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Fantasmas que assombram os sindicatos: mulheres sindicalistas e as lutas pela afirmação dos seus direitos, Moçambique, 1993-2000
Maria José Arthur - Moçambique

Este capítulo analisa a luta das mulheres sindicalistas pela afirmação dos seus direitos no interior do movimento sindical de Moçambique durante a década de noventa. Nas duas centrais sindicais, os discursos e as práticas que definem e orientam a acção dos Comités da Mulher Trabalhadora revelam uma grande homogeneidade e, simultaneamente, um isolamento em relação ao debate sobre a necessidade de democratização interna. Os discursos sobre a participação das mulheres e sobre os direitos das trabalhadoras são igualmente conservadores e, sem contestar o princípio abstracto da igualdade, (re)criam a diferença entre os géneros que legitima as práticas discriminatórias e devem ser lidos em dois registos um público e outro interno. A articulação dos dois discursos repousa no sentido implícito que lhe é dado: a situação ideal que se quer alcançar e a situação concreta que se tem que tomar em consideração para se atingirem os propósitos definidos. Fundados neste raciocínio, são múltiplos e mais ou menos abertos os sistemas postos em prática pelas direcções dos sindicatos para controlar a actividade dos Comités. A tendência geral que se configura é de manter a exclusão das mulheres dos centros de decisão nos sindicatos.

Entretanto, as mulheres sindicalistas não têm todas as mesmas posições e, se solidariedade existe, há igualmente conflitos e rivalidades que dividem as militantes. Através do percurso de três sindicalistas, verifica-se que elas se reconhecem como diferentes, embora este reconhecimento nem sempre implique uma valorização das características consideradas femininas. Os discursos e as estratégias vão desde a aceitação da tutela masculina e da aplicação dos modelos dominantes de organização e de gestão dos sindicatos aos Comités, à apologia da solidariedade, construída com base nessa diferença, que por sua vez deve ser valorizada e materializada na prática dos Comités. Lutando para impor os seus direitos, várias são as vias encontradas pelas sindicalistas. Aceitando ou recusando os modelos impostos, a contestação à dominação masculina no sindicato toma a forma de reivindicações pela cidadania.

 
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