"Elites discriminadas" da democracia local. Representação política das mulheres nas autarquias da Grande Lisboa.
Albertina Jordão
maajordao@mail.telepac.pt

Como evolui a representação feminina nos concelhos da Grande Lisboa? Será que este nível de poder é mais favorável à eleição de mulheres? Está efectivamente a aumentar a representação feminina nas instâncias de poder? Que mulheres acedem ao poder dito de proximidade? Qual a influência dos partidos na eleição de mulheres e que cargos ocupam na hierarquia autárquica? Estas são algumas questões que procuraremos discutir a partir da investigação realizada com base na análise aos resultados da representação feminina nas três últimas eleições autárquicas, 1993, 1997 e 2001, em sete concelhos da Grande Lisboa (Amadora, Cascais, Loures, Odivelas, Oeiras, Sintra e Vila Franca de Xira). O estudo de caso do exercício da democracia local permite concluir que as autarcas são ainda uma minoria na "elite política", embora as mulheres constituam uma maioria de eleitoras.


Memórias da militãncia: a participação feminina contra a ditadura militar no brasil e em portugal
Ingrid Faria Gianordoli-Nascimento (Universidade Federal do Espírito Santo/Brasil)
Zeidi Araújo Trindade (Universidade Federal do Espírito Santo/Brasil)
Lígia Amâncio (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa /ISCTE- Lisboa/Portugal)
ligia.amancio@iscte.pt

As seguintes reflexões são parte de pesquisa intercultural desenvolvida entre Brasil e Portugal que busca investigar a participação feminina na militância política durante a ditadura militar brasileira (1964-1982) e Portuguesa (1926-1974). Sua relevância situa-se na necessidade, sob nosso ponto de vista, de análise mais aprofundada, no nível psicossocial, de questões vinculadas às relações de gênero em sua interconexão com o campo político na história recente dos dois Países. Esse nos parece ser o caso da militância política de mulheres durante o regime de ditadura militar, quando jovens assumiram um papel inédito tanto no campo da política quanto no das relações de gênero, rompendo com os códigos de sua época. Investigar a participação da mulher dentro desse contexto, pode oferecer importantes informações que colaborem para um entendimento mais geral da construção social da identidade feminina, nesses países, que a partir dessa época passa por intensas transformações.
A historiografia oficial de uma etapa importante para a constituição da memória social contemporânea, os anos da ditadura militar, só agora começa a assimilar, de forma mais sistemática, os depoimentos de alguns dos principais envolvidos nos acontecimentos desse período: os perseguidos por esse regime político de exceção. Por mais de 20 anos no Brasil e 30 anos em Portugal, uma grande parcela desses sujeitos não pôde, por motivos diversos, assumir e contar suas histórias. Para que isso seja possível, no nosso entender, é necessário valorizar, cada vez mais, os depoimentos dos indivíduos cujas vozes se encontram fora da historiografia dita oficial. E como a categoria mulher é uma das que têm poucos registros históricos pertinentes, consideramos valioso o testemunho daquelas que militaram contra o regime. Nesse sentido, buscamos com esse trabalho lidar com alguns temas instigantes e importantes para a construção da memória social, como geração e gênero.
Sendo Portugal e Brasil países recentemente saídos de experiências autoritárias, onde se assistiu a uma redefinição e a uma forte expansão do espaço público, com suas múltiplas contradições, novos agentes e configurações identitárias, pretendemos com esta proposta proceder a uma reflexão comparativa e crítica sobre o papel da mulher na consolidação de uma cidadania participante nestes dois países.
Os dados estão sendo coletados através de entrevistas individuais gravadas após consentimento por escrito assinado pelos sujeitos. Fazem parte da amostra mulheres brasileiras residentes no Brasil e mulheres portuguesas residentes em Portugal que participaram de organizações que possuíram claramente uma posição de resistência ao regime militar entre o período de 1961 a 1973, período no qual o número de mulheres, portuguesas e brasileiras, tornou-se maior nos cursos universitários. As mulheres eram estudantes universitárias engajadas no movimento estudantil (no Brasil) e no movimento da juventude (em Portugal). Algumas destas mulheres foram filiadas, durante algum tempo, a partidos políticos clandestinos ou pertenceram a algum grupo revolucionário. Foi investigada a trajetória de vida dessas mulheres da infância até os dias atuais. A análise preliminar dos dados, realizada através da Análise de conteúdo, aponta aspectos relevantes destacados pelas mulheres em suas trajetórias como: motivação para militância; relacionamento conjugal; o valor da maternidade; participação política atual; memória sobre o período.
Baseados em dados preliminares, observamos que através do conteúdo das narrativas dessas mulheres, com suas lembranças e conseqüente reconstrução de suas histórias de vida, haverá possibilidade de tentar resgatar parte do repertório sociocultural daquele período nos dois países, contribuindo para a construção de uma história pouco contada. Nesse sentido, os dados vão ao encontro da literatura sobre ditaduras militares mostrando que em qualquer país submetido a um período de ditadura militar pouco se têm construído socialmente sobre os acontecimentos, o silêncio prevalece frente aos que viveram e contribuíram para a construção desse período histórico.


