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CES Winter School

Resistências anticoloniais e racismo institucional

10 a 13 de novembro de 2022

Centro Cultural ESPACIO AFRO (C/ Cáceres, 49), Madrid [Espanha]

Apresentação

[versión en español]


A Escola de Inverno “Resistências anticoloniais e racismo institucional” pretende proporcionar um espaço de debate transdisciplinar e transnacional sobre o (anti-)racismo e seus diversos desdobramentos nos contextos latino-americanos e europeus a partir de metodologias participativas.

O principal objetivo da Escola é oferecer a possibilidade de relacionar diferentes contextos para refletir e visibilizar dinâmicas cotidianas e práticas institucionalizadas do racismo na contemporaneidade. Mais especificamente, os seminários de discussão e as oficinas participativas propõem, por um lado, ampliar o debate sobre racismo e antirracismo para além das reflexões limitadas às fronteiras nacionais sem, no entretanto, forjar “novos universalismos” desconectados dos contextos históricos; e, por outro lado, oferecer aos participantes a possibilidade de debater acerca de concepções e categorias essencializadoras que terminam por hierarquizar e desistoricizar a (re)produção do racismo como estrutura de opressão moderna que atravessa e conecta estado-nações e entidades supranacionais (e.g. a União Europeia).

Partimos da constatação de que a negação do racismo enquanto sistema de opressão vigente nas democracias atuais, seja na Europa “sem raça”, seja na América Latina da “democracia racial”, ainda define os discursos políticos, mediáticos, acadêmicos e de alguns movimentos sociais. Desse modo, A Escola de Inverno “Resistências anticoloniais e racismo institucional” priorizará dois eixos de discussão: a produção acadêmica sobre as dinâmicas atuais de reprodução do racismo e as lutas travadas pelos movimentos sociais no enfrentamento ao racismo. Assim, pretendemos que a escola seja um espaço de diálogo que recentre a importância dos debates gerados no e pelos movimentos antirracistas no que diz respeito a demanda pela centralidade das categorias analíticas e políticas de “raça” e “racismo”, assim como os desafios apresentados pelas visões desde o Afropessimismo/ a antinegritude na compreensão das dinâmicas atuais de exclusão, violência e morte assim como as denúncias dos regimes de negação.

A Escola irá focar nas tensões que atravessam a relação entre academia e movimentos antirracistas com o intuito de gerar reflexões que desafiem as narrativas e lógicas raciais que estruturam as políticas públicas (ex. na área da segurança interna e urbana; no ensino superior), as normativas e legislações antidiscriminação, a produção do conhecimento e as lutas políticas. Para tal, a Escola funcionará a partir de seminários no período da manhã e de oficinas no período da tarde que serão mediadas pelo corpo de investigadores que compõem a equipa do projeto de investigação POLITICS. Pretendemos que o debate surgido nas exposições no período da manhã com convidadas e convidados com reconhecida experiência na discussão, possa fomentar reflexões, críticas e ponderações nas oficinas participativas. Aproveitaremos a oportunidade também para apresentar alguns resultados preliminares da pesquisa em desenvolvimento no âmbito do projeto POLITICS.

A Escola foge dos debates abstratos e tenta abordar a luta antirracista como um projeto político em confronto aberto com os legados coloniais e as atuais estruturas de poder instaladas nas lógicas da modernidade europeia, prestando especial atenção às várias maneiras pelas quais os movimentos de resistência anticolonial continuam sendo enfrentados hoje. Para tal, o debate será orientado a partir de três eixos centrais:

  • Narrativas nacionais sobre o racismo (circunscrito no estado Nação);
  • Normalidade versus excecionalidade do racismo;
  • Resistências anticoloniais e antirracismo político.

A proposta da Escola de Inverno “Resistências anticoloniais e racismo institucional” terá, portanto, como temáticas centrais: (pós)colonialismo, produção de conhecimento e memória social; gramáticas de dignidade humana e justiça racial; as lutas contra o racismo institucional e pensamento decolonial.


Área(s) temática(s)do curso: Anticiganismo, antinegritude; eurocentrismo e produção de conhecimento; estado racial, lutas legais, resistência, violência policial.
 

Investigadores responsáveis:

Silvia Maeso: srodrig@ces.uc.pt
Cayetano Fernandez: cayetanofernandez@ces.uc.pt
Danielle Pereira de Araújo: daniellearaujo@ces.uc.pt
Luana Coelho: luanacoelho@ces.uc.pt
Sebijan Fejzula: sebijanfejzula@ces.uc.pt


Público-alvo

Com o objetivo de ampliar o debate entre o movimento social antirracista e a academia, o público alvo a quem se destina esta Escola de Inverno são ativistas, membros de movimentos e/ou organizações antirracistas, pesquisadoras/es, estudantes, profissionais, e demais interessadas/os em dialogar sobre as dinâmicas atuais de reprodução do racismo e as lutas para seu enfrentamento.

