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"Quando não há problemas, estamos de boa saúde, sem azar nem nada": para uma concepção emancipatória da saúde e das medicinas
Maria Paula G. Meneses - Moçambique

O questionar da relação dicotómica entre saberes locais e globais, vistos através do prisma da interacção entre a medicina "tradicional" e outros espaços de produção de saber médico é o foco principal de análise deste capítulo.

Frequentemente o discurso sobre "conhecimentos rivais" apresenta os sistemas de conhecimento modernos, como o caso da biomedicina, como formas globalizadas de imposição de saberes. Como consequência, "outras" formas de produção de saúde são desclassificadas como localismos, como é o caso da medicina tradicional. A hipótese alternativa discutida neste capítulo está centrada no argumento de que as formas e as práticas de saber ditas "tradicionais" detêm realmente um estatuto de saber legítimo, reafirmado quer pela extrema vitalidade destes terapêutas, quer pela crescente frequência de pacientes, inclusivé em ambiente urbano.

O trabalho realizado permitiu detectar o desenvolver de uma hibridização médica em Moçambique, a qual inclui o modelo médico moderno, criando mesmo espaço para a sua actuação. Este sistema híbrido é exemplo de uma coexistência, no campo social, entre as instituições terapêuticas que tratam o mal, quando em simultâneo tratam a sociedade, sejam estes tratamentos para garantir a reprodução e a manutenção da ordem, sejam para a sua perturbação. A constelação de saberes distintos que se vai constituindo entre as várias realidades terapeuticas possibilita um reforço da sua actuação e, em simultâneo, um maior controle mutuo. Este mosaico de conhecimentos emerge como garante da permanencia de um diálogo aberto e em construção, como forma de exercício democrático, o que lhe atribui a sua qualidade emancipatória.

 
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