A insegurança é um dos temas centrais das atuais narrativas urbanas, com eco nos meios de comunicação social, nos debates políticos e académicos e nas conversas quotidianas. Em contextos de crise económica e social – marcados por incertezas e vulnerabilidades –, ganha dimensões e contornos especiais, acentuando-se a sua utilização enquanto instrumento de controlo e de estigmatização. Por insegurança entende-se a inexistência, em termos objetivos, de condições que garantam o bem-estar físico, económico, social e político dos indivíduos e das comunidades ou, em termos subjetivos, o receio de que este bem-estar possa ser posto em causa. O sentimento de insegurança resulta, assim, de uma combinação de vários fatores, entre os quais a experiência de vitimização direta ou próxima, o grau de solidariedade existente nas comunidades ou a proximidade geográfica a locais marcados pela exclusão social e disparidades socioeconómicas e culturais.
As mensagens e imagens veiculadas pelos meios de comunicação social desempenham neste contexto um papel importante, no sentido em que alimentam um imaginário coletivo que frequentemente responsabiliza determinados grupos sociais (imigrantes, jovens, desempregados, etc.) pela insegurança. Não sendo, na maioria das vezes, realidades sincrónicas, o sentimento de insegurança e a insegurança “real” têm consequências diretas no dia-a-dia das pessoas, visíveis, por exemplo, na implementação de estratégias e ações privadas de autoproteção em consequência, muitas vezes, do não cumprimento das expectativas de proteção dos cidadãos por parte do Estado.
O conceito de (in)segurança foi acoplando à sua dimensão militar/estatocêntrica inicial outras preocupações – saúde, alimentação, ambiente, cultura, direitos, etc. –, sintetizadas no conceito de (in)segurança humana. Nos últimos anos, verifica-se um retrocesso neste caminho. A prioridade dada à chamada indústria da segurança em detrimento das políticas sociais é claramente prova disso.
Katia Cardoso