A Questão Social, O Sindicalismo e o Serviço Social: Entre o enfrentamento e a Conformação.
Tarcísio Augusto da Silva - Faculdades da Escada / Universidade Federal de Pernambuco

08199729723@timnet.com.br / deescada@yahoo.com.br

O surgimento da "Questão Social" enquanto problema das sociedades industriais foi, e continua sendo, um tema central para discussão das ciências sociais mesmo neste século. As particularidades do problema não o exime de seu caráter generalizante por afetar não somente as sociedades industriais, mas sobretudo aquelas que se formaram no entorno destas. O propósito desta discussão está na reflexão que se faz sobre as suas formas de enfrentamento, ocasionadas por equívocos ou intenções que visavam minimamente a atenuação dos impactos da referida temática. A proposta deste trabalho busca refletir sobre as trajetórias do movimento de trabalhadores e do Serviço Social enquanto formas de enfrentamento da "Questão Social" no Brasil. Portanto, enquanto o sindicalismo surge historicamente na época da expansão do capitalismo, com a finalidade de mediar os interesses econômicos e ampliar os direitos políticos da classe trabalhadora, o Serviço Social aparece como um instrumento de viés eminentemente cristão utilizado como um amortecedor das lutas de classes. Na trajetória do movimento sindical é possível visualizar um emaranhado de perspectivas de atuação da mesma forma que a trajetória do Serviço Social tem compreendido tanto no campo teórico quanto no campo pragmático, tendências que vão do assistencialismo a crítica radical da sociedade capitalista sob uma ótica marxista. Assim, delinearemos as atuais reflexões sobre a "Questão Social" e suas metamorfoses, como também da prática sindical e do Serviço Social na presente conjuntura. O intercruzamento entre prática sindical e o Serviço Social se dá, portanto por se apresentarem como estratégias de enfretamento da politização das desigualdades sociais no Brasil.
Palavras - Chaves: Sindicalismo, Serviço Social e Questão Social



Droga, diversão e risco: estratégia de defesa ou conformação da lógica no mundo do trabalho
Maria do Socorro de Souza Vieira (Universidade Federal do Paraíba)

Este texto centra-se nos imperativos sociais, ligados ao mundo do trabalho, que favorecem a incursão dos sujeitos no uso intensivo de droga e na dependência. O estudo é parte de uma pesquisa de doutoramento, que analisa as trajetórias de consumo de álcool, cocaína e maconha por ex-usuários em tratamento em dois serviços de recuperação do Brasil: o Programa de Atendimento Integral ao Alcoolista e outros Dependentes Químicos - PAIAD, em João Pessoa, e o Instituto Recife de Atenção Integral às Dependências - RAID, em Recife.
A pesquisa toma como idéia central o pressuposto de que a dependência de droga, hoje, deve-se, em parte, ao impacto devastador da contemporaneidade sobre a interioridade dos indivíduos. A toxicomania é, portanto, abordada na perspectiva da relação do sujeito com a substância, a partir de vínculos estabelecidos por imperativos sociais.
O estudo busca evidenciar os traços que especificam a sociedade contemporânea e a distinguem de outros universos culturais. A velocidade das mudanças, a lógica da fragmentação e da descontinuidade, as incertezas são aspectos abordados a partir da leitura de Balandier (1997; 1999). As mudanças na racionalidade capitalista no cenário atual, a emergência da cultura do narcisismo e dos ideais de busca de sucesso e de admiração, presentes na nova forma de competição, são focalizados com base nas análises de Lasch (1983). A perseguição ao risco, como parte da moderna cultura da procura de desafio, mas também como forma do indivíduo encontrar sinais que atestem sua dignidade de existir, é situada nas concepções de Sennett (1999) e de Le Breton (2000).

 

Noção de trabalho e trabalhadores na Amazônia
Iraildes Caldas Torres - Universidade Federal do Amazonas
ictorres@horizon.com.br

