dos conceitos desenvolvidos por Maturama & Varela de biologia da cognição, por Bruno, F., de cognição híbrida e na distinção feita por Koselleck entre espaço da experiência e horizonte de expectativa para pensar uma, como propõe Vaz uma nova historicidade do pensamento e do sujeito na contemporaneidade com vistas a discutir novas formas de seleção do conhecimento escolar e, consequentemente, novos modos de organização e distribuição do currículo formal e informal. Parto da constatação de que é predominante ainda nos dias de hoje, no campo da epistemologia, o chamado representacionismo, ou seja, a noção do conhecimento como uma mera representação de uma realidade pré-datada à experiência humana, independente do contexto ou mesmo daquele que conhece. As conseqüências que esse tipo de perspectiva produziu e ainda produz , nas diversas modalidades de ensino, apontam para uma concepção de cognição como um mero atributo do sujeito cognoscente e para um modelo de currículo de estrutura disciplinar, normatizador, hierarquizado e fragmentado, a despeito de todas as propostas e esforços atuais de interdisciplinariedade. Ignora-se, também, o fato de que vivenciamos uma intensa imbricação de objetos e dispositivos técnicos em nosso cotidiano com evidente repercussão sobre as atividades e funções cognitivas. A representação e utilização da tecnologia no universo escolar ainda se apresenta, na maioria das vezes, restrita a softwares educativos e plataformas de educação a distância, ou seja, como um mero recurso na aquisição do velho conhecimento acima descrito. De fato, as pesquisas contemporâneas no campo das biocências e neurocognição, têm indicado que o aprender é uma propriedade emergente da auto-organização da vida, que processos vitais e processos de aprendizagem possuem a mesma estrutura. Nesse sentido, o papel de uma escola não excludente seria o de proporcionar vivências do aprender a partir dos diferentes contextos individuais e coletivos que se apresentam para o universo educacional. Nesse cenário, passa a ser central o estudo do impacto e influência dos objetos técnicos na cognição, uma análise do próprio conceito de experiência e a aposta de que a tecnologia tem papel fundamental na constituição da subjetividade contemporânea e, portanto, devem ser estudas e trazidas para o interior do debate educacional de forma não instrumental e sim como algo constitutivo do próprio indivíduo e sua historicidade.


Universitas/Br: Biblioteca Virtual e Inclusão Social
Marilia Costa Morosini (PUCRS)
morosini@via-rs.net

A produção e o controle do conhecimento tem sido importante fator para a dependência ou autonomia dos estados-nação na relação império-colônia em tempos de globalização. O trabalho discute a busca de substituição de um modelo aplicacionista de conhecimento por um modelo da prática, onde o acesso à informação é imprescindível. O foco é a biblioteca virtual UNIVERSITAS que contém a identificação, seleção, organização e disponibilização à comunidade da produção científica (de periódicos) sobre educação superior no Brasil: 1968-2002. Esta biblioteca, que contém em torno de 7 000 documentos, é resultante de um Projeto Integrado de Pesquisa (CNPq, desenvolvido por investigadores (de 20 instituições superiores brasileiras) vinculados ao Grupo de Trabalho de Políticas de Educação Superior da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação - ANPEd. A biblioteca contribui para: superação de disparidades regionais no âmbito do campo científico através do desenvolvimento e descentralização das atividades de pesquisa e fortalecimento de grupos; consolidação de uma rede acadêmica de pesquisa e a interlocução entre pares. Entre os desafios encontram-se: necessidade de fortalecimento de cultura de parceria; gestão de rede; impulso ao enfrentamento dos obstáculos no desenvolvimento da biblioteca; e fomento financeiro. Fica clara a necessidade de políticas públicas de financiamento e apoio efetivo dos órgão de fomento às regiões cujas desigualdades ultrapassam as questões sociais, políticas e econômicas.

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