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Emancipação social e novo internacionalismo operário: uma perspectiva do Sul
Edward Webster e Rob Lambert - África do Sul

Este capítulo aborda a ideia de novo internacionalismo operário através de um estudo de caso detalhado sobre uma rede de sindicatos independentes do Sul. Apesar de a ideia de internacionalismo operário não ser nova, demonstra-se neste capítulo que a era actual de globalização neoliberal produziu efeitos contraditórios. Por um lado, o comércio livre global intensificou a competição entre trabalhadores ao mesmo tempo que o ciberespaço aumentou a capacidade das empresas explorarem as diferenças entre padrões laborais regionais e nacionais. Por outro lado, o capítulo mostra que estas transformações também criaram um novo horizonte de oportunidades para a emergência de movimentos globais de resistência. Debruça-se sobre um movimento específico: o surgimento da Iniciativa do Sul sobre Globalização e Direitos Sindicais (Southern Initiative on Globalisation and Trade Union Rights (SIGTUR).

A SIGTUR é uma organização-rede que é conduzida por movimentos laborais democráticos no Sul (Este, Sudeste, Sul Asiático, Austrália e Nova Zelândia, Sul Africano, Brasil). Significativamente, a nova formação é uma resposta à desregulação económica radical que assaltou a Austrália nos anos 80. Os líderes laborais australianos estavam conscientes do impacto potencial que a recusa de direitos sindicais democráticos no Sul teria em movimentos laborais fortes como o australiano, no contexto de um regime de comércio livre global.

Na sua essência, o capítulo explora o potencial da SIGTUR na luta por emancipação social em condições de globalização. Tal projecto desafia a visão mercantil da pessoa humana na sociedade. Nesta visão, a pessoa é reduzida a um ser económico competitivo e individualista, sem um sentido mais amplo de cidadania, de ser moral e de relações morais. A emancipação social procura reivindicar uma humanidade integral, um ser social ligado à sociedade e lutando pela sua transformação. Esta concepção de emancipação social tem o potencial de reinventar o movimento laboral, o qual, em grande medida, perdeu uma perspectiva emancipatória. Esta perspectiva é a procura de uma alternativa para a reestruturação do trabalho em condições de globalização, afirmando a primazia da justiça social, da igualdade e da liberdade em oposição à crescente desigualdade e à intensificação da exploração dos trabalhadores.

O capítulo expõe as características de Janus da globalização. O ciberespaço consolidou o poder das empresas multinacionais, Estados nacionais e novas instituições de governação global contra um projecto emancipatório ao mesmo tempo que criou espaço para a emergência de movimentos globais. É criticada a tese de Manuel Castells na sua obra sobre o milénio, onde argumenta que o novo capitalismo de rede levou à "ultrapassagem histórica" do movimento laboral. Argumenta-se que Castells contrapõe erroneamente o velho e o novo. Na perspectiva deste capítulo, a SIGTUR é um exemplo de como o potencial emancipatório dos movimentos apenas é concretizado quando o novo está enraizado no velho e transforma-o. O capítulo termina com exemplos de tipos de resistência que a SIGTUR gerou, ilustrando assim a crítica a Castells.

 
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