Coronavírus e o estigma social

O surto do novo coronavírus, e a sua célere propagação pelo globo, tem vindo a ser acompanhada de rótulos, estereótipos, juízos imediatos e atitudes discriminatórias, que associam a doença a determinado grupo de pessoas. Falamos, neste contexto, da existência de um estigma social, partilhado por tantos, no que diz respeito ao COVID-19.
Os Média, enquanto veículo privilegiado de disseminação de mensagens, acabam por atribuir papel secundário a quem está a sofrer o impacto do estigma social e/ou da própria doença. O que, por consequência, pode incorrer naquilo que estamos a assistir, através de uma “infodemia” (ou seja, desinformação). Quer isto dizer que as populações começam a ser (e estar) mais reactivas ao que é noticiado, em vez de se manterem atentas e hipervigilantes aos factos científicos, propriamente ditos, que rodeiam a questão.
Deste modo, pode afirmar-se que os Média são uma ferramenta que pode contribuir para a estigmatização social - potenciando a não procura de ajuda diferenciada caso a pessoa esteja doente; reduzindo-lhe a percepção de controlo sobre a sua vida; isolando-a socialmente; e, consequentemente, contribuindo para a manutenção/agravamento do problema (que além de saúde física, passa a ser, também, de saúde mental). Como em tudo, também há o revez, visto que os Média podem ser os melhores auxiliadores dos governantes e das populações - desde que devidamente informados!
Na comunicação de crise, tanto oral, como escrita, a forma como a mensagem é veiculada para quem está em sofrimento, tem de ser muito bem pensada, ponderada, com evidências técnicas, mas linguagem acessível, e não recorrendo a "fórmulas mágicas" de “como alguém conseguiu superar a situação de excepção”.
Quando o estado de vulnerabilidade é maior, as palavras assumem mais peso - daí que, a linguagem tem de respeitar e empoderar as pessoas, colocando-as em primeiro plano.
As palavras escolhidas modulam a mensagem e o modo como ela é interpretada - se considerarmos que o receptor está fragilizado, mais focado ele está nos aspectos negativos. Daí o cuidado adicional que deve estar na mente de quem comunica (formal ou informalmente) com as populações, em momentos críticos.
Uma vez mais, há “palavras proibidas” na comunicação em situações de crise - os Média, os profissionais de primeira linha, têm de estar sensibilizados para o efeito e capacitados para uma resposta mais ajustada às necessidades de quem se encontra em vulnerabilidade (física e mental).
Assim, de forma a sensibilizar a população e desconstruir estigmas, o Centro de Trauma partilha um guia de orientações, criado pela Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
Susana Gouveia, investigadora associada do Centro de Trauma