O povo diz, “quem a tem chama-lhe sua”. Os poetas falam de “liberdade livre”, que não quer saber de direitos nem deveres. A liberdade é relativa, múltipla e difícil. Liberdade de pensamento, liberdade de expressão, liberdade de imaginação, liberdade de criação, liberdade de culto, liberdade de movimentos, liberdade de associação, liberdade de produção, liberdade de consumo. O dia-a-dia nos ensina que a liberdade anda sempre de mãos dadas com a crise. A liberdade implica a responsabilidade de julgar e decidir, que é o que significa o verbo grego de que deriva a palavra “crise”.
Em termos individuais, a liberdade de alguém começa e acaba na liberdade de outros; em termos colectivos, a liberdade depende das estruturas políticas, económicas e sociais das nações, e depende, em última análise, do sistema mundial. A liberdade exige democracia. A liberdade política no Portugal moderno nasceu da crise fundadora do 25 de Abril de 1974, e está agora a ser corroída pela presente crise económica e financeira.
A política, que funda a liberdade dos povos, deixou de ser relevante, e são os mercados financeiros que controlam hoje a existência dos países e das suas populações. Na Europa, mercados financeiros e Alemanha tendem a estar em sintonia, e é disso que as economias das chamadas periferias, como Portugal, estão cativas. Sem liberdade, não pode haver democracia, nem sequer em economia. E vice-versa. Como sempre, em tempos de crise, quem mais sofre são os mais pobres – crianças, mulheres, velhos e jovens. Aumenta o número dos sem-abrigo, e são cada vez mais as famílias a entregar as chaves das casas que deixaram de ter a liberdade de pagar.
Maria Irene Ramalho
Nota: A pedido da autora, esta entrada mantém a grafia anterior ao novo acordo ortográfico.