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Ciclo de Cine

 

Apresentação

Na noite de 22 de dezembro de 1988, uma semana após completar 44 anos de idade, Chico Mendes foi alvejado na porta de sua casa por um tiro de espingarda no peito. A tocaia foi armada pelo fazendeiro Darly Alves e executada por seu filho, Darcy. O motivo da morte por encomenda foi a disputa pelo Seringal Cachoeira, que Darly queria transformar em fazenda, expulsar os seringueiros e desmatar a floresta. Porém, o que estava por trás do crime era a destruição da Amazônia. Chico Mendes representava e a resistência dos povos da floresta, as lutas sociais e a defesa ecológica das populações que ele, como poucos, soube organizar e liderar.

O assassinato de Chico Mendes a mando do fazendeiro Darly Alves, representante da então União Democrática Ruralista (UDR), entidade de classe dos grandes latifundiários (hoje representada pela Confederação Nacional da Agricultura, CNA), provocou uma imensa repercussão internacional. Ambos, pai e filho, foram condenados a 19 anos de prisão, cujas penas que já foram cumpridas.

Chico Mendes foi um dos mais influentes ambientalistas de sua época, um dos fundadores do PT e o ideólogo das "reservas extrativistas", na qual a população local que habitava a floresta teria o direito de manter seu modo de vida. "A reserva extrativista é a reforma agrária do seringueiro", ele dizia. Suas ideias giraram o mundo e inspiraram diversas lutas sociais. Chico Mendes havia conseguido interromper o financiamento do Banco Interamericano para a Ditadura no Brasil construir estradas, mostrando que o benefício atingia apenas uma pequena elite, provocando violência e destruição ambiental.

Nos últimos dois anos de uma brilhante trajetória política, que havia iniciado com a alfabetização pelo militante comunista Euclides Távora, refugiado na Amazônia, e a organização do sindicato dos seringueiros, o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Chico Mendes foi acompanhado pelo documentarista inglês Adrian Cowell e o câmera Vicente Rios, até o dia do seu trágico assassinato. O resultado foi o filme "Chico Mendes: eu quero viver", obra que abre a mostra cinematográfica, que será apresentada e debatida por Rios.

Chico Mendes era um ecologista em defesa da Amazônia assim como Ken Saro Wiwa foi na Nigéria, como Wangari Maathai é ainda hoje no Quênia, ou como anônimos produtores familiares o são no interior da África ou do estado do Pará, na Amazônia brasileira. Na mostra, serão apresentadas a conexão dessas histórias de luta, as trajetórias de vida de "outros Chico Mendes", do ecologismo popular e da luta social por justiça ecológica.

Outros chicos

A mostra tem início no Teatro da Cerca de S. Bernardo com o filme "Chico Mendes: eu quero viver", do documentarista britânico Adrian Cowell, apresentada e debatida com o câmera, co-produtor e co-diretor Vicente Rios. Na sequencia, será apresentado o filme "Delta Force", de Glen Ellis, outro documentarista britânico, sobre a disputa entre o povo Ogoni e a petroleira Shell na Nigéria, que culminou com a execução do Ogoni líder Ken Saro Wiwa junto de outros oito ativistas.

No segundo dia, na Casa das Caldeiras, serão apresentadas e debatidas outras lutas ecológicas ao redor do mundo. A premiada documentarista canadense Amy Miller ira apresentar e debate o recém concluído No Land, No Food, No Life, sobre a grande grilagem de terras na África. Está será uma apresentação excepcional do filme, cuja World Première aconteceu recentemente no Vancouver International Film Festival. Informações sobre ele nesse website: http://nolandnofoodnolife.com/ Amy Miller, que também dirigiu Carbon Rush, debatera com o público os conflitos ambientais que registra em seus trabalhos ao redor do mundo.

Violências contra ecologistas

Hoje, 25 anos após a morte de Chico Mendes, a América Latina continua a ser região mais violenta do mundo em termos de assassinatos de ecologistas, de acordo com a organização Global Witness. Segundo dados divulgados em um estudo recente, entre 2002 e 2012 ocorreram 711 mortes em 34 países, como Indonésia, Camboja ou Quénia. De todas essas mortes, 592 ocorreram apenas na América Latina, sendo 365 assassinatos no Brasil.

O objetivo não se restringe, no entanto, a abordar o tema da violência física contra ecologistas, mas apresentar filmes que provoquem um debate sobre a dinâmica das lutas ecológicas na atualidade, com temas como por exemplo o acesso a recursos naturais e a participação das populações locais no debate sobre projetos que impactem seus modos de vida.

Ecologia e Lutas Sociais inclui uma parceira do Centro de Estudos Sociais com o Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), da PUC de Goiás, onde estão arquivados os filmes e fotografias de Adrian Cowell, realizados ao longo de mais de 50 anos, sobre a Amazônia. Informações sobre o arquivo "História da Amazônia: 50 Anos de Memória Audiovisual" pode ser acessadas no website: http://imagensamazonia.pucgoias.edu.br/

Esta mostra integra a programação paralela do IV Colóquio Internacional de Doutorandos/as do CES - Coimbra C: Dialogar com os Tempos e os Lugares do(s) Mundo(s).

Organização: Centro de Estudos Sociais (CES), Oficina Ecologia e Sociedade e European Network of Political Ecology – Entitle (em parceria com: IGPA/PUC-GO)