Trabalh(o)adores e Linguagem: algumas reflexões a partir de uma investigação empírica
Sofia Alexandra Cruz (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)
scruz@letras.up.pt

Propomo-nos ao longo desta intervenção, partilhar algumas linhas reflexivas em torno do trabalho, dos trabalhadores e da linguagem, enquadradas no âmbito de uma investigação empírica realizada sobre o universo laboral das trabalhadoras da linha de caixa de uma grande superfície situada na cidade de Lisboa (Cruz, 2003). A partir da observação directa aí realizada das 41 entrevistas semi-directivas a trabalhadoras encetadas no decurso do trabalho empírico desta investigação, pretende-se, no essencial, e de modo abreviado, pensar o papel e a utilização da(s) linguagem(ns) no interior do comércio da grande distribuição, em particular no sector da linha de caixas.


A dilemática experiência do tempo à "medida"

Emília Rodrigues Araújo (Universidade do Minho)
Universidade do Minho
era@ics.uminho.pt

Esta comunicação visa contribuir para a compreensão da experiência do tempo "à medida" equacionando-o num triplo sentido: a) como a possibilidade de gerir o tempo, conforme a oportunidade, o desejo e a necessidade dos indivíduos, famílias e grupos; b) como espaço-tempo de continuidade e reforço da praxis disciplinar que caracteriza os sistemas capitalistas e c) enquanto espaço-tempo de conflitos materiais, simbólicos e identitários resultantes de disputas diversas pela manutenção ou alteração de padrões e ordenamentos temporais. A comunicação tem duas partes principais. Na primeira, centro-me na problematização destas hipóteses, recorrendo a vários enquadramentos teóricos. Na segunda refiro-me a dados empíricos que nos permitem uma visão mais ampla daquela problemática. Estes dados referem-se a um inquérito por questionário aplicado em 2003 aos docentes de duas universidades portuguesas e a um outro inquérito realizado em 2004 numa média empresa da região Norte de Portugal. Esta comunicação é uma versão de um texto publicado (Araújo, 2002).

 

Trabalho, desenvolvimento e privatizações: um caso moçambicano
Carlos Domingos Quembo (Universidade Eduardo Mondlane)
cquembo@yahoo.com.br

Os trabalhadores nacionais da Companhia de Sena dentre varias dificuldades, enfrentam desde a privatização da empresa (1998), o dilema da injustiça na consagração dos seus direitos e garantia do cumprimento do trabalho de acordo com a lei vigente no país e os acordos dos contratos. Os trabalhadores acreditam não terem os seus direitos por lei, satisfeitos. Para eles, a nova empresa explora-os. Trabalham horas acima do acordado, em condições deficientes, salários não compatíveis `as funções e a carga horária e falta de acesso a novas tecnologias de informação.

Um dos instrumentos oficialmente institucionalizado para a causa dos trabalhadores (o sindicato), é desacreditado por estes. Segundo os trabalhadores "o sindicato não defende os seus interesses". A explicação do fracasso deste instrumento esta na sua estruturação. Os seus representantes são simultaneamente funcionários da empresa, ocupando por vezes cargos de chefia. Ai se coloca um desafio, defender os interesses dos trabalhadores, como sindicalistas e salvaguardar os interesses da empresa e seus como funcionários. Embora literalmente o sindicato e o empregador convergem na ideia de justiça social e consagração dos direitos dos trabalhadores, na pratica divergem. E esta divergência de interesses que explica genericamente a difícil convivência do trio trabalho - sindicalismo - dialogo social.

A comunicação discute as relações de trabalho e a acção do sindicato, como porta-voz dos trabalhadores que por meio do dialogo social, tenta buscar o equilíbrio trabalhador - empregador, no contexto da SSE-Marromeu pós privatização.
Esta abordagem enquadra-se na área temática sobre Trabalho, sindicalismo e dialogo social, baseando-se num caso especifico.

