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    Apesar de só vivermos o presente, somos obcecados com o que não podemos viver, seja ele o passado ou o futuro. É uma obsessão que tanto oprime como liberta, porque nos prende à imaginação do que fomos ou do que podemos vir a ser, mas também nos liberta para imaginarmos de modo sempre diferente quer o passado, quer o futuro de acordo com as necessidades de cada presente.

    A compreensão do mundo e a forma como ela cria e legitima o poder social tem muito que ver com conceções do tempo e da temporalidade. A conceção ocidental moderna do tempo é a do tempo linear, o tempo visto como uma seta, com um percurso inalterado, que vem de um passado longínquo, atravessa fugazmente o presente e segue em direção a um futuro infinito. É uma linearidade ascendente guiada pela ideia do progresso. Desta conceção resulta a contração do presente e a expansão do futuro. O presente é um instante fugidio, entrincheirado entre o passado e o futuro, enquanto o futuro, sendo infinito, permite imaginar as mais radiosas expectativas quando confrontadas com as experiências do presente.

    Em face dos graves problemas sociais e ambientais com que nos defrontamos, esta conceção do tempo e, em particular, do futuro tem de ser superada. Em vez de expandir o futuro, há que contraí-lo. Contrair o futuro significa torná-lo escasso e, como tal, objeto de cuidado, um cuidado que, para ser concreto, só pode ocorrer no presente. O futuro não tem outro sentido nem outra direção senão os que resultam desse cuidado.

    Contrair o futuro consiste em eliminar ou, pelo menos, atenuar a discrepância entre a conceção do futuro da sociedade e a conceção do futuro dos indivíduos. Ao contrário do futuro da sociedade, o futuro dos indivíduos é concebido como limitado pela duração da sua vida (ou das vidas em que pode reincarnar, nas culturas que aceitam a metempsicose). O caráter limitado do futuro individual obriga a cuidar dele, aqui e agora, seja o cuidar da saúde ou das relações sociais. Este cuidado com o futuro individual contrasta frontalmente com o descuido em relação ao futuro coletivo que imaginamos sempre garantido e garantido para sempre. Há que eliminar este contraste para que as gerações futuras tenham direito ao seu presente.

     

    Boaventura de Sousa Santos 

    Observatório sobre Crises e Alternativas
    Centro de Estudos Sociais
    da Universidade de Coimbra
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