A qualidade de vida urbana só pode ser pensada em articulação com a questão da cidade e com todo o leque de preocupações de ordem ambiental, económica e energética que prevalecem no mundo contemporâneo. Hoje em dia, é por de mais evidente que as cidades compactas se assumem, com vantagem, como alternativa sustentável ao crescimento difuso. Podem ser enunciados dados relativos a essa vantagem, ora no que diz respeito a encargos com infraestruturação, ora com mobilidade, ora com dispêndio energético em bens de utilização comum. A investigação sobre as questões da sustentabilidade em arquitetura tem incidido, quase exclusivamente, no modo como as edificações se comportam perante as condições climáticas, tentando, através das ciências da construção, desenvolver os saberes acerca da otimização energética do espaço edificado. Têm sido subestimados, de forma evidente, todos os temas que incidem sobre a otimização urbana e sobre o papel da organização do território no conjunto das preocupações de ordem energética.
Tomando como ponto de partida o constatado esvaziamento dos centros urbanos, há que enfrentar com determinação as medidas de inversão do processo, com ganhos para o ambiente, para os equilíbrios energético e económico e para a qualidade do espaço vivido. As queixas e constatações acerca do fenómeno de esvaziamento dos centros são muitas e muito pertinentes, mas a verdade é que o paradigma urbanístico que rege a totalidade dos instrumentos de planeamento é, ainda e sempre, o da desdensificação. Herdados da problemática da insalubridade do século XIX, e desenvolvidos através da cruzada moralizadora do Movimento Moderno, os princípios que regulam contemporaneamente o ordenamento do território, na maior parte dos países, balizam-se ainda pela necessidade de controlar a densidade por baixo. Por outro lado, a arquitetura e, sobretudo, os seus desenvolvimentos mais recentes têm-nos provado, à saciedade, que é possível e, por vezes, mesmo desejável edificar densidade com qualidade.
Aproveitar a crise para redensificar os centros das cidades com habitação e equipamentos a custos controlados, reabilitando edificações existentes e construindo nos vazios urbanos pode constituir um meio sustentável de requalificar a vida e de devolver à cidade a população que, ao longo das últimas décadas, foi sendo expulsa pela ação da especulação imobiliária.
José António Bandeirinha