A Escola de Inverno será gratuita, porém os interessados devem se inscrever previamente e enviar candidatura. A seleção será feita pelas investigadoras responsáveis a partir do interesse e pertinência das/dos candidatas/os relativamente aos objetivos da escola, priorizando uma equitativa participação de pessoas racializadas. A opção pela modalidade gratuita justifica-se pela escolha do público-alvo, visando garantir a igualdade de oportunidade e acesso entre distintos públicos, considerando as desigualdades históricas que se estruturam nas dinâmicas do racismo.

Línguas de trabalho: português e espanhol


[INSCRIÇÕES ENCERRADAS]
 

Curso organizado no âmbito do projeto POLITICS - A política de (anti)racismo na Europa e na América Latina: produção de conhecimento, decisão política e lutas coletivas  (financiado pelo ERC; bolsa nº 725402- POLITICS- ERC- 2016- COG), em colaboração com o Sindicato de Manteros de Madrid.

Contacto: Malick Gueye, porta-voz do Sindicato de Manteros de Madrid, um coletivo formado em 2010 para combater o racismo e para conseguir a descriminalização do seu modo de sobrevivência, a venda ambulante.

 

Programa

Dia 1 (10 novembro):

9h30 | Apresentação da Escola

10h-13h | Seminário: João Vargas: Antinegritude e abolição (haverá tradução em espanhol)

15h-19h | Oficina conduzida por Silvia Maeso (temáticas: racismo antinegro e anticiganismo e violência policial/violência de Estado. A luta no âmbito do direito e o ataque à luta antirracista desde o sistema de justiça, as instituições policiais e o Estado).

 

Dia 2 (11 novembro):

10h-13h | Seminário: Akwugo Emejulu: Unfeeling Solidarity: Untangling Emotions and Practical Action (haverá tradução em espanhol)

15h-19h | Oficina conduzida por Danielle Araújo e Cayetano Fernandez (temáticas: produção de conhecimento, universidade, racismo. O debate ocorrerá por meio de grupos de trabalho que discutirão as lutas dos movimentos sociais no âmbito da universidade e fora dela pela transformação política no âmbito do ensino e produção de conhecimento).

 

Dia 3 (12 novembro):

10h-13h | Seminário: Houria Bouteldja: Antiracisme politique et organisation autonome (haverá tradução em espanhol)

15h-19h | Grupo de discussão com movimentos antirracistas do contexto português e espanhol, moderado por Sebijan Fejzula (temáticas: recolha de dados étnico-raciais e censos; políticas públicas antirracistas; lutas e alianças transnacionais; lutas legais).

 

Dia 4 (13 novembro):

10h-19h | Visita de estudo e grupo de discussão coordenado pelo Sindicato de Manteros de Madrid
(temáticas: mapas de existência e resistência na cidade; práticas de resistência frente ao racismo institucional e a violência policial).

 

Total horas: 30 horas

Corpo Docente

Silvia Rodríguez Maeso (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)
Doutora em Sociologia Política (Universidade do País Basco) e investigadora principal do CES, coordena o projeto POLITICS - “A política do (anti)racismo na Europa e na América Latina: produção de conhecimento, decisão política e lutas coletivas” (ERC, 2017-2022). O seu trabalho de investigação debruça-se nos âmbitos das teorias críticas sobre raça e (anti-)racismo e o pensamento decolonial, com ênfase na análise da relação entre poder e produção de conhecimento, políticas públicas e discurso socio-legal. Atualmente desenvolve a sua investigação em projetos colaborativos sobre racialização e segregação residencial, violência policial e políticas públicas em contextos europeus e latino-americanos.

João Vargas (University of California / San Diego)
Doutor e professor de Antropologia na University of California - Riverside. Suas publicações incluem Catching Hell in the City of Angels (2006), Never Meant to Survive (2008), State of White Supremacy, coeditado por Moon-Kie Jung e Eduardo Bonilla-Silva (2011), e The Denial of Antiblackness. Multiracial Redemption and Black Suffering (2018). Seu trabalho escrito é o resultado do engajamento de indivíduos e coletivos no combate à negritude de gênero. Ele se baseia em projetos colaborativos no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador (no Brasil), e em Austin e Los Angeles (nos Estados Unidos). Os projetos se concentram e tentam propor alternativas para a dinâmica atual de morte social e morte física precoce por causas evitáveis. Essa dinâmica inclui a prisão de jovens e adultos, policiamento repressivo, escolaridade punitiva, híper segregação residencial, exposição a riscos ambientais e acesso bloqueado a cuidados de saúde e bem-estar. Explorando a possibilidade e os termos da colaboração entre negros e não-negros, os projetos visam contribuir para imaginação e prática de mundos onde as vidas negras sejam possíveis.

Danielle Pereira de Araújo (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)
Doutora em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas São Paulo (Brasil). Atualmente é investigadora em pós-doutoramento no projeto POLITICS, sediado no Centro de Estudos Sociais. É integrante do Núcleo Antirracista de Coimbra e da Coletiva Corpos Insubmissos. Tem interesses nos temas sobre políticas afirmativas, currículos universitários, antirracismo. Integrantes da Coletiva Corpos Insubmissos e do Núcleo Antirracista de Coimbra.

