Novas Poéticas de Resistência: o século XXI em Portugal

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Miguel Monteiro




Mármore & Vitral

 

— was bleibet aber

 

 

estilhaços de uma mente misturada

com um segundo caos. se houvesse quem

me falasse

da torre de Hölderlin,

da cidade destruída. e sozinho sta.

pois caótica é a ordem até que das janelas

os vitrais brilhem com o Sol. a Grécia

é luz velha. colher flores;

adónises, que importa? o fogo do inferno

na aurora, calmo, tocou-me as pálpebras,

e o valor está na lei — aquilo que restará

não bastaria. é um vidro quebrado

que brilha no chão. A grécia

está longe, do arquipélago, temos os nomes da pléiade

apagada no céu. Nomes nus,

se à distância ainda brilham estilhaços

de belo vitral duma mente,

canto adoneus se

houvesse água duma fonte branca,

recusaria. star sozinho,

a memória do Éden, seja mentira.

é mentira a memória quebrada. Conta-se

que houve uma vez um homem

que se salvou a si próprio do pântano

que se puxou pelos próprios cabelos. E quem

não puxará o mais belo dos retornos? A Grécia

é difícil. cantarolar com uma língua

de fogo, o sonho derrete-se gelado e em luz.

 

 

eu digo um nome para dizer

o outro. o que é que eu fiz?

começa, vê quem te acompanha.

onde estão os teus amigos?

escavei uma palavra, podei-lhe a palavra,

corri a via negativa. no fundo

sta o divino vitral. mas

de que profundezas virás tu, Deus-Sol,

quando a neve nos cobre os narcisos

e as nuvens são a noite do mundo?

mas com relâmpagos se queimam retinas.

só há um remédio para os equinócios,

deus-da-Páscoa, cantar a beleza de Chartres,

sub-rosa suspiros fixar nas retinas

dos olhos dos mortos que vêem o nada, dos vivos

que vêem a luz

dos seus deuses e cegam,

que viram ideias no eco das rimas e cantam.
























Miguel Monteiro Sena nasce em Viseu no dia da morte de Samuel Beckett Estuda Estudos Clássicos e Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Acha que o Latim deveria ser uma língua viva Sofre dum caso patológico de filelenismo Casar-se-á com Nikos Kazantzakis É membro fundador da associação Origem da Comédia Mantém o blog Pedra da Ponte.

 


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