Narrativas Privadas

Definimos como participantes do estudo homens e mulheres portugueses nascidos entre 1960 e 1985, e os respectivos pais e mães. Totalizámos 223 entrevistas com “filhos da guerra” de todo o país, de entre um total de 465 participantes. Juntamente com as entrevistas cedidas pelos seus pais, compilámos um arquivo de história oral significativo sobre a experiência portuguesa nesta guerra.

Sendo a memória da Guerra Colonial e a sua pós-memória algo profundamente pessoal, complexo e fragmentado, a equipa optou por realizar entrevistas semi-estruturadas. Este método permite, por um lado, a aplicação regular de perguntas comuns a todos os participantes, e, por outro lado, oferece a necessária flexibilidade para adaptação do guião à diversidade de situações familiares, e para a elaboração mais alongada pelos entrevistados em alguns momentos, a não resposta a determinadas perguntas, ou a alteração da ordem das perguntas noutros momentos.

O guião utilizado com os “filhos da guerra” compôs-se de quatro partes:
1) percurso pessoal e familiar;
2) recolha das memórias dos filhos sobre o percurso do pai e da mãe durante os anos da guerra;
3) reflexão sobre o percurso dos pais naquela altura e as eventuais repercussões na família;
4) elaboração sobre a intersecção (possível) entre o percurso da sua família e a história portuguesa contemporânea.

Podemos concluir que a guerra passou para a segunda geração na proporção mais ou menos exacta em que marcou a família e sobretudo o pai. Daí que tenhamos casos de infâncias profundamente marcadas pela guerra, o que confere a estes filhos uma vulnerabilidade acrescida por exemplo em situações de stress ou conflito, e outras situações em que a guerra não passa de um episódio de família mais ou menos escondido no sótão das lembranças.