Religião, Identidade e Sentido de Pertencimento
Márcia Mello Costa De Liberal (Universidade Presbiteriana Mackenzie)
deliberal@uol.com.br

RESUMO: O fenômeno religioso passou, nos últimos séculos, por uma evolução paralela às rápidas transformações de um mundo cada vez mais globalizado. O intenso intercâmbio entre diferentes culturas, postas em contato pela colonização, pelos transportes e pelo espetacular avanço das comunicações, levou a novas formulações e respostas às necessidades espirituais do homem. Por outro lado, o individualismo ganhou terreno como virtude social, sustentando a idéia moderna de que nenhuma religião é detentora exclusiva da verdade absoluta mas, sim, que todas almejam ao aperfeiçoamento espiritual do ser humano. Portanto, este trabalho visa apresentar como as pessoas têm usado boa parte de seu tempo livre no exercício da prática religiosa como forma de inclusão social e sentido de pertencimento. O nosso lócus de pesquisa é a cidade de São Paulo - sociedade urbana industrial onde os vínculos de identidade em função das condições de trabalho e convivência ficam abalados. Através de pesquisas em fontes diretas (entrevistas em comunidades eclesiásticas) e indiretas (jornais, revistas e bancos de dados), destacamos que o papel da religiosidade é importante para os diferentes segmentos sociais nela envolvidos. Diferentes grupos têm disposto, em média, até 30% de seu tempo livre buscando na religiosidade uma forma de inclusão e um sentimento de identidade - fatores que numa sociedade moderna vêem-se evidenciando pela fragmentação e o surgimento constante de novas tribos urbanas.

Festas religiosas e populares na Amazônia
Sérgio Ivan Gil Braga (Universidade Federal do Amazonas)
sigbraga@interlins.com.br
sigbraga@fua.br

A comunicação discute os conceitos de cultura popular, imaginário e identidade, para efeitos de análise de festas religiosas e populares da Amazônia, históricas e contemporâneas. Parte-se da constatação histórica de que, desde a segunda metade do século XVIII (Gruzinski, 2004), o processo de urbanização administrativo-colonial e de miscigenação de índios, negros e brancos, sob o signo do mestiço caboclo, constituem temas recorrentes e de permanência em festas da Amazônia.

Palavras chave: festas religiosas e populares Amazônia cultura popular identidade imaginário amazônico

Tempo Festivo: sociabilidade e territorialidade
Sueli Pereira Castro (Universidade Federald e Mato Grosso)
spc_neru@cpd.ufmt.br

Este artigo tem como foco privilegiado de análise um conjunto de festejos religiosos, referenciados numa tradição católica popular, na Baixada Cuiabana Mato-grossense. Seus rituais inscrevem estes festejos vinculados ao culto ao Espírito Santo - o Divino. A festividade religiosa transforma as pequenas povoações em um epicentro de uma região mais vasta, mostrando a rede de relações em que se encontra vinculada, e todo o povoado e seu entorno entram em ebulição. Este festejo por intermédio da esfera do sagrado, explicita aspectos cruciais da cultura presentes no território de um povo, categoria que define os pertences e pertencimentos da terra. Os festejos, mais que traduzir a religiosidade local, revela-se como o lugar de confluência da vida social, expressando a tradição de um povo: o muxirum. Este traduz um modo de vida que tem na atividade coletiva, da produção dos bens materiais e simbólicos, a sua tradição. E hoje, apesar da perda das terras de domínio comum, este universo continua fortemente marcado por uma participação comunitária, envolvida por laços de reciprocidade e de compadrio. E nele, a Festa do Divino, que permite classificá-la como um fato social total, como definido por Mauss, demarca o início do novo ano do Senhor Divino, e constitui a " energia social", o "cimento", do modo de ação coletiva, que se expressa na memória coletiva como a tradição do nosso povo, é que é união. A Festa atualiza e internaliza a cada ano os conteúdos simbólicos, definidores das identidades, e se reveste de um sentido profundo, exprimindo a concepção de mundo do universo da Terra da Parentalha.

Assim na terra como no céu: entrelaçamentos entre religião e política e mediação de conflitos urbanos no movimento de mães de vítimas de violência
Márcia Pereira Leite (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)
marciaspleite@uol.com.br

Desde o início da década de 90, a violência urbana vem crescendo em freqüência e intensidade na cidade do Rio de Janeiro, uma das maiores e mais importantes do Brasil. O trabalho discute os diversos movimentos reativos que surgiram e se desenvolveram, no período, por iniciativa de ativistas de ongs, entidades de defesa dos direitos humanos, movimentos de organização de base e de mães de vítimas da violência. Apresenta como uma das novidades desses movimentos, que adquiriram grande visibilidade e relevância no cenário conflagrado da cidade, o recurso sistemático à linguagem e aos rituais religiosos para falar de violência no espaço público. Politizando a religião e religiogizando a política, esses movimentos vêm agregando indivíduos diferenciados em termos de crenças religiosas, pertencimento social, local de moradia, convicções políticas etc. em diversos atos e campanhas por tolerância, solidariedade e paz. Ao fazê-lo, atualizam no plano local uma tendência global de crescente presença de atores religiosos na cena política, entrelaçando valores, discursos e rituais referidos a cada um desses domínios. Analisa, especialmente, o movimento de mães de vítimas de violência, procurando compreender como religião e política se interpenetram e implicam mutuamente na busca de um sentido para a violência sofrida. Destaca, entre as modalidades de conjugação (de) e trânsito entre essas duas dimensões, o deslocamento da experiência de violência do âmbito privado para o público, com a transformação do "caso" em "causa" capaz de articular e mobilizar subjetiva e objetivamente diversos atores sociais. A tematização da violência envolve, então, uma forte demanda por direitos e justiça e estratégias de formação de opinião pública, reivindicação e pressão política. Paralelamente, entretanto, recorre às idéias de missão e de dádiva como fundamentos de uma ação política que incida sobre os corações para estimular a tolerância, praticar a solidariedade e promover a paz. Assim, se insere em um movimento de produção de mediações relativas aos conflitos urbanos, que tem por fundamento o estímulo e o disseminação de uma "religião civil" na sociedade brasileira.

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