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Prática médica marginalizada: a marginalização e transformação das medicinas indígenas na África do Sul
Thokozani Xaba - África do Sul

A colisão das práticas culturais africanas com a civilização moderna (representada pela medicina "científica") teve um impacto avassalador e duradouro na saúde e vida africanas. Apesar da base da medicina "científica" na civilização moderna ser enformada pela razão, racionalidade e criatividade, a sua predominância levou, todavia, a práticas irrazoáveis. Os seus praticantes acreditavam nela e praticavam-na como uma religião e o seu dogmatismo cegou-os para o valor das práticas indígenas. Porque as práticas indígenas competiam com a medicina "científica", os praticantes desta apelaram à ajuda dos seus aliados na Igreja e no governo para a supressão e eliminação das medicinas indígenas.

Este capítulo defende que, apesar de as tentativas de marginalização terem conseguido algum sucesso, enfrentaram também alguma resistência. A resistência surgiu sob a forma de recusa das pessoas em serem convertidas ou através da adulteração da mensagem cristã com práticas culturais e religiosas africanas. O que contribuiu, em grande medida, para uma resistência bem-sucedida foi a ausência de resposta das instituições estatais às necessidades dos africanos, bem como as suas condições sócio-económicas destes.

Todavia, de meados dos anos 80 a meados dos anos 90, a proeminência do lado negro da prática de medecina indígena levou a invocações de proscrição por "feitiçaria". Uma resposta a tais invocações foi um outro apelo à "normalização" da prática médica indígena. Porém, era improvável que tal "normalização" tivesse sucesso em trazer essa prática para o campo dos cuidados de saúde convencionais, uma vez que não apenas foi baseada num velho entendimento da prática médica indígena - pelo que não deu conta das suas transformações e mercadorização - como também foi precedida da sujeição dos praticantes médicos indígenas e das suas práticas a testes "científicos".

Por conseguinte, defende este capítulo, a emancipação médica dos africanos em relação ao sofrimento desnecessário será concretizada quando a prática médica indígena for reconhecida e aceite enquanto forma de ajuda médica por si própria. Tal reconhecimento deverá incluir o estabelecimento e apoio das instituições e instalações necessárias para a prática médica indígena. A emancipação social dos africanos será assegurada quando for permitido que as suas práticas culturais prosperem e sejam úteis se e quando os africanos o quiserem.

 
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