Transformações psicossociais entre mulheres - conquista de direitos e construção de cidadania
Betânia Diniz Gonçalves
betabiadg@hotmail.com

Neste artigo "Transformações psicossociais entre mulheres - conquista de direitos e construção de cidadania" procuro reconstruir a trajetória de três gerações de mulheres, comparando suas experiências de vida e identidades no contexto sócio-histórico-cultural de Minas Gerais do século XX. Através de entrevistas semi-estruturadas foram entrevistadas quatro famílias com três gerações vivas de mulheres: avós (Primeira Geração), mães (Segunda Geração), filhas (Terceira Geração), escolhidas conforme a situação ocupacional e grau de instrução das mulheres da segunda geração. Cada família se constitui em um estudo de caso. As trajetórias e identidades das mulheres em cada família foram analisadas conforme sua inserção na esfera pública (trabalho , estudo) e privada (conjugalidade, sexualidade, maternidade e trabalho domestico). Procurei assim compreender as continuidades e descontinuidades das identidades das mulheres através dessas três gerações e as repercussões sociais e políticas desta trajetória.


As Mulheres e a Ditadura Militar no Brasil
Doutora Ana Maria Colling (UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul)
acolling@unijui.tche.br

A história das mulheres é uma história recente, porque até bem pouco tempo ela era somente uma representação do olhar masculino. Por este motivo, para se falar em história política das mulheres ainda é necessário desconstruir os papéis historicamente designados ao masculino e ao feminino.
Na história da repressão durante a ditadura militar no Brasil e da oposição a ela, as relações de gênero estão excluídas, apesar de tantas mulheres terem lutado pela redemocratização do país. Ousar adentrar o espaço público, político, masculino, por excelência foi o que fizeram estas mulheres ao se engajarem nas diversas organizações clandestinas existentes no país durante a ditadura militar.
A mulher militante política nos partidos de oposição à ditadura militar cometia dois pecados aos olhos da repressão: de se insurgir contra a política golpista, fazendo-lhe oposição e de desconsiderar o lugar destinado à mulher, rompendo os padrões estabelecidos para os dois sexos. Faziam política, coisa de homens e invadiam o espaço público, lugar de homens. Para quem ousa atravessar as barreiras que socialmente foram construídas entre os sexos, resta a desqualificação como individuo desviante. Para a ditadura a mulher militante é sempre promiscua. Ou está nos partidos, espaços masculinos por excelência, à procura de homens ou porque é homossexual.
Os militares ao tratar ao tratar a mulher política, de imediato tentam a sua desqualificação como sujeito autônomo. Sua caracterização dá-se como apêndice dos homens, incapaz de decisão política. A única mulher que é respeitada com decisão própria segundo os arquivos da repressão é a religiosa. Esta não entra na convenção do casamento e dos lugares destinados ao casal dentro dele e na sociedade.
Nos acostumamos a relacionar a luta pela democratização política do país, pela liberdade do país, com a luta igualitária entre os sexos. A questão de gênero perpassa a questão social e a questão política. As próprias organizações de esquerda não propiciavam o debate sobre as relações feminino/masculino, sobre as questões femininas porque havia uma contradição maior a ser resolvida: a oposição entre a burguesia e o proletariado. Isto reforçava o poder masculino dentro das organizações. Talvez por este motivo raramente encontramos dirigentes femininas nos grupos de esquerda.
A luta pela igualdade que caracterizou o movimento feminista nas décadas de 60 e 70 está presente no discurso das mulheres militantes. Tentam suprimir as diferenças entre os sexos, muitas vezes masculinizando-se. Como espaço fundamentalmente masculino, impunha-se às mulheres a negação de sua sexualidade como condição para a conquista de um lugar de igualdade ao lado dos homens.
Para uma história das mulheres é imprescindível que a história seja entendida como resultado de interpretações que têm como fundo, relações de poder. O universalismo da história, o sujeito universal moderno, reduziu a realidade histórica a um único sexo e considerou como universal um ponto de vista unilateral.
O caráter de construção da história nos permite desconstruir e reinventar a história, inclusive o papel dos homens e das mulheres na sociedade. Assim a história passa a ser vista como um campo de possibilidades para vários sujeitos historicamente constituídos.

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