A heterogeneidade sócio-cultural e ambiental constitui uma das maiores características da região amazônica. A própria organização do trabalho na Amazônia apresenta diversidade que não pode ser compreendida apenas sob a lógica do capital. Existem formas peculiares de ocupabilidade que remontam a culturas tradicionais e que se inserem no âmbito das estratégias de sobrevivência dos povos da floresta. A perspectiva mundos do trabalho parece ser mais adequada para a compreensão das relações de trabalho na planície amazônica. Numa região marcada por uma estrutura de poder conflituosa centrada em oligarquias, cujo poder provém da terra pode-se dizer que não é simplesmente o emprego que está em crise, mas sim o trabalho enquanto direito de usufruto e exploração da terra e de suas riquezas naturais. A centralização do poder local nas mãos de grupos oligárquicos e dos antigos coronéis de barranco compõe um quadro de violência na Amazônia tendo, pois, nas relações de poder os elementos chaves na configuração do trabalho. O papel político que os trabalhadores desempenharam na interlocução com o poder desde o período áureo da economia gomífera até o presente momento, tem sido imperioso para o reconhecimento da cidadania por parte da estrutura de poder. Muitos conflitos entre trabalhadores e patrões ocorreram nos seringais, sendo que poucos podem ser caracterizados como greve. Todas as iniciativas de organização nos seringais eram reprimidas pela política dos coronéis de barranco. Contudo, há vestígios de resistência dos seringueiros que tentavam criar a sua entidade de classe, sempre de caráter efêmero, em função da repressão e morte desses trabalhadores em enfrentamentos com os capangas dos patrões. A organização política dos trabalhadores no Amazonas pós-movimento da Cabanagem (1835 - 1840), pode ser compreendida em quatro momentos historicamente delimitados. O primeiro momento remonta ao período do ouro negro que vai de 1890 a 1911, sendo os dois últimos anos o período do apogeu da borracha no mercado internacional. O segundo momento está circunscrito à organização social dos trabalhadores urbanos, especialmente os estivadores que entram em cena com um enorme movimento grevista em 1899. O terceiro momento está associado à emergência dos sindicatos de categorias de trabalhadores e as associações de profissionais liberais, sobretudo a dos engenheiros, médicos e assistentes sociais. O quarto período está associado à expansão do capital na Amazônia Ocidental, configurado no projeto Zona Franca de Manaus. Esse é o momento de construção da classe operária em todo o Brasil e, no Amazonas, o vigor do movimento de redemocratização do país vem dar forte impulso ao movimento operário local. Este estudo se ocupa do exame da noção de trabalho e trabalhadores na Amazônia dando especial relevo ao movimento sindical local. Realizamos um cotejamento de dados a partir de uma pesquisa bibliográfica para subsidiar os nossos estudos de doutoramento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Os resultados mostram que a resistência dos trabalhadores na Amazônia foi fundamental para a construção da cidadania nesta região.


Pioneirismo, disciplina e paternalismo nas relações de trabalho entre proprietário e imigrantes portugueses no século XIX: o caso da colônia de Nova Lousã, em São Paulo
Oswaldo Truzzi (UFSCar, Brasil)
truzzi@power.ufscar.br
Ana Silvia Volpi Scott (NEPO-Unicamp / UniABC, Brasil)

Em 1867, João Elisário de Carvalho Montenegro, português natural do município de Lousã (próximo a Coimbra, na região da Beira Litoral), adquiriu uma fazenda em terras do atual município de Espírito Santo do Pinhal, no estado de São Paulo, batizando-a de Nova Lousã. Em plena época da escravidão e pouco após as primeiras experiências com o trabalho livre, em regime de parceria, do senador Vergueiro em Ibicaba (Limeira), Montenegro tocava sua fazenda com famílias de conterrâneos seus importados do próprio Concelho da Lousã, em Portugal, para trabalharem como mão de obra livre e assalariada.
Essa experiência pioneira, que durou pouco mais de duas décadas (em 1888 Montenegro venderia sua fazenda), constituiu uma tentativa singular de desenvolver um empreendimento agrícola à base de trabalho livre e assalariado em uma economia predominantemente escravocrata. Montenegro enfrentou resistências, sobretudo de outros fazendeiros. Contudo, de uma forma ou de outra, a colônia de Nova Lousã prosperou, a ponto de ser tomada como modelo e exemplo bem sucedido de adoção do trabalho livre em São Paulo.
Esse trabalho procura discutir as relações entre colonos e fazendeiro na Colônia de Nova Lousã. Argumenta-se que tais relações, ainda que sem dúvida avançadas para a época e para o contexto escravocrata em questão, são marcadas pelo paternalismo. No âmbito das estratégias de dominação e de divisão das camadas subordinadas no meio rural, a literatura aponta a ocorrência de relações paternalistas entre proprietários e alguns escravos - em geral eleitos entre aqueles que frequentavam a casa grande -; e, em menor grau, também entre proprietários e colonos. O caso analisado se ajusta bem ao tema, ilustrando as possibilidades de relacionamento entre patrões e colonos nos primórdios do trabalho livre, num regime de trabalho caracterizado ao mesmo tempo pela disciplina rígida e por relações paternalistas.
Fontes de registros paroquiais, documentos e jornais recolhidos no Brasil e em Portugal são utilizados para a construção do argumento. O trabalho integra um projeto de pesquisa mais amplo, financiado pelo CNPq, que buscará acompanhar a trajetória dessa comunidade antes da emigração, na Lousã, em Portugal, e após a imigração, na Nova Lousã, no Brasil.

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