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    Enquanto elemento fundador da liberdade pessoal na sua relação com todas as formas de organização coletiva, o individualismo é frequentemente defendido como um valor positivo. Partindo do pressuposto segundo o qual do esforço do indivíduo resulta a criação de bens – materiais e imateriais – que beneficiam toda a comunidade, é também valorizado na organização económica e social. Pensar o individualismo obriga a articulá-lo com o contrato social, com origem em Hobbes, Locke e Rosseau, que pressupõe a renúncia a um certo grau de liberdade individual em troca de direitos jurídicos, de proteção do indivíduo e da propriedade privada. Sendo, na origem, politicamente um conceito emancipatório, no entanto, o individualismo não deixa de ter implicações éticas na relação interpessoal.

    A década de 1980 viu o triunfo de um hiperindividualismo egocêntrico e mesmo narcísico que se traduz em fenómenos tão diversos como o culto do corpo e o neoliberalismo económico. Nessa mesma década, Pateman denuncia o contrato social como um falso consenso que esconde relações de dominação e subordinação – que atingem particularmente as mulheres e os mais pobres –, hipótese mais tarde alargada como o perigo do “contrato da indiferença mútua” (Geras), que coloca a questão no campo da ética.

    Uma crise económica é acompanhada por uma crise de caráter moral, visível nos discursos sobre “perda de valores”. Perdida a matriz de referência ética, práticas que já eram comuns mas se ocultavam sob uma retórica socialmente aceitável passam a ser assumidas e mesmo incentivadas: instala-se o darwinismo social, uma guerra de todos contra todos, que responsabiliza os excluídos pela sua exclusão e premeia os mais implacáveis pelo triunfo a qualquer preço. Etimologicamente, “crise” significa “momento de decisão”, “mudança súbita”; assim, a anunciada iminência do fim dos valores é uma oportunidade para pensar uma forma de estar do indivíduo na organização social que proteja a liberdade – de pensar e de agir individualmente –, mas não conduza à indiferença. Pelo contrário: que inclua a responsabilidade perante o (outro) humano e a obrigação da solidariedade.

     

    Adriana Bebiano 

    Observatório sobre Crises e Alternativas
    Centro de Estudos Sociais
    da Universidade de Coimbra
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