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Acção local dos cidadãos como meio de resistência contra a nova vaga de colonização mundial
Alberto Melo - Portugal

Este capítulo apresenta o relato de uma intensa experiência pessoal, desde 1985 até 1998, no lançamento e gestão quotidiana de um projecto de desenvolvimento local.

Em inícios dos anos 80, quando o trabalho começou, o desenvolvimento local surgia como um desvio que fazia sentido no contexto das contradições fundamentais e estratégicas da sociedade portuguesa, e a Serra do Caldeirão parecia particularmente adequada a esta abordagem. Trata-se de um território semi-montanhoso que forneceu a vida e o alimento necessários às pessoas que nele se estabeleceram desde tempos imemoriais e que, actualmente, é um dos inúmeros territórios rurais da Europa marginalizados e assinalados para extinção gradual por parte dos "macro-arquitectos" da economia moderna.

O Projecto RADIAL teve início em 1985. Quatro aldeias e os seus arredores rurais foram seleccionadas para acção imediata e três questões principais foram escolhidas como ponto de partida para desenvolvimento local integrado: cuidados à primeira infância, formação para o auto-emprego e apoio a associações locais. Foram convocados encontros locais e toda a população foi convidada a debater "o futuro das nossas crianças". Foi então tomada colectivamente a decisão de criar centros de aldeia que forneceriam cuidados pré-escolares e extra-escolares e actividades para as crianças locais. Em menos de um ano os quatro comités de aldeia foram formalmente constituídos como associações de nível paroquial, cada uma responsabilizada pela gestão de um novo centro.

Ao mesmo tempo foram lançados, nas mesmas aldeias, cursos de formação para o auto-emprego. Como resultado, em 1989-91, foram criadas 7 unidades produtivas de aldeia, fornecendo assim uma ocupação remunerada independente para as 50 mulheres envolvidas. Aqui, tal como em várias outras oficinas, cada produto, fosse ele uma peça de artesanato ou produto alimentar, não é apenas um item para ser vendido, é igualmente a expressão de uma cultura, de uma sociedade local, e da determinação dos produtores e suas famílias de viver e trabalhar num território à sua escolha.

Em 1988, um ramo do Projecto RADIAL original, a associação "In Loco", foi formalmente constituída por 12 membros fundadores. Foi criada como associação de indivíduos não lucrativa, de cidadãos preocupados com o desenvolvimento errado do mundo, como um todo, e do interior rural do Algarve, em particular.

Uma nova fase teve início em 1992, quando a "In Loco" foi convidada pelo Ministério da agricultura português para desenhar um "plano de acção local" como parte de uma fase preparatória da Iniciativa europeia LEADER. Assim, a "In Loco" poderia finalmente garantir os meios necessários - humanos e materiais - para procurar prosseguir uma estratégia coerente de desenvolvimento local integrado. Os tempos poderão estar maduros para a "In Loco" avançar mais em direcção a estruturas locais e procedimentos de decisão mais participativos e fortalecedores.

Obviamente, o futuro desta evolução dependerá sempre dos contextos globais, políticos e institucionais que moldam a relação entre os poderes políticos formais nos seus diferentes níveis, e as organizações cívicas e solidárias (OCS).

 
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