Luana Xavier Pinto Coelho (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)
Doutoranda em Direitos humanos e investigadora júnior no projeto POLITICS. Graduada em Direito (2005) e mestre em Desenvolvimento Urbano (2011). Atuou como advogada popular junto a movimento sociais urbanos e é conselheira da organização de Direitos Humanos Terra de Direitos (Brasil). Atualmente constrói o Núcleo Antirracista de Coimbra (Portugal).

Cayetano Fernández  (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)
Investigador júnior no Centro de Estudos Sociais (CES), atualmente integrado no projeto POLITICS. Tem trabalhado em várias investigações relacionadas com os ciganos em diferentes campos, como o acesso à educação, o processo de migração europeia, o papel histórico dos ciganos envolvidos na Guerra Civil Espanhola, e o estatuto contemporâneo da língua Cigana como construtor de identidade política entre os ciganos espanhóis. Atualmente está inscrito no Programa de Doutoramento “Direitos Humanos nas Sociedades Contemporâneas” na Universidade de Coimbra e o seu tema de investigação centra-se no racismo na Academia, em particular, no anti-ciganismo produzido no campo dos chamados Estudos Romanies. Anteriormente, como bolseiro de investigação, conduziu investigação no departamento de Estudos Nativos Americanos da Universidade Estadual de Montana (EUA) e no departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universidade da Europa Central (Hungria). Atualmente, faz parte da organização descolonial romani Kale Amenge, um projecto que visa ligar a produção de conhecimento e a luta contra o anticiganismo.

Sebijan Fejzula  (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)
Investigadora júnior no projecto POLÍTICS - A política do anti-racismo na Europa e América Latina: produção de conhecimento, tomada de decisões e lutas colectivas, particularmente na corrente de investigação “Combater o racismo quotidiano: respostas à prática policial e representações/falas racistas nos meios de comunicação social” no Centro de Estudos Sociais e estudante de PHD no programa de doutoramento Direitos Humanos na Sociedade Contemporânea, Universidade de Coimbra. Atualmente, Sebijan é um dos fundadores da Kale Amenge, uma organização descolonial cigana que visa produzir conhecimentos críticos e confrontar narrativas e práticas racistas contra o povo cigano.

Houria Bouteldja
É membro fundadora do Parti des Indigènes de la république (Partido dos indígenas da República), membro político decolonial radicada na França. Ela escreveu vários artigos teóricos ou estratégicos sobre feminismo decolonial, racismo, autonomia e alianças políticas, bem como artigos sobre sionismo e filosemitismo estatal. Ela é a autora com Sadri Khiari de Nous sommes les indigènes de la république (Edições Amsterdam) e With Whites, Jews, and Us. Toward a Politics of Revolutionary Love (Semiotext(e)).

Akwugo Emejulu (University of Warwick)
Professor of Sociology at the University of Warwick. Fellow of the Academy of Social Sciences, a co-editor of Politics, Groups and Identities and an inaugural winner of the Flax Foundation's Emma Goldman Prize. Her research interests include the political sociology of race, class and gender and women of colour’s grassroots activism in Europe and the United States. Her work has appeared in the Journal of Ethnic and Racial Studies, Politics & Gender, Race & Class and the European Journal of Women’s Studies. Her co-authored book, Minority Women and Austerity: Survival and Resistance in France and Britain (2017, Policy Press) and Fugitive Feminism (2021, Silver books).

Malick Gueye (Sindicato de Manteros)
Tem uma longa história de activismo contra o racismo e pelos direitos dos migrantes e é membro e um dos porta-vozes do colectivo Manteros em Madrid. Um colectivo formado em 2010 para combater o racismo e para conseguir a descriminalização do seu modo de sobrevivência, a venda de produtos nas ruas.

SOS Racismo PT e ESP/Grupo Amiafro-Teatro Oprimido Lisboa/ Campanha Por Outra Lei da Nacionalidade, Portugal/ Kale Amenge, Sindicato de Manteros/ Colectivo Ayllu [participantes a ser confirmadxs]
Um dos objetivos da escola de Inverno é aprofundar o debate entre as agendas dos coletivos antirracistas e a produção académica. Para tal, realizar-se-á uma mesa redonda na qual serão convidados coletivos como o SOS Racismo de Espanha y Portugal (uma organização que tem vindo a desenvolver trabalho de advocacia e contencioso antirracista desde os anos 90), Kale Amenge (uma organização política decolonial romani que trabalha para construir o anti-racismo político e a autonomia dos movimentos racializados), Sindicato de Manteros (uma organização de vendedores de rua que enfrenta o racismo antinegro) ou Colectivo Ayllu (uma organização que reúne migrantes de Abya Yala para combater o racismo institucional e a supremacia branca); representantes da Campanha Por outra Lei da Nacionalidade em Portugal que tem lutado pela mudança política da legislação portuguesa sobre acesso à nacionalidade e aberto a discussão sobre lei e racismo; uma representante do grupo do teatro do Oprimido de Lisboa que trabalha com jovens negrxs de bairros da periferia de Lisboa.

 

                

Apresentação Programa Corpo Docente