 

O Impacto do Trabalho em Turnos, com escala de folga 4X2, para os trabalhadores
Aloma Verônica Bernardo Meireles Pessoa (Universidade Estadual do Ceará) aloma@fortalnet.com.br
Paulo César de Sousa Batista (FEUC)
acoelho@fe.uc.pt


O objetivo do artigo é o de avaliar as contribuições da literatura sobre o impacto das condições de trabalho na qualidade de vida do trabalhador. Metodologicamente, a investigação relatada por este artigo é um estudo exploratório do tema, sendo parte de projeto mais amplo de verificar essas interferências em um estudo de caso de uma indústria cearense. Em particular, o estudo foca nas alterações de turnos de trabalho e suas interferências nas relações sociais e familiares e na satisfação do trabalhador. O texto conceitua trabalho em turno como sendo aquele desenvolvido por equipes de trabalho em rodízio, para garantir a execução ininterrupta da atividade. As origens do trabalho em turno são traçadas desde as mais remotas eras, com o surgimento dos agrupamentos humanos, mas ganhou maior utilização e cientificidade na indústria, a partir da Primeira Revolução Industrial. As mudanças posteriores das formas de produção e prestação de serviços estenderam o trabalho em turno a outras profissões, em particular os frentistas, os balconistas de farmácias e lojas de varejo, além de outras. O estudo analisa ainda os diversos tipos de trabalhos em turnos e avaliar os seus efeitos sobre o trabalhador. Dentre os tipos identificados estão o fixo ou permanente, o rotativo, o oscilante, o de turnos interrompidos, o de turnos substituídos e o de turnos alternantes. Cada um desses tipos de trabalho em turno apresenta efeitos diferentes sobre o trabalhador e a qualidade de sua vida. Dentre os efeitos identificados encontram-se os riscos de distúrbios de ordem psicológica e psicossocial, o absenteísmo, o prejuízo das relações interpessoais do trabalhador, além da queda de produtividade e o impacto negativo na qualidade dos processos e produtos.
Palavras-chave: qualidade de vida no trabalho, trabalho em turno, satisfação do trabalhador

Trabalho: onde e como? Precarização das condições de trabalho: novos e velhos riscos
Teresa Maneca Lima (CES)
tmaneca@ces.uc.pt

Vivemos hoje num tempo caracterizado pela transnacionalização e globalização das relações sociais a todos os níveis e fortemente marcado pela incerteza no futuro. Encontramo-nos numa era de mudança de paradigma produtivo, com o fim do fordismo e a emergência do pós-fordismo. Sendo que, uma das consequências mais flagrantes da flexibilidade dos mercados e do próprio trabalho, imposta pela globalização, é o aparecimento de formas atípicas de trabalho, que as empresas utilizam para ajustarem a quantidade e disponibilidade de mão-de-obra aos imperativos do mercado. Tanto a globalização como a introdução de novas tecnologias geraram transformações, que resultaram na emergência de novas formas de organização do trabalho. Estas têm como principais consequências a redução do número de trabalhadores; a substituição crescente de formas de emprego normal por formas flexíveis e precárias, com implicações na saúde e segurança dos trabalhadores; a alteração do contrato de trabalho, com o uso frequente de contratos temporários em detrimento dos contratos sem termo; e a "descontextualização" e "recontextualização" das "noções de tempo e espaço de trabalho". Portanto, quer a noção de precariedade, quer a de atipicidade estão indubitavelmente relacionadas com o estatuto dos empregos e/ ou a duração do trabalho, mas também com o risco de pobreza e com o risco profissional.
Perante todas estas mudanças os trabalhadores enfrentam um conjunto de incertezas no desempenho das suas funções, ficando a sua capacidade para lidar com o inesperado diminuída, encontrando-se, assim, mais expostos aos riscos, visto que a flexibilização dos mercados de trabalho e dos regimes laborais acentuou inseguranças e conduziu à perda de expectativas.
Apesar de toda a actividade humana ser passível de riscos, a actividade laboral assume-os em grau extremamente elevado. O mundo do trabalho está a viver um novo momento, com o fim da economia industrial e a emergência de uma economia pós-industrial. Neste novo momento as transformações do trabalho e a perda da sua centralidade, para além de conduzirem a um aumento da precariedade e à alteração e desagregação do contrato típico de trabalho, trazem consigo uma panóplia de novos riscos profissionais que, apesar de tudo não substituem os velhos riscos a que os trabalhadores estão expostos, constituem um desafio ao desenvolvimento de novas estratégias preventivas e à criação de boas condições de trabalho.

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